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quarta-feira, 24 de maio de 2017

5 segredos da felicidade, segundo o 'homem mais feliz do mundo'

O monge budista Matthieu Ricard é a "pessoa mais feliz do mundo".
Esse título foi dado por cientistas da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, que estudaram seu cérebro.
Eles descobriram que Ricard produz um nível de ondas cerebrais de gama sem precedentes na literatura científica.
Essas ondas estão ligadas à capacidade de atenção, consciência, aprendizado e memória.
Além disso, Ricard manifesta um nível de atividade no seu córtex pré-frontal esquerdo bem acima do direito, o que reduz sua propensão à negatividade, explicaram os pesquisadores.
“Felicidade não é a busca infinita por uma série de experiências prazerosas. Isso é uma receita para a exaustão”, diz o monge tibetano.
Mas qual é, na visão dele, o segredo para tanta felicidade? Aos 70 anos, Ricard dá cinco conselhos.

1. Defina o que é felicidade

“Felicidade é um jeito de ser. É um estado mental ótimo, excepcionalmente saudável, que dá a você os recursos para lidar com os altos e baixos da vida.”

2. Seja paciente

“Não seja como uma criança que faz pirraça. ‘Eu quero ser feliz agora’, isso não funciona. A fruta amadurece com paciência e vira uma fruta e uma geleia deliciosas. Você não pode fazer isso com uma fruta verde. Leva tempo cultivar todas aquelas qualidades humanas fundamentais que geram bem-estar.”

3. Saiba que você pode treinar sua mente

“O que você fizer vai mudar seu cérebro. Se você aprender malabarismo, a mergulhar ou a esquiar, seu cérebro vai mudar. Da mesma forma, se você treinar sua concentração, se você treinar para ter mais compaixão, se você treinar para ser mais altruísta, seu cérebro vai mudar, você será uma pessoa diferente. Todas essas habilidades podem ser aprendidas, assim como tocar piano ou jogar xadrez.”

4. Pratique pouco e com frequência

“É como quando você rega as plantas no seu apartamento. Você precisa regar um pouco todos os dias. Se você derramar um balde uma vez por mês, a planta vai morrer. É melhor fazer sessões curtas de meditação com frequência do que uma muito longa de tempos em tempos, porque o processo de neuroplasticidade não será ativado ou mantido.”

5. Não deixe o tédio desencorajá-lo

“Devemos perseverar, porque, às vezes, quando está chato é que uma mudança de verdade ocorre. A regularidade é uma das grandes dicas de meditação e treinamento mental para se tornar uma pessoa melhor, mais feliz e mais altruísta.”
Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 23 de maio de 2017

Vereadores debatem Pedido de Informação encaminhado ao prefeito João Lira sobre dinheiro do Precatório do FUNDEF

Dinheiro do FUNDEF vai beneficiar o município, professores e a economia local

Os vereadores Simonilson da Mata Ribeiro, Ana Nery, Roberto Lemos, Agenildo Marcos, Rufino Filho e José Gomes, apresentaram durante a sessão da Câmara dessa terça-feira (23), Pedido de Informação nº 33/2017 que solicita ao prefeito João Francisco de Lira (PSD), sobre o andamento da Ação de Execução em tramitação no Tribunal Regional Federal da 5ª Região, que trata da implantação do pagamento de Precatório, valores recebidos a menor, pelos professores municipais da folha FUNDEF 60 no período de vigência do mesmo.

Nos debates, o edil Simonilson Ribeiro, deu ênfase para o registro em Ata. O pedido foi assinado por diversos vereadores atendendo aos interesses dos professores, o vereador Roberto Lemos também reforçou a importância do documento, lembrou que professores motivados e valorizados, o ensino terá mais rendimento. Em aparte ao vereador Roberto Lemos, o Edil Lenilson Santos, se confundiu ao afirmar que esse dinheiro chegou aos cofres do Município ainda no ano passado, não sendo bem aplicado e merecia no seu entender a abertura de uma CPI para apurar a aplicação do recurso. Roberto Lemos, lembrou que os municípios do Brasil receberam os recursos da repatriação e foi pouco, só um  pouco mais de um milhão e que esse recurso do Fundef é outra coisa, e corresponde a mais de 14 milhões. Em nova fala Roberto Lemos cobrou atuação dos representantes dos professores para fazer o movimento em  cobrar seus direitos. 

O poder executivo deve cumprir o prazo máximo de 30 dias - contados a partir desta quarta-feira - para responder. Os vereadores querem saber qual a previsão para a efetivação do pagamento, qual o montante do numerário, como será organizado o pagamento para os professores conforme as folhas de pagamentos dos respectivos anos de vigência do Fundef.

CONVOCAÇÃO

O documento também sugere a realização de uma audiência com a participação das partes interessadas e o Ministério Publico.

VISITAÇÃO
Rufino Filho parabenizou a distribuição da merenda escolar em três escolas onde fez visita com colegas da bancada de oposição. Rufino também pediu melhor atenção para a falta de medicamentos em alguns postos de saúde. A vereadora Valéria Lira agradeceu a postura sincera  do vereador oposicionista. 
Foto do Arquivo.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 7 de maio de 2017

De faxineira a juíza, a história de uma mulher pobre e negra no Brasil



A  luz do quarto de Adriana Queiroz estava estava sempre acessa nas madrugadas. Ela trabalhava durante o dia, estudava às noites e rezava para que quem apenas a via como uma mulher negra, pobre e filha de analfabetos não quebrasse seu sonho. Adriana não queria ser o que os outros esperavam dela, ela queria ser juíza em um país onde a taxa de analfabetismo das mulheres negras (14%) mais que duplica a das brancas (5,8%), segundo o IBGE.
Adriana, com 38 anos, é hoje titular da 1ª Vara Cível e da Vara de Infância e da Juventude de Quirinópolis, em Goiás. Tem cinco pós-graduações, estuda Letras nas horas vagas, mas já foi faxineira. Ela teve que se esforçar muito mais que a maioria dos seus colegas de aula para vestir a toga. E conseguiu. Hoje conta suas conquistas em um livro que acabou de lançar, Dez passos para alcançar seus sonhos – A história real da ex-faxineira que se tornou juíza de direito.


