Mostrando postagens com marcador Educação. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Educação. Mostrar todas as postagens

domingo, 14 de janeiro de 2018

Educação:Quatro ideias de brasileiro em prêmio global para recuperar escola dominada por violência

Diego Mahfouz Faria Lima
Image caption'É um projeto que dá resultado se o gestor se abrir à gestão democrática', afirma o diretor Diego Mahfouz Faria Lima | Foto: Divulgação
A Escola Municipal Darcy Ribeiro costumava aparecer no noticiário de São José do Rio Preto (interior de São Paulo), mas não por motivos bons.
Em 2012, um adolescente foi flagrado em sala de aula com uma pistola semiautomática; em 2014, uma discussão entre dois alunos de 14 e 15 anos escalonou para agressões e virou caso de polícia. Salas e banheiros eram frequentemente depredados pelos próprios alunos.
Esse foi o cenário que Diego Mahfouz Faria Lima encontrou ao assumir, três anos atrás, a direção da Darcy Ribeiro, escola do ensino fundamental com mais de 800 estudantes. "Era uma das escolas mais violentas da região. Quando vim conhecê-la, não só achei a fachada feia, como vi que o muro era cheio de buracos, onde (usuários) guardavam suas drogas. Os banheiros não tinham nem vaso sanitário", conta ele à BBC Brasil.
Como reverter o ciclo de violência, desmotivação e baixas notas de escolas?
Lima adotou estratégias baseadas, sobretudo, em recuperação do espaço físico e no engajamento dos alunos e da comunidade.
Os resultados, diz ele, começaram a surgir no intervalo de um ano, a começar pelos altos índices de evasão: 212 alunos haviam abandonado a escola em 2013; o número baixou para dois no ano seguinte.
Alunos do Darcy Ribeiro
Image captionEscola conseguiu reduzir a evasão escolar | Foto: Divulgação
O desempenho dos estudantes melhorou, embora ainda permaneça bastante abaixo do ideal: em 2011, apenas 11% dos alunos do 9º ano tinham conhecimentos adequados em português e 6% em matemática; esses índices subiram, respectivamente, para 30% e 12% em 2015 (últimos dados oficiais disponíveis).
A reversão da espiral de violência e maus resultados trouxe reconhecimento internacional: Lima é hoje uns dos 50 finalistas do Global Teacher Prize, uma das mais importantes premiações de docentes do mundo e cujo vencedor será anunciado em março.
Antes e depois, uma sala de aula da Darcy Ribeiro
Image captionAntes e depois, uma sala de aula da Darcy Ribeiro: escola ganhou doações de materiais e foi revitalizada pela própria comunidade | Foto: arquivo pessoal
A avaliação da Varkey Foundation, responsável pelo prêmio, é de que "acima de tudo, a escola atualmente tem um lugar na comunidade, e todos sabem que são bem-vindos ali".
A seguir, quatro iniciativas que Lima aplicou na recuperação da Darcy Ribeiro:

1 - Dar voz aos alunos

Lima diz que, ao assumir a direção da escola, foi recebido com uma "rebelião" por alguns alunos, que atearam fogo aos banheiros.
"Peguei um microfone para dizer a eles que eu não iria embora e que estava disposto a escutá-los", recorda o diretor.
Ouviu de volta que os alunos achavam a escola feia e excessivamente punitiva - ou seja, que qualquer coisa era motivo para suspensão.
"Tudo começou a mudar quando dei voz a eles", diz Lima.
Foi criado um mural onde os alunos deixam seus elogios, críticas e sugestões, para serem lidos pelos professores em sala. As sugestões coletivas são levadas à direção. Além disso, assembleias e o grêmio estudantil foram fortalecidos.
Com a Câmara Municipal de Rio Preto, foi lançado o projeto "vereadores mirins": alunos escolhidos pela classe elaboram projetos levados a votação pelos vereadores "reais". A partir disso, diz Lima, foi aprovado um projeto de lei para a criação de laboratórios de informática nas escolas da cidade.
Clube de astronomia da escola
Image captionClube de astronomia foi uma das iniciativas para engajar alunos | Foto: arquivo pessoal
Outro ponto-chave é a mediação de conflitos: alguns dos próprios alunos do 9º ano foram treinados por Lima para identificar e mediar a resolução de casos de bullying e conflitos. Lima também atua como mediador atualmente.
"É ensinar a ouvir o outro, a se colocar no lugar do outro", afirma. "Buscamos os alunos mais indisciplinados para (comandar) a mediação, porque daí sua liderança negativa se torna positiva."

