quarta-feira, 27 de abril de 2016

A solidão se apropria das multidões


Não sei se vai haver apocalipse. Mas está tudo muito embaralhado. No meio de tantos acasos, há silêncios de solidões. A virtualidade trama suas amizades. Todos se comunicam com afeto programado. Como ficar encostado na beira do abismo do desespero e da ansiedade? É difícil imaginar que houvesses tantos desamparos, que a psicanálise acumulasse clientes, que a sede consumista criasse decepções. Estão todos de armas na mão, com cartões de créditos especiais? Qualquer sinal de crise mais profunda abala quem adora namorar com os celulares e passear nos shoppings. Contam-se mercadorias com suas quantidades assombrosas. Vale o que a solidão imagina ou o que a droga celebra?
A solidão atual tem uma complexidade que atiça as idas às farmácias. Torna-se incompreensível para alguns, exibir-se lúcido. A solidão provoca apatias, conversa com interioridades mal resolvidas e termina pedindo com urgência remédios que produzam outros tempos mais animados. Amores contrariados, políticas duvidosas, jogos perdidos, desconfianças permanentes fragmentam identidades apressadas. Não adianta escutar as vozes, codificar as palavras. Onde mora o calor do corpo, a inquietação da paixão? As utopias tropeçam nas competições repletas de cinismo. Quem representa quem, se as identidades estão em busca dos desenhos perdidos num passado quase apagado?
Cada um busca superar estranhamentos. São objetos que fascinam e  se estragam. O reino da novidade comanda as relações. Vive-se do espetacular. Transa-se com as imagens. O mundo é vasto e exige leituras. Não se pode viver solto, estimulando aventuras constantes ou fantasiando tecnologias que levarão ao paraíso. O criador se cansa da criatura, opta por ficções, dispensa as verdades e mistura éticas. Existem possibilidades de se acreditar em um novo mundo? Não sei, porém em cada esquina há templos e as orações que cantam o poder do Senhor. O corpo se dobra para afirmar a fé, como as palavras se multiplicam para vestir a nudez dos mascarados fingidos.
Assim, a história se arrasta. A pressa é uma travessia de pedras. Não se engane com as relações automáticas. Pensar traz agitações e ânimos. Tudo dividido acaba com as profecias do futuro. Como criar mitos, recuperar a beleza de Vênus, as astúcias de Prometeu? Organiza-se o crime, organiza-se a torcida, organiza-se a votação. As soluções não seguem linhas visíveis e golpeiam em cada curva. Mais um motivo para que a solidão aumente seus adeptos. Os silêncios são íntimos, esperam que os arcanjos fixem transcendências.Especulações vencem, arquitetando inseguranças. Embrulhe sua agonia num papel e a deixe na última gaveta do armário. Levite. Por Paulo Rezende.

Professor Edgar Bom Jardim - PE

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