Os pais de Adriana eram trabalhadores rurais no sertão da Bahia e se mudaram para Tupã, um município de 63.000 habitantes no interior de São Paulo, em busca de uma vida melhor. O orçamento familiar aumentou, o pai virou motorista de ônibus e a mãe vendedora ambulante, mas pagar uma faculdade era ainda um sonho de outra classe social. “A vida deles sempre foi muita dura. Meus pais sofreram muito, eles queriam me dar o que eles não alcançaram, mas não tinham condições. Ninguém na minha família tinha condições de me ajudar”, lembra a juíza em uma conversa por Skype.
A magistrada, que sempre estudou em escola pública, foi a terceira classificada no vestibular para cursar direito, mas a única faculdade de sua cidade era privada. Não tinha como pagar, muito menos como cogitar uma universidade pública em outra cidade. “Eu soube do resultado da prova numa sexta e, na segunda, já tinha que fazer a matricula ou perdia a vaga. Tive três dias para decidir o que fazer, ver se teria que abandonar”.
Ela resolveu, em seguida, pedir conselho e emprego a um professor da cidade. Ele, que trabalhava no corpo administrativo da Santa Casa, conseguiu uma vaga para ela na instituição. De faxineira. Adriana se orgulha daqueles seis meses que limpou o hospital, mas o salário mínimo que recebia não era suficiente para pagar a mensalidade da universidade e ainda ouvia chacota dos colegas. “Força nos braços, advogadinha!”, lhe gritavam. “Esse episódio é muito marcante para mim, justamente por esse preconceito de que alguém que exerce um cargo como eu exercia não possa sonhar alto”.
Faltavam horas para o prazo da matrícula expirar quando Adriana plantou-se na frente do diretor da faculdade. Compartilhou seu sonho de estudar. “Ele se sensibilizou e me concedeu uma bolsa de 50% e diluiu o valor da matrícula nas mensalidades. Assim, durante o dia trabalhava na limpeza e à noite ia estudar”.
Para espanto dos seus conhecidos e familiares, durante a faculdade, Adriana resolveu ser juíza. “Quando anunciei isso as pessoas ficaram espantadas. Não era comum no meu contexto almejar um cargo tão alto. É como se fosse algo inacreditável, faziam questão de frisar que eu era pobre e negra, como se não tivesse nenhuma chance”, lamenta. Decidida, em 2002, terminou os estudos, pediu demissão na Santa Casa, onde já tinha sido promovida ao corpo administrativo e guardou suas coisas em duas sacolas plásticas. Partia para a capital para se preparar. “Eu não tinha nem mala”, relata.
Após alugar um quartinho no bairro da Liberdade e se matricular no curso preparatório para o concurso da magistratura o dinheiro da conta dava para, no máximo, mais dois meses. “Foi um momento muito crítico, o dinheiro estava acabando e eu não tinha conseguido trabalho”, conta Adriana. “Eu me vi de novo nesse dilema de ter ou não que abandonar”. Não precisou. O diretor do curso, o procurador Damásio de Jesus, viu nela uma “pessoa incomum”.
“Logo à primeira vista, olhando nos olhos daquela jovem advogada de 24 anos, tive certeza de que estava diante uma lutadora, uma pessoa incomum, de alguém que, sem dúvida, estava fadada a um grande futuro”, destaca o jurista no prefácio do livro. Damásio ofereceu para ela uma bolsa de 100% do curso durante dois anos e a empregou na biblioteca da instituição. “Fiquei sete anos estudando, sábados, domingos e feriados. Quando as pessoas iam viajar, eu ficava na biblioteca. Depois de inúmeras reprovações, eu consegui. Em janeiro de 2011 passei o concurso e me tornei juíza em Goiânia”.
Caçula de seis irmãos, a única deles que tem ensino superior, Adriana quer motivar agora com o livro a todas as pessoas que, assim como ela, "sonham, mas estão desacreditadas”. “É possível romper os paradigmas sociais”, encoraja. “Eu, particularmente, não sofro racismo hoje. Mas sim vivencio a grande surpresa das pessoas quando me veem. Porque quando o advogado vai procurar o juiz, ele não espera encontrar alguém como eu. Eu não me importo. Eu fico feliz de ter quebrado esse paradigma”.
El País
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Campanhas pedem fraldas e alimentos para crianças com microcefalia

Iniciativa faz a diferença na vida de bebês como Maria Eduarda / Foto: Divulgação
Iniciativa faz a diferença na vida de bebês como Maria Eduarda
Foto: Divulgação
Editoria de Cidades

Para Mirian Pereira, 46 anos, mais difícil do que a rotina de fisioterapias da filha Maria Eduarda, de um ano e cinco meses, portadora de microcefalia, é arcar com os custos de fralda e alimentação sem ter tempo para trabalhar. A situação da doméstica traduz a realidade da maioria das famílias dos bebês afetados pela síndrome congênita do zika vírus no Estado. Para dar fôlego à luta diária dos pais, duas campanhas lançadas pela parceria entre sociedade civil e iniciativa privada irão arrecadar donativos específicos para as crianças com a má-formação durante o mês de maio.
Há dois meses, Jacyra Salsa, diretora social da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Olinda; Ana Sílvia Moutinho, diretora da Faculdade de Olinda (Focca) e Ricardo Borges, coordenador da Casa de Justiça e Cidadania do município, deram vida ao Projeto Anjos. O objetivo é prestar auxílio aos pais dos bebês com microcefalia em Pernambuco. A primeira campanha pretende arrecadar 5 mil pacotes de fraldas até o dia 20, para garantir um mês de tranquilidade a 700 famílias.
“A fralda tem um peso econômico muito grande, queremos oferecer alívio a essas pessoas”, justifica Ricardo. Os donativos nos tamanhos G e GG podem ser entregues em vários estabelecimentos parceiros do projeto. Em Olinda, todas as lojas O Boticário estarão recebendo doações, além da Focca, da CDL (na Praça 12 de Março) e do restaurante Oficina do Sabor. No Recife, é possível doar no Colégio Equipe, na Madalena, e na loja Ophicina, no Espinheiro. Doações a partir de 10 pacotes são recolhidas no domicílio do doador. Informações: (81) 98156-2223.
As fraldas serão entregues após palestras ministradas no dia 20 de maio na Focca. Para quem enfrenta os desafios da microcefalia, a ajuda é bem-vinda. “Representa muita coisa. Recebo o auxílio do governo para Duda, no valor de R$ 480, mas não dá conta das despesas”, lamenta Mirian.

