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segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

Onda de choque gerada pela erupção do Vulcão Tonga deu a volta ao mundo




erupção do vulcão Hunga-Tonga Hunga-Ha’apai, na nação polinésia de Tonga, que aconteceu no sábado (15), foi um evento de escala global. Conforme destaca o MetSul, a violenta explosão gerou uma nuvem de cinzas que chegou a 30 km de altura, alcançando a estratosfera do planeta – segunda camada da atmosfera, depois da troposfera.

De tão violento que foi o estouro provocado pela erupção, ele gerou uma enorme onda de choque visível nas imagens de satélites meteorológicos que estão entre as mais impressionantes desde que a ciência passou a observar o planeta a partir do espaço. 

De acordo com o diretor técnico do Serviço Brasileiro de Observação de Meteoros (Bramon, na sigla em inglês) e colaborador do Olhar DigitalMarcelo Zurita, a onda de choque, basicamente, é o som da explosão do vulcão. “Provavelmente, em uma frequência inaudível para a gente, mas é a propagação dessa explosão pela atmosfera”.

Imagens de satélite mostram onda de choque se espalhando

É possível ver a enorme coluna de cinzas eclodindo no meio do Pacífico e se expandindo ao alcançar altitudes mais elevadas enquanto uma onda de choque se espalha radialmente a partir do centro da erupção.

Segundo o MetSul, o evento foi tão significativo que o som da explosão do vulcão em Tonga acabou sendo ouvido a centenas de quilômetros de distância. Moradores de Fiji, a 800 km do vulcão, gravaram vídeos dos ruídos gerados pelo processo eruptivo.

Meteorologistas em vários lugares do mundo observaram em estações de monitoramento meteorológico uma súbita mudança de pressão atmosférica com a chegada da onda e publicaram os dados em redes sociais. O mesmo padrão foi observado na Nova Zelândia, Japão, Alasca, Nova York, Porto Rico, Los Angeles, Oklahoma, Miami, Zurique e até na Finlândia, país do norte europeu que fica a 15 mil km de distância do vulcão.

Para calcular a onda de choque com anomalia de pressão atmosférica, os cientistas usaram como dados: o horário de sua chegada, a distância para a erupção e o horário do evento eruptivo em cerca de 1.300 km/h no Hemisfério Norte.

Como a erupção foi pouco depois da 1h deste sábado, pelo horário de Brasília, e a velocidade estimada de propagação na maioria dos locais foi de 1.000 km/h, a onda de choque provavelmente alcançaria o Brasil cerca de 12 a 13 horas depois. 

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E foi exatamente o que ocorreu. Repetindo o padrão observado em estações meteorológicas de diferentes países e continentes, o levantamento da MetSul Meteorologia indicou um pico de pressão atmosférica do Sul ao Norte do Brasil nos dados das estações do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

Explosão do vulcão de Tonga altera pressão atmosférica

Um pico de pressão atmosférica de ~1,0 a ~1,5 hPa foi registrado em estações do Inmet entre 14UTC e 16UTC (11h a 13h pelo fuso de Brasília) em estações do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Goiás, Distrito Federal, Amazonas, Mato Grosso e outros estados, a maioria na faixa das 15UTC a 16UTC, logo em torno do meio-dia.

Segundo a meteorologista Estael Sias, sócia-diretora da MetSul Meteorologia, pancadas de chuva e temporais, comuns nesta época do ano, geram correntes descendentes e com resfriamento da atmosfera que eleva a pressão. “Isso poderia explicar a subida da pressão atmosférica em uma estação ou outra com chuva na localidade ou nas proximidades, contudo jamais no mesmo horário, em uma centena de estações, em tantos estados e distantes, do Sul ao Norte do Brasil”. 

Para ela, o que produziu o padrão de incremento súbito da pressão ao redor das 12h deste sábado foi a chegada da onda expansiva que se propagou pelo planeta a partir da explosão do vulcão no Pacífico Sul.

Olhar Digital
Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Os fatores econômicos que travaram melhora do Brasil no IDH



De 2017 para 2018, o Brasil caiu da 78ª para a 79ª posição no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) nesta segunda-feira (9/12).
Na lista anunciada pela ONU, que compara os índices de 189 países e territórios reconhecidos, o IDH do Brasil ficou praticamente estável, subindo, de 0,760 em 2017 para 0,761 em 2018.
O IDH varia de 0 a 1. Quanto mais próximo de 1, melhor é a situação de um país. Em 2019, a Noruega manteve a liderança mundial com pontuação de 0,954. Na última posição entre os 184 países analisados está mais uma vez o Níger (0,377).
Mas, afinal, o que o IDH diz, na prática, sobre a vida da população de cada país? E, se o indicador do Brasil subiu um pouco em 2018, porque ele caiu no ranking mundial, em vez de continuar avançando como vinha fazendo nas últimas décadas?
A BBC News Brasil analisou o relatório para explicar o que os indicadores do IDH apontam sobre a realidade recente do país. Lembrando que o retrato divulgado hoje é anual, referente a 2018, ano da gestão do presidente Michel Temer: ainda não reflete, portanto, nenhuma medida do governo do presidente Jair Bolsonaro.