2 - Combater à evasão

Para enfrentar o alto número de desistências por parte dos alunos, a Darcy Ribeiro criou carteirinhas para seus estudantes, de forma a monitorar o número de faltas.
A cada três faltas consecutivas de um mesmo aluno, Lima ia ele próprio à casa do estudante descobrir o que estava acontecendo.
Outro problema é que a maioria dos alunos simplesmente não ia à escola nas sextas-feiras. Surgiu a ideia de tornar o ambiente escolar mais atrativo, com um show de talentos: pais e alunos passaram a realizar performances nesse dia da semana.
O distanciamento com as famílias também era um problema. Na primeira reunião de pais organizada por Lima, compareceram apenas nove familiares. Lima descobriu que muitos alunos não entregavam os comunicados das reuniões a seus responsáveis. A solução foi contratar um carro de som, que passa pelas comunidades próximas avisando as datas das reuniões escolares.

3 - Melhorar o desempenho e a relação entre alunos e a escola

Estudantes falam nas assembleias da Darcy Ribeiro
Image captionEscola passou a realizar assembleias para dar voz às insatisfações dos estudantes | Foto: arquivo pessoal
Desanimados com o mau comportamento das turmas, os professores da Darcy Ribeiro costumavam emitir cerca de 60 suspensões de alunos por semana. "Às vezes, quando o aluno era suspenso por sete dias, ele sequer voltava mais para a escola", conta Lima.
A maneira encontrada para aproximar docentes de estudantes foi criar um programa de tutoria, em que cada professor passou zelar pelo bem-estar e pelo desempenho de uma determinada turma.
Um questionário aplicado aos estudantes e à comunidade não apenas ajudou a identificar necessidades e sonhos dos alunos, como também despertou na equipe empatia por estudantes até então considerados "problemáticos" - e que, em alguns casos, enfrentavam grandes dificuldades pessoais até então desconhecidas dos docentes.
Um plantão de dúvidas no contraturno, em que alguns dos próprios alunos viraram ajudantes dos professores, ajuda a combater problemas de aprendizado. Para incentivar a leitura e enfrentar o alto índice de analfabetismo funcional entre os estudantes, foi criado o "Pare Para Ler" - intervalo diário de 15 minutos em que todos na escola - alunos e funcionários - se dedicam à leitura de textos escolhidos por eles próprios ou por professores.
E um clube de astronomia, que começou como uma forma de estimular o interesse pela pesquisa científica e pelas tarefas de casa, acabou virando um dos xodós da escola, levando inclusive à compra de um telescópio e ao disparo de uma sonda, acoplada a um balão de hélio, para captar imagens aéreas.
E o WhatsApp, antes proibido em classe, virou ferramenta para tirar dúvidas e discutir os projetos do clube.