ALIMENTAÇÃO

Pensando na dificuldade de alimentar crianças portadoras de microcefalia com o suplemento nutricional adequado, chamado Fortini, a cantora Nena Queiroga em parceria com o Espaço Velvet, salão em Boa Viagem, Zona Sul da capital, lançam nesta segunda-feira (8) uma campanha de arrecadação de leite.
“Vamos passar o mês recebendo doações. O Fortini é muito caro para as famílias. Cada lata custa, em média, R$ 40 e são consumidas duas por semana”, explica a cantora. Nena Queiroga conheceu as integrantes da União de Mãe de Anjos (UMA) em campanha realizada pelo governo estadual. Desde então, abraçou a causa das mães. “Fiquei encantada com as histórias, com a luta e o engajamento. Hoje, sou considerada madrinha da associação”, conta.
As doações devem ser entregues no salão, localizado na Rua Jack Ayres, 73. Para estimular a colaboração, todas as pessoas que doarem vão participar do sorteio de um tratamento capilar, escova, manicure e pedicure. “Acreditamos que muita gente já doaria apenas pela urgência e importância da causa, mas resolvemos dar uma forcinha a mais”, argumenta Rita Peixoto, diretora sócia do espaço.
Fonte:JC
Professor Edgar Bom Jardim - PE

quinta-feira, 4 de maio de 2017

O que sei é o que sei e você?

Não compartilho com a famosa afirmação de que o que sei é que nada sei. Sócrates tinha razões, vivia outros tempos, firmava suas confidências. Sei e vejo muitas coisas, embora não negue as fragilidades. Há interpretações múltiplas. Vagamos no meio de tantos conhecimentos. E as novidades das informações? Portanto, as certezas querem se manter, mas sofrem ataques contínuos. Temos referências e não destinos. Querem destruir o passado para apagar a história ou inventar desesperos? As disputas não cessarão, porque somos invejosos e não profetas de tudo. As suposições fazem parte do cotidiano.Disfarçamos com voos espetaculares e enganosos.
A viagem é longa. Desconhecer as origens é doloroso. Se o futuro transformará o mundo é um enigma. Tropeçamos, porém os perigos são imensos e alguns superáveis. É preciso não jogar com as palavras, sem mergulhar nos seus significados. Lembro-me dos sofistas. Gosto do relativismo. Não me sinto solto, sem nada para dizer. Busco me equilibrar. A felicidade aparece em momentos passageiros. Os desprazeres existem, o pessimismo se amplia, mas há risos, brincadeiras, coloridos, mares azuis, livros de Kundera. Quem não se envolve com paixões?
O mundo é complexo. A morte amedronta. Ficamos perplexos com tantas dúvidas. Os deuses fazem suas apostas. Não acredito em julgamentos finais. Há muitos mistérios. Naveguemos. Camus tinha intuições singulares. Escreveu um livro fantástico O mito de Sífiso. Reflete sobre o suicídio, sobre os limites, os desencantos. Morreu tragicamente. Ninguém domina os saberes de forma absoluta. Mas aprecio quem lança questões, visualiza os danos do absurdo. Tudo produz polêmica, provoca andanças, traça ameaças, funda crenças, enfrenta dissabores.
Sei que estou numa sociedade turbulenta. As regras vacilam, as pessoas se drogam, os casamentos se desfazem, as guerras não se vão, a complexidade é um desafio. Escrever é conversar. Quem não retoma nostalgias, quem quer  naufragar em pesadelos? Definir os caminhos é quase incomum. Prometeu revoltou-se. Mostrou que não há nada estabelecido para sempre. As ilusões ajudam a diminuir as dores e arquitetar sonhos. O ponto final é um símbolo. Tudo está voando, com tempestades repentinas e fogos vermelhos enlouquecidos. A tensão desmonta lentidões.
O que sei é que pouco sei. Desconheço se há um encontro derradeiro ou se corpo apodrece inutilmente. As especulações frequentam cada desejo de pular o cerco das impossibilidades. Sócrates foi condenado. Já havia delação premiada. Nossa sociabilidade é escandalosa. Quem admite transcendências e se julga amigo dos anjos? Não se acanhe. Há quem roube, quem chore, quem fuja, quem se abandone. A confusão não é uma mentira, nem a vida uma aflição profunda. Siga com seus saberes e suas experiências. Um dia, casa cresce ou cai. E você levitará ous seus olhos ficarão vermelhos.
astuciadeulisses.com.br
Professor Edgar Bom Jardim - PE

sexta-feira, 28 de abril de 2017

1ª greve geral do país, há 100 anos, foi iniciada por mulheres e durou 30 dias


Trabalhadores no Cotonifício Crespi, na Mooca, São Paulo, em 1917Direito de imagemARQUIVO EDGAR LEUENROTH | UNICAMP
Image captionGreve teve início em uma fábrica têxtil em São Paulo, e só depois da adesão de outras categorias passou a ter demandas gerais

Em junho de 1917, décadas antes da consolidação das leis trabalhistas no Brasil, cerca de 400 operários - em sua maioria mulheres - da fábrica têxtil Cotonifício Crespi na Mooca, em São Paulo, paralisaram suas atividades.
Eles pediam, entre outras coisas, aumento de salários e redução das jornadas de trabalho, que até então não eram garantidos por lei. Em algumas semanas, a greve se espalharia por diversos setores da economia, por todo o Estado de São Paulo e, em seguida, para o Rio de Janeiro e Porto Alegre. Era a primeira "greve geral" no país.
Mas uma das principais diferenças entre aquela e a greve geral convocada para esta sexta-feira, em protesto contra as reformas trabalhista e da Previdência, é que, em 1917, ela não foi anunciada como tal, disse à BBC Brasil o historiador Claudio Batalha, da Unicamp.
"Não é uma greve que já tivesse bandeiras gerais. Ela começa com questões específicas dos setores que vão aderindo ao movimento grevista, alguns por solidariedade. Depois é que a pauta passou a incluir desde reivindicações relacionadas ao trabalho até reivindicações de cunho político - libertação dos presos do movimento, por exemplo."
Uma destas questões específicas, menos comentada nos livros de história, era o assédio sexual. Segundo Batalha, parte da revolta das funcionárias do Cotonifício Crespi era o assédio que sofriam dos chamados contramestres, funcionários que supervisionavam o chão de fábrica.
"Isso não era incomum na época. Greves anteriores já haviam começado contra determinado funcionário que tivesse um cargo de chefia e tirasse proveito desse poder", explica.