O que o IDH analisa sobre um país?

Publicado pela primeira vez em 1990, o Índice de Desenvolvimento Humano foi criado como um contraponto ao Produto Interno Bruto (PIB) per capita, que considera apenas os aspectos econômicos do desenvolvimento de um país.
Aos poucos, o IDH tornou-se referência mundial em medida de bem-estar da população, valorizando a importância das condições de desenvolvimento dos seres humanos para medir a prosperidade.
Mas quando se fala em bem-estar, é preciso deixar claro do que trata o indicador. A ONU não mede, por exemplo, se as pessoas são mais felizes em determinado lugar, ou se uma democracia é mais forte que a outra, ou aponta quais os melhores lugares do mundo para se viver.
É uma medida bem técnica, que analisa três fatores principais: a saúde da população, pela expectativa de vida quando as pessoas nascem; o acesso ao conhecimento, pelo número médio de anos de estudo que as pessoas recebem durante a vida; e o padrão de vida, medido pela renda e pelo poder de compra.
Para poderem ser comparados internacionalmente, o Pnud se baseia em dados ONU e do Banco Mundial.
E é importante destacar que, dos anos 1990 para cá, desde que esse indicador passou a ser publicado anualmente, o Brasil melhorou muito.
Entre 1990 e 2018, o índice do Brasil aumentou de 0,613 para 0,761, alta de 24,2%.
Com essa colocação, o Brasil continua no grupo que a ONU considera o dos países que têm alto desenvolvimento humano, mesmo patamar da Colômbia, por exemplo, e com indicadores acima da média para a região da América Latina e Caribe.
Na América do Sul, o Brasil é o 4º país com maior IDH. Chile, Argentina e Uruguai aparecem na frente.

O que fez o Brasil piorar no ranking em 2018?

Segundo o novo documento da ONU, a esperança média de vida dos brasileiros ao nascer estava em 75,7 anos em 2018, contra 73,9 em 2013 - um ganho de quase dois anos, que mostra que o país continuou avançando nesse aspecto.
Já a expectativa de anos de estudo passou de 15,2 para 15,4 no período, enquanto a escolaridade média evoluiu de 7,2 anos para 7,8.
Crianças olhando material escolar em sala de aulaDireito de imagemTÂNIA RÊGO/AGÊNCIA BRASIL
Image captionA expectativa de anos de estudo passou de 15,2 para 15,4 em 2018, enquanto a escolaridade média evoluiu de 7,2 anos para 7,8.
O retrocesso ficou mais evidente no indicador que mede a renda média anual do brasileiro. Em uma das medidas que compõem o IDH, a renda nacional bruta per capita, que estima a renda média ajustada ao poder de compra de cada país, o Brasil registrou em 2018 US$ 14.068, nível próximo ao que era em 2012.
Em 2015, início da recessão econômica, tal indicador era de US$ 14.490. Em 1990, era de US$ 10.082.
Vale explicar que a ONU utiliza o dólar internacional em paridade de poder de compra para estimar a renda nos países, fazendo uma comparação entre preços de produtos e serviços em diferentes países e nos Estados Unidos - é uma medição considerada mais adequada para comparar o bem-estar em diferentes países e não representa a mesma cotação do dólar americano.
Outro número analisado no relatório que dá uma ideia de como a situação econômica piorou durante a crise é o percentual da força de trabalho maior de 15 anos que está procurando emprego, mas não está trabalhando em atividade remunerada e nem de forma autônoma.
Em 2018, tal percentual de desempregados foi de 12,5%, um pouco menor que os 12,8% de 2017, mas bem maiores do que eram antes da crise. Passaram de de 6,7% em 2014 para 11,6% em 2016.
"O que não tem contribuído para o aumento do IDH no Brasil é a parte econômica, porque tem havido uma estagnação desde 2014, 2015. Esperando que a melhora da educação e da saúde se mantenha no futuro, a partir do momento em que a economia se recupere, o IDH do Brasil pode vir a crescer mais rapidamente", disse à BBC News Brasil o economista português Pedro Conceição, diretor do escritório da ONU que produz o relatório.
Conceição considera positivo, porém, o fato de o Brasil seguir em uma trajetória de melhora. "Embora o IDH esteja crescendo pouco nos últimos anos, continua a aumentar."