4 - Embelezar a escola e melhorar os laços com a comunidade

A péssima infraestrutura - espaços abandonados, salas e banheiros degradados - era uma das principais queixas dos alunos da Darcy Ribeiro.
Lima começou pedindo, a outras escolas da região, materiais de construção e tinta que tivessem sobrado de reformas anteriores. Seu objetivo era melhorar a aparência da escola durante as férias, "para receber os alunos de uma forma diferente quando as aulas recomeçassem".
Diego Lima pintando a escola
Image captionManutenção da escola é feita com a ajuda da comunidade; acima, Diego Lima pintando parede | Foto: arquivo pessoal
Uma aluna viu a sala sendo pintada e a notícia da reforma acabou se espalhando, o que gerou uma onda de apoio: pais e estudantes passaram a se oferecer para ajudar.
"Hoje, temos um grupo de mais de 30 pais voluntários para a manutenção da escola, varrendo ou trocando torneiras", diz Lima.
A biblioteca, que antes era um depósito de materiais, foi revitalizada, ganhou 7 mil livros doados e agora é gerida voluntariamente pela mãe de um aluno. O muro foi pintado e grafitado, e as salas ganharam novas carteiras.
O tráfico de drogas no ambiente escolar foi coibido com a revitalização, pelos próprios alunos, da área mais degradada da escola, transformada em uma praça de leitura.
"Quando uma mãe vem e reclama que o filho (está usando ou traficando drogas), chamamos o aluno e tentamos parcerias para conseguir emprego para ele, mostrar que ele não precisa das drogas (para se sustentar ou passar o tempo)", diz o diretor.
A escola também passou a abrir aos fins de semana, com um projeto de música clássica, hoje realizado pela prefeitura em outro espaço.
A fachada da escola, antes e depois
Image captionA fachada da escola, antes e depois: embelezamento fez parte da estratégia de recuperação | Foto: divulgação

O que ainda falta fazer?

A escola alcançou em 2015 a nota 4,7 no Ideb, indicador oficial usado como referência da educação básica, que varia de zero a 10. A nota superou a meta para aquele ano, mas ainda está distante dos 6,0 que o Brasil usa como referência de qualidade e almeja para suas escolas até 2021.
Lima tem como objetivo, agora, reduzir a defasagem de parte dos alunos em relação à série que cursam, coibir as faltas - ainda em nível acima do desejado - e melhorar o trabalho pedagógico.
O mais importante para revitalizar outras escolas em situação semelhante, opina ele, é "mudar o olhar" dos gestores.
"É um projeto que dá resultado se você se abrir à gestão democrática, dar voz em vez de concentrar as decisões, valorizar o protagonismo dos alunos e abrir a escola como se ela não tivesse muros", afirma.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Educação:Portaria reajusta em 6,81% piso salarial dos professores


Uma portaria com aumento de 6,81% para o piso salarial dos professores para 2018 foi assinada nesta quinta-feira (28) pelo ministro da Educação, Mendonça Filho (DEM). O índice, anunciado pela pasta, é 4,01% acima da inflação prevista para este ano, que é de 2,8%, de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA), divulgado na última semana pelo Banco Central. De acordo com o Ministério, o piso nacional do magistério tem um ganho real de 3,90% e um salário de R$ 2.455,35, para jornada de 40 horas semanais. 

Também segundo a pasta, nos últimos dois anos, os professores tiveram um ganho real de 5,22%, o que corresponde a R$ 124,96. O reajuste anunciado segue os termos do art. 5º da Lei nº 11.738, de 16 de julho de 2008, que estabelece a atualização anual do piso nacional do magistério, sempre a partir de janeiro. “Isso é importante, pois estamos cumprindo a lei que determina esse reajuste”, finalizou Mendonça Filho. 

O critério adotado para o reajuste, desde 2009, tem como referência o índice de crescimento do valor mínimo por aluno ao ano do Fundeb, que toma como base o último valor mínimo nacional por aluno (vigente no exercício que finda) em relação ao penúltimo exercício. No caso do reajuste deste ano, é considerado o crescimento do valor mínimo do Fundeb de 2016 em relação a 2015.
.folhape
Professor Edgar Bom Jardim - PE

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

82 mil vagas abertas no ensino médio com diploma de formação técnica


Mais que propor uma maior participação do ensino técnico na vida dos estudantes do ensino médio, o Ministério da Educação (MEC) criou os caminhos para isso, por meio de um programa indutor das primeiras mudanças que estão sendo implantadas. Trata-se do MedioTec, que, em agosto passado, teve suas primeiras turmas iniciadas em vários estados. Foram liberados R$ 700 milhões para viabilizar a criação de 82 mil vagas em todo o País. Uma vantagem é que, diferentemente das ações anteriores do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), que eram direcionadas ao público em geral, o MedioTec é voltado somente a jovens da rede pública que estejam cursando o ensino médio, o que busca assegurar o cumprimento dos objetivos do projeto.