Crescimento

Mas se a convocação de 2017 reflete a insegurança causada pelo desemprego e pela recessão, em 1917, a indústria brasileira ia de vento em popa.
Na verdade, os lucros das empresas chegavam a duplicar a cada ano.
"Entre 1914 e 1917, com a Primeira Guerra Mundial, se passou de uma recessão econômica a um superemprego, porque os produtos brasileiros passaram a substituir os importados e a serem exportados", explica o historiador italiano radicado no Brasil Luigi Biondi, da Unifesp.
"Em 1914, o Cotonifício Crespi lucrou 196 contos de réis. No ano seguinte, o lucro foi de 350 contos de réis. E foi aumentando. Enquanto isso, aumentavam as horas de trabalho."
Com o aumento da produção, as fábricas brasileiras, que tinham poucas máquinas, vindas do exterior, tiveram que usá-las por mais tempo. Isso significava que os operários passaram a trabalhar até 16 horas por dia, sem aumento de salário.
De acordo com Biondi, a insatisfação das mulheres se explica também pelo fato de que elas acompanhavam mais de perto a perda de poder aquisitivo dos trabalhadores.
"Além de também serem operárias, porque naquele momento havia muito emprego para elas na indústria têxtil, elas também controlavam os gastos das famílias. Então viam o aumento acelerado da inflação dos produtos."
No final de junho, a paralisação dos operários do Crespi contagiou os 1.500 operários da fábrica têxtil Ipiranga. Em seguida, se espalhou pela indústria de móveis, concentrada no Brás, e chegou até a fábrica de bebidas da Antarctica.
"Em julho, a greve parou a cidade (São Paulo). Havia embates de rua e tentativa de saques aos moinhos que produziam farinha por causa da crise de abastecimento. Muitos foram mortos e feridos nos confrontos com a polícia", diz Biondi.
O movimento ganhou mais fôlego no dia 11 de julho, quando milhares acompanharam o enterro do sapateiro espanhol José Martinez, de 21 anos.
Ele morreu com um tiro no estômago depois que uma unidade de cavalaria da polícia dispersou manifestantes que quebraram barris de cerveja diante da fábrica da Antartica, segundo o jornal O Estado de S. Paulo, que noticiou o confronto.
"A partir daí, a greve se alastrou para quase todas as cidades do interior de São Paulo. Campinas, Piracicaba, Santos, Sorocaba, Ribeirão Preto. Até Poços de Caldas, no sul de Minas, que não era uma cidade industrial, teve movimentos de greve", afirma o historiador.

Cortejo fúnebre do sapateiro Martinez, morto em confrontos com a políciaDireito de imagemARQUIVO EDGAR LEUENROTH | UNICAMP
Image captionRepressão a grevistas aumentou a adesão de trabalhadores à paralisação, diz historiador

Negociação

Em 16 de julho - mais de um mês após o início da paralisação no Cotonifício Crespi - um acordo entre autoridades, organizações trabalhistas e industriais, mediado por jornalistas, pôs fim à greve em São Paulo. Mais ainda não era o fim da greve geral.
"Só em São Paulo a greve de fato terminou com uma negociação única. No Rio e em Porto Alegre, os movimentos tiveram dimensões gerais, mas só terminaram na medida em que cada setor chegava a um acordo com seu patronato. O ritmo de saída da greve foi aos poucos, assim como a adesão", explica Batalha.
Segundo Biondi, até mesmo na cidade de São Paulo ainda havia categorias entrando em greve no dia 18 de julho, como os pedreiros. Parte dos empresários se recusava a assinar os acordos e queria negociar condições diretamente com os funcionários.
Mesmo com a assinatura dos acordos, a consolidação dos direitos só viria em 1943, durante o regime de Getúlio Vargas.
"O que acontecia muitas vezes na época é que algo era obtido com uma greve, passava-se algum tempo e essa reivindicação voltava para nada", diz Claudio Batalha.
"Em 1907, também houve uma série de greves pedindo a jornada de trabalho de oito horas. E elas chegaram a diminuir, mas, depois de algum tempo, o patronato voltou a estabelecer as jornadas anteriores. O mesmo ocorreu após 1917."
A experiência da primeira greve geral também fez com que os empresários se preparassem para enfrentar futuras paralisações - o que tornou novas negociações mais difíceis para os trabalhadores.
"Uma das coisas que levou ao sucesso relativo da greve em 1917 é que as fábricas não tinham estoques. Quando os operários paravam, não havia produtos nas lojas. A partir daí, eles passaram a ter grandes estoques, e podiam permanecer sem funcionar um certo período porque tinham produção para vender."
Batalha lembra, no entanto, que o acordo só surgiu depois que "a greve atingiu dimensões tais que não tinha mais como controlar o movimento".
"A primeira tentativa de lidar com a greve foi de repressão. Essa era a tônica do período, tanto que houve mortes. Parte do processo de ampliação da greve, inclusive, se deveu a essas mortes."
"Até hoje a solução repressiva pode ser um desserviço às autoridades. Se a gente pensar nos protestos de 2013, a virada no número de pessoas em São Paulo foi quando houve uma repressão desproporcional à manifestação", afirma.