O MedioTec funciona na modalidade concomitante, ou seja, os alunos cursam o ensino médio regular em sua escola de origem e, em outro turno, podem assistir às aulas das disciplinas técnicas em outra escola ou instituição parceira. Por ter esse foco, o programa não contempla as modalidades integrado - para quem cursa o médio e o técnico numa mesma instituição, em período integral - e subsequente - para pessoas que já concluíram o ensino médio e querem fazer o técnico -, uma vez que ambos os casos já contam com políticas públicas específicas. O MedioTec foi pensado para atender a quem nunca teve oportunidade de entrar em contato com o ensino técnico.

Leia também:
Novo ensino médio pode começar em 2019
Fórum debate a reforma do ensino médio no Brasil

“Nossa ideia é que o aluno que está hoje na rede pública cursando o primeiro, segundo ano do ensino médio possa fazer a opção por um curso técnico e, no fim do próximo ano, sair com as duas formações, médio e técnico, já tendo uma opção para ingresso no mercado de trabalho”, explica a secretária de Ensino Técnico do MEC, Eline Nascimento.

Depois que o novo ensino médio for implantado, o MedioTec passará a compor o currículo, deixando de ser apenas um programa para transformar-se em uma política pública de educação. Na prática, ele vai ampliar uma oferta que, hoje, ainda é muito restrita às escolas técnicas estaduais ou aos institutos federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFs).

O estudante Pedro Lucas, 16 anos, é um dos que já estão sendo beneficiados. Ele é aluno do 2º ano da Escola Estadual Dom Vital, no bairro da Tamarineira, Zona Norte do Recife. O jovem diz que não teve a oportunidade de ingressar numa das 35 unidades da rede de Escolas Técnicas Estaduais (ETE) mantidas pelo Governo de Pernambuco e também não fez o vestibular do IFPE. Agora, pelo MedioTec, cursa comunicação visual.
“Eu sempre tive interesse [num curso técnico], mas, um tempo atrás, eu não pude focar nisso. Agora, surgiu esse curso do MedioTec à noite e estou correndo atrás. 
Basicamente, é um plano de vida que surge. A pessoa acaba o curso e é certo que vai sair daqui com um diploma e ser mais interessante para o mercado. É mais fácil conseguir um emprego do que seria se eu só tivesse um currículo básico”, reflete o jovem, que tem aulas das disciplinas técnicas três vezes por semana, das 19h às 21h, na ETE Miguel Batista, no bairro de Apipucos, também na Zona Norte.

Eline Nascimento, do MEC, lembra que a aposta nos cursos técnicos se espelha em boas experiências vistas mundo afora e que isso não anula outros planos dos jovens para o futuro, como o de entrar numa universidade. “É uma opção de ingressar no mercado de trabalho com mais celeridade, porque esse jovem já sai do ensino médio com algum nível de qualificação profissional. Mesmo que ele queira, depois, cursar o ensino superior, o fato de ter o ensino técnico no currículo dá muitas vantagens a ele no campo profissional”, finaliza.
Com informação de Folha de Pernambuco
Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 28 de novembro de 2017

Educação:Quantas vezes o cérebro precisa ser exposto a uma palavra para aprendê-la?