Jornal A Gazeta de 11 de julho de 1917Direito de imagemREPRODUÇÃO
Image captionDepois de tomar capital paulista, movimento de paralisação se espalhou pelo interior do Estado e chegou a Rio e Porto Alegre

Ideologia

Em fevereiro de 1917, meses antes da greve brasileira, mulheres que trabalhavam na indústria têxtil deram início a protestos e a uma paralisação que teria consequências ainda maiores do outro lado do mundo: a Revolução Russa.
Os protestos começaram contra a escassez de alimentos no país e rapidamente ganharam a adesão de outros trabalhadores e a simpatia das forças de segurança. Ao fim de uma semana, a mornaquia russa chegava ao fim, abrindo caminho para a revolução comunista, no fim daquele ano.
"Essa greve também é importante porque mostra a conexão do Brasil com o resto do mundo. Naquele ano, greves como aquela ocorreram em diversos países", diz Luigi Biondi.
Ideologias como o anarquismo e o socialismo marxista, que chegaram a São Paulo principalmente pelos imigrantes italianos, tiveram um papel importante na organização do movimento.
"Por causa da Rússia, eles tinham a ideia de que aquilo poderia levar a uma insurreição dos trabalhadores. Isso não ocorreu, mas a cidade foi tomada. Pela primeira vez isso espantou as elites do país, que começaram a se dar conta de que a questão social urbana era grave e tinha que ser considerada."
Batalha acha que as correntes socialistas "tinham certa liderança", mas que sua influência era maior sobre trabalhadores qualificados.
"O que faz com que uma greve funcione é que as pessoas sintam que aquele estado de coisas chegou ao limite. Uma das características importantes de 1917 é que, pela primeira vez, setores que não participavam desse tipo de movimento começaram a participar."
Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 24 de abril de 2017

Lenine, Gilberto Gil, Céu e mais artistas se unem em canção a favor de índios


O clipe da música “Demarcação Já”, composição de Carlos Rennó com Chico César, foi lançado nesta segunda (24). A canção, que possui mais de 100 versos divididos em 21 partes, é um manifesto e reuniu grandes nomes da música e das artes.
“Demarcação Já” tem 14 minutos de duração e é cantada por Gilberto Gil, Elza Soares, Maria Bethânia, Ney Matogrosso, Zeca Pagodinho, Lenine, Céu, Criolo, Arnaldo Antunes, Tetê Espíndola, Zélia Duncan, Zeca Baleiro, Nando Reis, Dona Onete, Felipe Cordeiro, Lira, Margareth Menezes, Marlui Miranda, Russo Passapusso, a atriz Letícia Sabatella e o diretor de teatro Zé Celso, além do próprio compositor da canção, Chico César.
A música chama a atenção para a tramitação de projetos de lei no Congresso que visam dificultar as regras para demarcação de terras indígenas. Os artistas não receberam cachê para participar do projeto. Para Gil, a canção é “um chamamento, um grito de luta”. Confira:


Folha de Pernambuco
Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 23 de abril de 2017

Nunca fui pobre, nem rica. Sempre tive mais que o necessário para sobreviver.


Por Dra. Gabriele Fernandes.

Por muito tempo associei a noção de felicidade ao dinheiro. Tive a ambição de enriquecer para então me considerar bem sucedida.
Entrei no curso de Direito e me vi em um mundo em que, para a maioria, sucesso é sinônimo de ocupar altos cargos, ter livros publicados, ternos ou bolsas de grife, acúmulo de aprovações em concursos públicos. Confesso que, por um tempo, partilhei dessa visão. Passei a ver aqueles que não se encaixavam nesse padrão como fracassados. 
Comecei meu estágio no Judiciário no setor "rico" da vara federal. Passava o dia folheando execuções fiscais e observando o vai e vem de juizes, advogados e jurisdicionados endinheirados. Essa primeira impressão alimentou ainda mais a visão estreita de mundo que tinha.
Um dia, mudei de setor, fui para o Juizado Especial e passei a ver o outro lado da moeda. Às quartas, ajudando na realização das audiências de agricultores que pleiteavam benefícios do INSS, tive o maior choque de realidade da vida. 
Nunca fui pobre, nem rica. Sempre tive mais que o necessário para sobreviver. Apesar de saber da origem pobre dos meus pais e avós, nunca senti essa realidade de verdade. Até que ouvi os depoimentos de centenas de pessoas, que, ao contarem sua vida de trabalho na roça diante do juiz para provar seu direito à um salário mínimo, tocaram profundamente a minha alma. Percebi que muitas dessas pessoas, apesar de não terem nenhum dinheiro ou status, tinham muita paz. 
Por muitas vezes, essa realidade me bateu tão forte na cara que tive que engolir o choro. A felicidade nos olhos deles quando recebiam a notícia que, a partir daquele momento, receberiam um valor todo mês que supriria as suas necessidades mais básicas acendeu um sinal dentro de mim. Havia algo de errado com a forma com que eu idealizava a felicidade.
Depois de tirada essa venda dos olhos, reparei que muitos daqueles que me serviam como referência de sucesso eram o oposto dos velhinhos agricultores do JEF: tinham muito dinheiro ou status e nenhuma paz. 
É difícil viver em uma sociedade de consumo e abdicar totalmente das "maravilhas" que ela oferece. Mas é preciso equilíbrio. A renúncia ao superficial é um exercício diário. Sempre que confrontada com a falta de dinheiro pra alguma coisa que quero, penso se aquilo tem o poder de me trazer paz. Na iminência da formatura, submetida à pressão da sociedade para ser uma profissional bem sucedida, penso nos cargos que quero ocupar e se eles têm o poder de me trazer paz. Quase sempre a resposta é não. Essa perspectiva acalma minhas inquietações e diminui minha ansiedade.
Hoje, minha concepção de fracasso é totalmente diferente. Fracassa quem se preocupa mais em ter um celular de última geração e um carro zero do que com a sua melhora pessoal. Fracassa quem acha mais importante ostentar seus títulos que ajudar o próximo necessitado. A vida material e profissional nunca deve ser mais importante que viver com humanidade. Repito isso pra mim mesma diariamente pra não correr o risco de esquecer no meio do caminho.
A ganância é cansativa. A simplicidade pesa muito pouco. Que minha bagagem seja leve. Não quero carregar nas costas a ambição pelo descartável. Que as coisas materiais não roubem minha paz. Que assim seja.
Do Facebook Gabriele Fernandes. Professor Edgar Bom Jardim - PE

quarta-feira, 5 de abril de 2017

As (outras) mulheres brasileiras sobre quem deveríamos aprender na escola


Niede Guidon, Carolina de Jesus, Bertha Lutz
Image captionNiede Guidon, Carolina de Jesus, Bertha Lutz: leitores da BBC Brasil sugeriram nomes de mulheres que deveriam ser mais estudadas

Há algumas semanas, a BBC Brasil publicou uma matéria sobre 10 mulheres brasileiras que deveriam ser mais estudadas nas escolas. Os perfis foram sugeridos por leitores e, de lá para cá, não paramos de receber recomendações de outras pioneiras que deveriam ter suas contribuições mais conhecidas e divulgadas.
Foram mensagens como a de Andrea Montero, que lembrou da filósofa Nísia Floresta - segundo ela, uma "precursora do pensamento feminista no Brasil"; ou a de Henrique Fracalanza, que lembrou de Anália Franco, "fundadora de mais de setenta escolas".
Tudo começou com a publicação da história de Emmy Noether - matemática alemã que desafiou as universidades em 1903 e que foi citada por Albert Einstein como "genial" por sua contribuição à Física. A partir daí, preparamos a primeira lista.
Mas as sugestões continuaram e, por isso, reunimos uma nova lista, dessa vez com 15 mulheres - brasileiras ou naturalizadas - de diversas áreas de atuação, que foram pioneiras ou que ajudaram a mudar os rumos do país nas ciências, na agronomia, na literatura, na política e na saúde.