Mulher com vários pontos de interrogação no quadroDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionEspecialistas dizem que para aprender e se lembrar da maioria das palavras é necessário repetição e estímulos sonoros e visuais
Muita gente certamente já se perguntou quantas vezes precisa escutar uma palavra para incorporá-la ao vocabulário. Seriam necessárias cinco, dez, vinte vezes?
Em um estudo conduzido em 1965, os especialistas em educação e psicologia David Ausubel e Mohamed Youssef foram categóricos em dizer que um estudante precisaria ser exposto a uma palavra 17 vezes antes de aprendê-la e passar a usá-la.
Outras pesquisas apontam para uma média que varia entre 15 e 20 vezes.
Mas Catherine Snow, professora de educação na prestigiada Universidade Harvard, nos EUA, pondera que existem diferentes condições de aprendizado e, às vezes, basta ouvir a palavra uma única vez para aprendê-la.
"Você pode apontar para algo e dizer a palavra. Com isso, as crianças podem aprender, se lembrar dela e passar a usá-la a partir desse momento. Mas há muitas palavras cujo significado não dá para personificar em um objeto ou imagem", observa a especialista.
Catherine Snow
Image captionCatherine Snow afirma que, em média, exposição de 15 a 20 vezes bastam para aprender uma palavra | Foto: Universidade Harvard
Snow diz ainda que há muitos aspectos sobre as palavras para se aprender. "Não apenas as pronúncias ou o que significam, mas também o contexto adequado para usá-las."
Assim, explica a professora, algumas exigem mais repetições que outras. Ela afirma que a estimativa de 15 a 20 vezes serve como uma média entre o aprendizado de palavras mais fáceis e mais difíceis - ou seja, aquelas com significado simples e as mais complexas.

Aprender idioma estrangeiro

No caso do aprendizado de uma segunda língua, avalia Catherine Snow, espera-se que os estudantes aprendam uma média de 200 palavras por semana. "Mas não podemos assegurar que eles vão se lembrar dessas palavras", salienta.
A estratégia usada por muitos professores é ensinar essas 200 palavras e garantir que os alunos estejam expostos a elas cinco vezes em um dia, quatro no próximo e três vezes nos dois seguintes.
"E uma ou duas vezes na semana seguinte. Dessa forma, são muitas as possibilidades de que o aluno escute ou leia essas palavras. Assim, é possível assegurar a consolidação da memória", observa a especialista, referindo-se ao processo de transformação das lembranças de curto prazo em longo prazo.
Professora mostra foto a criançasDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionO uso de fotos ajuda a fixar novas palavras

Aprendizado varia com idade?

A professora de Harvard diz que o ensino de idiomas estrangeiros é uma das poucas formas que permite medir a frequência que uma palavra é exposta. "Com crianças pequenas, não sabemos com que frequência usamos uma palavra antes que tenham aprendido", justifica.
Para ela, a partir dos 15 anos estudantes são mais eficientes em aprender. Já podem fazer isso sozinhos e usar referências bibliográficas para reforçar os conhecimentos. "Então, creio que os mais jovens provavelmente precisam de mais exposição."
Questionada sobre qual a quantidade de vezes que um cérebro precisa estar exposto para aprender um idioma, Snow admite que, apesar de possível, são poucas as chances de se aprender uma palavra já na primeira exposição.
"Também é mais difícil ensinar palavras sem as relacionar entre si", observa.
Reprodução de um cérebro sobre um livroDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionPara registro na memória de longo prazo, é preciso treinar ortografia, semântica e fonética das palavras

Estratégia para aprender mais rápido

Snow explica qual a estratégia que usa com seus alunos.
Primeiro, ela mostra uma foto relacionada a um tema que interesse os estudantes e os faz a pensar sobre as palavras das quais realmente precisam para falar sobre esse tópico.
Em seguida, ela apresenta leituras e cria oportunidades que eles escrevam as palavras relacionadas ao tema. Assim, diz a professora, elas vão se repetir muitas vezes.
Snow assinala ser muito importante praticar a forma oral e escrita das palavras, pois isso ajuda a formar a chamada representação léxica de alta qualidade, que inclui ortografia, semântica e fonética detalhada.
"Há palavras que conhecemos, apesar de não termos certeza de como as soletramos ou são pronunciadas. Ainda assim, podemos entendê-las quando as lemos. Essas palavras são frágeis no nosso vocabulário", observa a professora.
A solução, diz ela, é fazer com que os alunos entendam como usá-las - assim fica mais fácil de elas serem lembradas.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 26 de novembro de 2017