Luzia Rennó Moreira


Luzia RennóDireito de imagemCEDOC
Image captionLuzia Rennó é considerada uma visionária

Filha de fazendeiros e natural de Santa Rita do Sapucaí - pequeno município do sul de Minas Gerais de cultura agrícola até a metade do século 20, - Luzia Rennó Moreira nasceu em 1907 e foi uma visionária ao iniciar o desenvolvimento de um polo de eletrônica em uma região rural.
Na década de 1950, "Sinhá Moreira", como era conhecida, doou terras que tinha herdado dos seus pais para construir uma escola, que viria se tornar a primeira instituição de ensino de técnica de eletrônica da América do Sul - e a sétima escola na categoria do mundo.
Com o apoio do presidente Juscelino Kubitschek, Luzia inaugurou a Escola Técnica de Eletrônica "Francisco Moreira da Costa" em 1959. Em 1965, morreu por causa de uma neoplasia mamária, antes da primeira turma se formar.
Atualmente, Santa Rita do Sapucaí é reconhecida em todo o mundo por desenvolver, produzir e exportar eletroeletrônicos para mais de 41 países.

Bertha Lutz


Bertha LutzDireito de imagemUS LIBRARY OF CONGRES
Image captionBertha Lutz seguiu carreira na política

A bióloga e feminista Bertha Maria Júlia Lutz foi a responsável pela conquista da instituição do voto feminino no Brasil.
Nascida em 1894, em São Paulo, em uma família abastada, Bertha estudou Biologia na prestigiada Universidade Sorbonne, na França. Na Europa, conheceu o movimento sufragista das mulheres inglesas.
Em 1918, retornou ao Brasil e se tornou a segunda mulher a ingressar em concurso público no país, assumindo o cargo de bióloga no Museu Nacional. No ano seguinte, fundou, junto de outras mulheres, a Liga para a Emancipação Intelectual da Mulher, iniciando as campanhas pelo direito ao voto feminino.
Bertha lutou mais de dez anos até que, em 1932, por decreto-lei do presidente Getúlio Vargas, as mulheres conquistaram o direito ao voto no Brasil. Ainda na década de 1930, organizou o primeiro congresso feminista e fundou a União Universitária Feminina, a Liga Eleitoral Independente, a União Profissional Feminina e a União das Funcionárias Públicas.
Em 1933, elegeu-se primeira suplente do deputado federal Cândido Pereira. Após a morte do deputado, assumiu a cadeira de deputada federal em 1936. Porém, a carreira política de Bertha se encerrou em 1937, quando Getúlio Vargas decretou o Estado Novo.
A passagem de Bertha pela Câmara Federal foi marcada pela luta por mudança na legislação referente ao trabalho da mulher e do menor, igualdade salarial, redução da jornada de trabalho - então de 13 horas diárias - e pela proposta de licença maternidade de três meses.

Cecília Meireles


Cecília Meireles. Acervo Revista Folclore, 1964, nº8Direito de imagemACERVO REVISTA FOLCLORE, 1964, Nº8
Image captionCecília Meireles em página da Revista Folclore

Considerada uma das principais poetas do século 20 no Brasil, Cecília Meireles publicou 50 obras, incluindo contos, crônicas, poesias, romances e literatura infantil.
Cecília nasceu no Rio de Janeiro, em 1901, em uma família grande, mas logo conheceu a solidão: o pai morreu antes do seu nascimento; a mãe, morreu quando a menina tinha 3 anos; os três irmãos morreram também na infância de Cecília. Órfã, foi morar na chácara da avó, onde começou a ler e escrever.
Aos 16 anos, formou-se professora. Aos 18 anos, lançou seu primeiro livro, Espectros.
Com o livro Viagem, de 1939, ganhou o prêmio de poesia da Academia Brasileira de Letras.
Em 1934, fundou a primeira biblioteca infantil do Brasil, em Botafogo, Rio de Janeiro. Também escreveu para jornais cariocas sobre o folclore nacional e chegou a atuar como jornalista, publicando sobre os problemas na educação. Viajou o mundo na década de 1940 fazendo conferências sobre Literatura, Educação e Folclore.
Morreu em 9 de novembro de 1964, no Rio de Janeiro.

Maria da Penha


Maria da PenhaDireito de imagemFABIO RODRIGUES POZZEBOM
Image captionA Lei Maria da Penha foi inspirada na luta dela contra a violência doméstica

A Lei Maria da Penha, que endureceu as punições para quem pratica violência contra a mulher, foi inspirada na história desta cearense.
Maria da Penha Maia Fernandes nasceu em 1945. Formou-se em Farmácia na primeira turma da Universidade Federal do Ceará. Durante a pós-graduação, conheceu o professor universitário Marco Viveros, com quem se casou e teve três filhas.
Em 1983, Marco atirou em Maria da Penha enquanto ela dormia, deixando-a paraplégica. A versão dada pelo marido é que assaltantes teriam feito o disparo. Quatro meses depois, Marco mais uma vez tentou matar a mulher. Dessa vez, ele tentou eletrocutar Maria enquanto ela tomava banho.
Somente oito anos depois, em 1991, Marco foi condenado, mas passou apenas dois anos preso. Ela então apresentou na Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) uma petição contra o Estado brasileiro por impunidade à violência doméstica.
O caso se tornou mundialmente conhecido e, em 2006, o então presidente Luís Inácio Lula da Silva sancionou a Lei Maria da Penha, para proteger as mulheres contra a violência.
O caso de Maria da Penha foi considerado pela ONU Mulheres um dos dez capazes de mudar a vida das mulheres no mundo.

Johanna Döbereiner


Johanna DöbereinerDireito de imagemEMBRAPA
Image captionJohanna Döbereiner começou a trabalhar em fazendas na Alemanha

Nascida na antiga Checoslováquia, Johanna Döbereiner cresceu em meio a guerras e foi da experiência em fazendas na Alemanha que nasceu o interesse pela Agronomia.
Ela se formou na Universidade de Munique e, em 1950, imigrou para o Brasil após receber uma recomendação para o Serviço Nacional de Pesquisa Agropecuária, começando a trabalhar em um laboratório do Ministério da Agricultura.
Na década de 1960, as pesquisas dela nas regiões tropicais começaram a revolucionar o campo da agricultura no Brasil - especialmente no aprimoramento das plantações de soja, que fizeram do Brasil o segundo produtor mundial da leguminosa, atrás apenas dos Estados Unidos.
Autora de mais de 500 títulos, Johanna Döbereiner chegou a ser indicada ao Prêmio Nobel.

Anália Franco


Anália FrancoDireito de imagemRIO SUL REVISTA
Image captionAnália Franco foi uma grande educadora e incentivou causas abolicionistas

Anália Franco Bastos nasceu em 1853, em Resende, Rio de Janeiro. Foi uma grande articuladora social e política, defendendo o republicanismo e a abolição da escravidão no Brasil.
Nascida durante o período escravocrata, Anália era vista como "perigosa" por ter ajudado crianças negras e órfãs que nasceram após a da Lei do Ventre Livre - que instituiu como livres os filhos de mulheres escravizadas nascidos a partir de 1871.
Professora primária de formação e sem recursos financeiros, conseguiu fundar escolas e creches em São Paulo e em cidades do interior do Estado, onde oferecia, além de ensino, abrigo à crianças, jovens, mães e mulheres viúvas. Todos os acolhidos recebiam educação e instrução profissional.
Foi uma das principais educadoras do Brasil e defensora do ensino laico, mesmo sendo conhecida por sua fé no espiritismo. Também atuou como escritora e teatróloga. Faleceu em 1919, em consequência da gripe espanhola.

Ana Néri


Ana NeryDireito de imagemDOMINIO PÚBLICO
Image captionAna Nery chegou a servir na Guerra do Paraguai

Ana Justina Ferreira Néri foi uma das enfermeiras mais importantes do país, chegando a servir na Guerra do Paraguai voluntariamente.
Ana era casada com um capitão e, após ficar viúva, teve os filhos convocados para servir no conflito, em 1864. Foi então que ela decidiu escrever à autoridades locais da Bahia pedindo para ir à guerra para cuidar dos feridos.
Durante a Guerra do Paraguai, ela prestou serviços em quatro hospitais militares e viu um de seus filhos morrer.
Com o final da Guerra, foi homenageada e recebeu duas medalhas, além de uma pensão vitalícia dada pelo então imperador Dom Pedro 2º.
Em 1938, o presidente Getúlio Vargas instituiu o Dia do Enfermeiro, celebrado em 12 de maio - dia do nascimento de Ana Néri.

Tomie Ohtake


Tomie OhtakeDireito de imagemHELOISA BALLARINI
Image captionTomie manteve a atividade artística até morrer, em 2015

Japonesa naturalizada brasileira, Tomie Ohtake foi citada pelos leitores da BBC Brasil por causa da contribuição às artes plásticas.
Tomie nasceu em Quioto em 1913 e veio ao Brasil em 1936 para visitar um de seus irmãos. Impedida de voltar ao seu país após o início da Guerra do Pacífico, ela se naturalizou, casou e construiu família no Brasil.
Foi somente aos 40 anos de idade que Tomie começou a pintar, incentivada pelo artista japonês Keiya Sugano. Ela então passou a fazer esculturas e painéis gigantes, dedicando sua obra a narrar a participação dos imigrantes japoneses na formação do Brasil.
Durante a carreira, participou de 20 Bienais Internacionais e fez mais de 120 exposições individuais no Brasil, nos Estados Unidos, Europa e Japão.
Em 2000, foi fundado em São Paulo o Instituto Tomie Ohtake, em sua homenagem, que abriga um espaço para exposições e promove a pesquisa sobre artes.
Tomie Ohtake pintou até a data de sua morte, em 2015, aos 101 anos.

Carolina Maria de Jesus


Carolian de JesusDireito de imagemAUDÁLIO DANTAS, 1960
Image captionCarolina Maria de Jesus à margem do Rio Tietê. Ao fundo a Favela do Canindé.

Carolina era catadora de papel e morava em favelas até ser descoberta pelo jornalista Audálio Dantas, que leu os cadernos de anotação dela, escritos em forma de diário e publicou trechos de seus relatos na extinta revista O Cruzeiro.
Ela se tornou uma importante escritora e teve suas obras traduzidas em mais de dez idiomas.
Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento, Minas Gerais, em 1914. De família pobre, começou a trabalhar na infância e frequentou a escola somente por dois anos.
Trabalhou em fazendas do interior de Minas Gerais e de São Paulo e foi ajudante de cozinha e doméstica. Em 1937, com a morte da mãe, mudou-se para São Paulo e foi morar em favelas, sobrevivendo como catadora de papel.
Ao fazer uma reportagem sobre a inauguração de um playground no Canindé, favela onde Carolina morava, Audálio descobriu os seus 35 cadernos de anotações em forma de diário.
Em 1960, esses relatos são reunidos no livro Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada. Com o dinheiro da venda do livro, Carolina se mudou para uma casa no bairro de Santana e passou a escrever.
Em 1961, lançou Casa de Alvenaria: Diário de uma Ex-favelada. Em 1963, publicou Pedaços da Fome, seu único romance, que ganhou pouca repercussão.
Em 1969, depois de desentendimentos com editores, mudou-se para um sítio. Morreu em 1977, aos 62 anos, pobre.