Educação:a representação do negro no material didático


Escravidão negra na Amazonia
Por Mírian Garrido

Todo fim de ano destinamos um tempinho para pensar sobre o que aprendemos. Quando mais jovem, esse período coincidia com o fim do ano letivo. Eu chegava da escola com a camiseta assinada pelos amigos e guardava meus livros didáticos. Fazia planos de como, no ano seguinte, eu me dedicaria ainda mais, sem deixar de fazer atividades extracurriculares que eu tanto adorava. Começava o ano e meu pai desembolsava um dinheiro significativo com livros didáticos – sacrifício de um metalúrgico que acreditava na educação como garantia de um futuro melhor –, em um ciclo que perdurou por 12 anos, ou seja, ensino fundamental e médio.
Na época, não me preocupei em avaliar o livro didático em si, se ele foi sido usado com excelência, isto é, utilizado como apoio, criticado pelos professores e complementado por eles. Tampouco refletia sobre o impacto dele sobre mim, se o que eu lia e tentava absorver era capaz de influir na visão que eu tinha de mim mesma, da minha família e da sociedade em que eu vivia. Pensava nas notas “azuis” e nas férias a serem curtidas à exaustão.
A perspectiva muda quando me vejo, já no mestrado, procurando livros didáticos para utilizar como fonte da pesquisai. Percebi o quanto esse objeto tem um papel central no ambiente escolar, ecoa na atenção da mídia, mas é efémero. Ficaria ainda mais surpresa quando aprofundasse na pesquisa, e descobriria, então, que o livro didático – esse que circula de mão em mão entre os jovens brasileiros – possui uma variável enorme de elementos que lhe dão forma.
Foi então que, como pesquisadora na área de História, busquei entender quais eram as representações dos negros em livros didáticos. A empreitada parecia fadada a reforçar a ausência do negro na literatura didática ou, ainda pior, a confirmação de que todos os tipos de estereótipos eram ensinados aos leitores dessas obras. Joel Rufino dos Santos, historiador e intelectual defensor das causas negras, já havia – na década de 1980 – condenado os livros didáticos e convocado professores a se livrarem de tais objetosii.
Mesmo assim, a tentativa tinha legitimidade, afinal o Brasil se tornou o maior comprador de livros didáticos do mundoiii e nós, brasileiros e financiadores dessa política de compras, precisamos conhecer os produtos adquiridos. Devemos conhecer essa mercadoria, não apenas pelo caráter econômico, mas, em última instância, porque serão, também, os instrumentos que ensinarão as crianças e adolescentes “que sociedade é essa”.
Como seria impossível dar conta de “toda a história”, fiz meu primeiro recorte: escolhi estudar como o pós-abolição é apresentado aos leitores dos livros didáticosiv. A justificativa era simples, era sabido que o elemento negro ocupava espaço significativo nos livros enquanto escravizados – numa dolorosa perspectiva de mercadoria que produz outras mercadorias. Mas conhecer a história dos que lutaram por sua sobrevivência, contra o passado de escravização e um Estado que os manteria afastados de direitos, conferia, a meu ver, um sentimento de pertencimento positivo muito maior.
A demanda de uma educação que valorize a cultura e história dos diferentes elementos constituidores da sociedade brasileira emergiu com força nas pautas dos movimentos sociais contemporâneosv. Essa atuação impulsionou a aprovação da Lei 10.639/2003vi, configurando-a em instrumento de valorização da História e da Cultura africana e afro-brasileira. Se a ideia “somos o que recordamos” é verdadeira, como esperar que alunos afrodescendentes queiram sentir-se parte de uma cultura e história dada como inferior? Elemento que teria nascido da escravização, e que teria – quando muito – contribuído apenas com palavras no vocabulário popular e comidas típicas?
Os afro-brasileiros merecem aprender que são originários de um continente cuja riqueza e diversidade construiu Impérios; Nações; Confederações; locais onde a autonomia não foi tomada completamente nem mesmo pacificamente. Devem aprender que descendem de homens e mulheres sequestrados e trazidos para um novo lugar, mas que foram capazes de se articular, criar laços, resistir e negociar, quando possível. Digo sempre: “parem de usar a palavra contribuir, eles não contribuíram, eles formaram o país”, e reforço “todos ganham com esses conteúdos, alunos negros e não-negros aprendem a diversidade que constitui a História”.
Retornando ao percurso da pesquisa, quanto mais eu lia a bibliografia sobre os livros didáticos – amplamente estudados academicamente no Brasil – mais notava que o conteúdo é “a ponta do processo”. Analisar o livro apenas pelo texto, imagem, atividade (dentre tantos outros elementos), era riscar na superfície de um objeto ainda maior.
O programa Nacional do Livro Didático, programa que avalia e compra os livros didáticos que serão distribuídos em todo território nacional. E, ao entrar nessa dimensão, passei a pensar no Edital de Convocação do PNLD como o espaço privilegiado para observar como o Estado é capaz de incitar a renovação de conteúdos didáticos, pois ali se encontram “as regras do jogo”. Qualquer elemento que julgue primordial para avaliação, o Edital precisa deixar claro, caso o contrário pode ser descreditado juridicamente pelas editoras.
E, afinal, quais são as representações dos livros didáticos para o pós-abolição? Os Editais de Convocação do Programa Nacional do Livro Didático auxiliaram na introdução de conteúdos não tradicionais? Os livros didáticos ainda devem ser descartados, como diziam intelectuais da década de 1980? As perguntas são inúmeras, as respostas serão bem abertas, principalmente, porque meu objetivo é propor reflexões e não responde-las com minúcia. Garanto que os livros didáticos mudaram muito depois de iniciadas as avaliações do PNLD, e isso se reflete, em especial, no ensino fundamental por ter sido alvo de maior número de avaliações. Inegavelmente, conteúdos não consagrados na literatura didática,
progressivamente, são incorporados, ainda que com limitações – não nos enganemos, ainda há muito por fazer. Defendo, também, que ele não deve ser descartado, criticado sim, mas compreendido na variedade de forças que lhe dão forma.
Desta forma, percebam o quanto o objeto “livro didático” é complexo, mais ainda, que na educação não existe espaço para amadores. Digo isso porque é crescente um movimento que insiste em criminalizar conteúdos didáticos e práticas docentes, sem se importar em compreender quão complexo é o processo que molda livros didáticos, bem como, a multiplicidade que influi na formação de profissionais da educação – assunto que deixo, inclusive, para especialistas. Movimento que, possivelmente, não é sensível aos conteúdos referentes a cultura e história afro-brasileira, por exemplo, no que tange o ensino das manifestações religiosas, importantíssimas para se compreender as visões de mundo nas diferentes sociedades, mas visto por eles como “doutrinário”.
Chegamos a mais um final de ano, do período letivo e a chegada do 20 de Novembro – Dia da Consciência Negra, também demanda do movimento negro que proponha a reflexão sobre como nossa sociedade lida com as questões raciais –. Momento, portanto, de reflexão sobre nossas ações ao longo do ano, o que aprendemos e o que ensinamos. Espero que nesse esforço se faça presente a preocupação com a importância da educação, alvo dos anseios sociais, mas, também, das políticas públicas, sejam elas as direcionadas aos livros didáticos ou as representações positivas do afro-brasileiro – questões que não estão, nem de longe, desconectadas.
Doutora em História pela Universidade Estadual Paulista, “Júlio de Mesquita Filho”, campus de Assis, a autora do texto tem se dedicado aos temas livros didáticos, políticas afirmativas, movimento negro (Brasil/Estados Unidos), afrodescendentes, biografias e independência de Moçambique. Suas pesquisas usufruíram de apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), incluindo estágio no exterior (University of Pittsburgh) e trabalho de campo (Maputo/Moçambique). Pesquisadora e docente, Mírian Garrido defende uma universidade pública de qualidade e para todos.
Carta Capital


www.youtube.com/watch?time_continue=148&v=vGAoGRq4oVI
Professor Edgar Bom Jardim - PE