Nísia Floresta


Nísia FlorestaDireito de imagemBIBLIOTECA NACIONAL
Image captionA cidade em que nasceu hoje leva o nome de Nísia

A feminista e escritora Dionísia Gonçalves Pinto nasceu no Rio Grande do Norte em 1810 e é autora do primeiro livro feminista no Brasil.
Desde cedo, foi uma questionadora da condição da mulher no século 19: forçada a se casar aos 13 anos, abandonou o marido apenas seis meses após a união. Aos 22 anos, casou-se novamente - dessa vez, por escolha própria, e adotou o pseudônimo Nísia Floresta Brasileira Augusta.
Nunca frequentou universidade. Aos 22 anos, lançou seu primeiro livro, Direitos das mulheres e injustiças dos homens, o primeiro no Brasil a tratar dos direitos das mulheres à instrução e ao trabalho. O texto é considerado o fundador do feminismo brasileiro.
Nísia seguiu escrevendo sobre a emancipação da mulher por meio da educação e do trabalho em Conselhos a minha filha (1842); Opúsculo humanitári" (1853) e A Mulher (1859).
A cidade em que a feminista nasceu, Papari, no Rio Grande do Norte, hoje leva o nome de Nísia Floresta.

Virgínia Bicudo


Virginia Bicudo e a famíliaDireito de imagemFONTE DEDOC
Image captionVirgínia - a primeira da esquerda para a direita - ao lado da família em 1929.

Virgínia Leone Bicudo nasceu em São Paulo, em 1910, e foi a primeira pesquisadora e professora negra a ocupar um lugar de destaque na divulgação e construção da psicanálise no Brasil.
De uma família negra de trabalhadores e de poucos recursos, Vigínia cursou educação sanitária no Instituto de Higiene de São Paulo em 1932. Quatro anos depois, cursou Ciências Sociais na Escola Livre de Sociologia e Política. Conheceu a psicanalista alemã Adelheid Koch e se aproximou da psicanálise. Em 1942, iniciou mestrado com pesquisa sobre psicanálise e os conflitos raciais entre brancos e negros. Sua dissertação, Atitudes Raciais de pretos e mulatos em São Paulo, foi a primeira defendida no Brasil sobre a temática.
Foi professora do Departamento de Psicologia da USP e da Universidade de Brasília (UnB), onde fundou o Instituto de Psicanálise de Brasília. Desenvolveu para a UNESCO diversas pesquisas sobre as relações raciais no Brasil.

Lotta de Macedo Soares

Maria Carlota Costallat de Macedo Soares, conhecida como Lotta, nasceu em Paris, em 1910. Filha de pais brasileiros, veio ao Brasil com dois anos de idade. Nos anos 1940, fez cursos no Museu de Arte Moderna de Nova York, EUA, mas nunca frequentou a universidade. De maneira autodidata, se tornou arquiteta e urbanista.
A grande obra da vida de Lotta foi a criação do projeto do Aterro do Flamengo, o maior aterro urbano do mundo, inaugurado em 1965. A arquiteta foi presidente da Fundação Parque do Flamengo e lutou para que o aterro fosse tombado, nunca deixando a área ser loteada.
Foi casada com a poeta norte-americana Elizabeth Bishop. Em 1965, o casamento chegou ao fim e Lotta entrou em depressão. Dois anos depois, a arquiteta se suicidou, em Nova York. O filme Flores Raras (2013), de Bruno Barreto, conta o romance das intelectuais.

Niède Guidon


Niede GuidonDireito de imagemELISABETE ALVES
Image captionA arqueóloga chegou a estudar na França

Natural de Jaú, interior de São Paulo, Niède Guidon nasceu em 1933. Formou-se em História Natural pela USP na década de 1950. Na década de 1970, morando na Europa por causa do golpe militar brasileiro de 1964, foi pesquisadora do Centre National de La Recherche Scientifique (CNRS), em Paris. Foi assistente da grande arqueóloga Annete Emperaire, que procurava pelo homem mais antigo do mundo. Nesse mesmo período, Niède conheceu o sítio arqueológico de Coronel José Dias, região de São Raimundo Nonato, no Piauí.
Encantada com as manifestações de arte pré-histórica em mais de mil sítios arqueológicos descobertos no Piauí, Niède se mudou para o Estado. Por ironia do destino, encontrou ali os indícios de presença humana mais antigos do mundo.
Há mais de 40 anos, Niède Guidon luta para proteger a região do município de São Raimundo Nonato, Piauí, ainda hoje um lugar pobre e esquecido.

Leolinda Daltro

Leolinda de Figueiredo Daltro nasceu na Bahia, em 1859. Foi uma professora, feminista e indigenista, precursora da questão indígena no Brasil.
Contrária à catequização, Leolinda defendia que os índios fossem incorporados à sociedade brasileira por meio de uma educação laica. Para isso, promovia excursões pedagógicas pelo país com esse objetivo. Dessa experiência, escreveu o livro Da Catequese dos índios no Brasil - Notícias e documentos para a História.
Como feminista e sufragista, defendeu a participação das mulheres na vida política brasileira. Em 1910, fundou o Partido Republicano Feminino. Em 1917, promoveu uma passeata exigindo o voto feminino.
Em sua homenagem, foi criado o "Diploma Mulher Cidadã Leolinda de Figueredo Daltro", da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, prêmio que reconhece todo ano 10 mulheres que são exemplos de luta em suas áreas de atuação.

Eufrásia Teixeira Leite


Eufrasia TeixeiraDireito de imagemEUFRASIA TEIXEIRA
Image captionEufrasia Teixeira deixou sua fortuna para instituições sociais

Filha de uma família de aristocratas milionários e escravagistas, Eufrásia Teixeira Leita ficou órfã aos 22 anos. Deu alforria aos escravos da família e se mudou para a Europa, onde aprendeu a negociar ações e títulos, multiplicando a fortuna que herdou.
Apesar de nunca ter se casado, manteve um romance de mais de dez anos com o político e jornalista Joaquim Nabuco, um dos maiores abolicionistas do Brasil.
Sem herdeiros, Eufrásia morreu no Rio de Janeiro, em 1930. Em seu testamento, deixou quase toda a sua fortuna para instituições sociais e educacionais de Vassouras, cidade em que nasceu. Com os recursos que doou à cidade, foram construídos o Hospital Eufrásia Teixeira Leite, colégios para moças pobres e vários outros prédios.
A casa de sua família em Vassouras, a "Casa da Hera", onde Eufrásia viveu os últimos momentos, é um importante museu sobre a época da cafeicultura do Brasil.
Laís Modelli da BBC.
Professor Edgar Bom Jardim - PE