Por que a desigualdade faz o Brasil menos desenvolvido

O relatório da ONU destaca que, quando ajustado pela desigualdade, o IDH do Brasil cai 24,5%. Como a desigualdade brasileira está entre as mais altas do mundo, esse ajuste derruba o país em 23 posições no ranking, para 0,574.
Colômbia e México, quando analisados na mesma comparação, apresentam perdas do IDH por desigualdade de 23,1% e 22,5%, respectivamente. Na média, tal perda nos países de alto desenvolvimento é de 17,9% e, na América Latina e Caribe, 22,3%.
UTI de hospitalDireito de imagemMARCELLO CASAL JR./AGÊNCIA BRASIL
Image captionNíveis básicos de saúde, educação e padrão de vida são medidos pelo índice da ONU
A parcela dos 10% mais ricos do Brasil concentra cerca de 42% da renda total do país, segundo o relatório.
O documento alerta que no mundo todo, embora os países estejam alcançando ganhos substanciais nos níveis básicos de saúde, educação e padrão de vida, as necessidades de muitas pessoas permanecem não atendidas e, paralelamente, uma próxima geração de desigualdades se inicia, colocando os ricos à frente no desenvolvimento.
A desigualdade é nociva ao desenvolvimento de um país porque, segundo explica a ONU, as condições de partida podem determinar os avanços que uma pessoa consegue alcançar ao longo de sua vida.
"As desigualdades no desenvolvimento humano ferem as sociedades e enfraquecem a coesão social e a confiança das pessoas no governo, nas instituições e umas nas outras. As desigualdades ferem também as economias, impedindo que as pessoas alcancem seu potencial no trabalho e na vida".
Falando da desigualdade global, o relatório cita o exemplo de duas crianças nascidas nos anos 2000, uma em um país com altíssimos níveis de desenvolvimento humano, e outra em um país com baixos níveis de IDH.
A primeira, no exemplo do Pnud, tem mais de 50% de chances de chegar a se matricular no ensino superior: mais da metade dos jovens nos 20 anos em países de alto desenvolvimento humano estão no ensino superior. Em contraste, a segunda tem muito menos probabilidade de permanecer viva.
Cerca de 17% das crianças nascidas em países de baixo desenvolvimento humano nos anos 2000 terão morrido antes de completar 20 anos, em comparação a 1% das crianças em países muito desenvolvidos.
A ONU também destaca que medidas para promover o desenvolvimento na primeira infância, fase fundamental para o potencial das capacidades humanas, tem papel importante para garantir boas condições de partida, logo nos primeiros anos de vida das pessoas.
"As desigualdades nem sempre refletem um mundo injusto. Algumas são provavelmente inevitáveis, como as desigualdades de se desenvolver e criar uma nova tecnologia. Mas quando esses caminhos desiguais têm muito pouco a ver com recompensar talento, esforço ou risco empreendedor, a desigualdade pode ofender o senso de justiça das pessoas e ser uma afronta à dignidade humana", explica o documento, citando injustiças nas áreas de saúde, educação e respeito aos direitos humanos.

Mais políticas para reduzir desigualdades

Em um momento em que se alastram protestos em diversas partes do mundo - dos Coletes Amarelos na França, passando pelos estudantes em Hong Kong, às manifestações em série por países sul-americanos -, o relatório da ONU chama atenção para a necessidade de novas políticas públicas contra as desigualdades.
Ressaltando que as diferenças de oportunidades começam desde antes do nascimento, o documento defende que os governos invistam mais "na aprendizagem, saúde e nutrição das crianças pequenas" para garantir maior igualdade de condições desde a primeira infância.
A ONU também conclama os governos a regular mercados com políticas que garantam "competição saudável", além de proteger os diretos dos trabalhadores.
"Os países com uma força de trabalho mais produtiva tendem a ter uma concentração mais baixa de riqueza no topo, viabilizada, por exemplo, por políticas que apoiam sindicatos mais fortes, estabelecem o salário mínimo certo, criam um caminho da economia informal para a formal, investem em proteção social e atraem mulheres para os locais de trabalho", diz o documento.
Outro ponto importante para a ONU é que os países direcionem sua política fiscal (recolhimento de tributos e gastos públicos) para a redução das desigualdades.
"A tributação não pode ser vista por si só (ou seja, como mera finalidade de arrecadação), mas deve fazer parte de um sistema de políticas, incluindo gastos públicos em saúde, educação e (para incentivar) alternativas a um estilo de vida com uso intensivo de carbono", aponta o documento.
Nesse campo, a organização também destaca a "importância de novos princípios para a tributação internacional", tendo em vista o avanço da digitalização e dos riscos que isso representa para a evasão fiscal (manipulação para pagar menos imposto).
BBC

Professor Edgar Bom Jardim - PE

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Brasil:Cerca de 13 milhões ainda vivem em pobreza extrema, diz IBGE


O Brasil tinha em 2016 cerca de 13,4 milhões de pessoas vivendo em condição de pobreza extrema, divulgou o IBGE nesta sexta-feira (15). De acordo com a pesquisa Síntese dos Indicadores Sociais, com dados do ano passado, 6,5% da população vivia com até US$ 1,90 por dia no país.

A nota de corte considera a classificação de pobreza extrema definida pelo Banco Mundial. Quando convertido para o câmbio da época, o rendimento dessas pessoas fica em R$ 133,70 por mês. O dado não possui base de comparação com outros anos.

A pesquisa mostrou ainda que um quarto da população brasileira (25,4%) vive no nível menos agudo de pobreza do Banco Mundial, de pessoas que têm renda de até US$ 5,50 por dia, ou R$ 387 mensais. O instituto divulgou nesta sexta-feira (15) diversos dados sobre mobilidade social e educacional, nível de renda e trabalho, e também detalhes sobre jovens que nem estudam e nem trabalham no país.

Não existe uma classificação oficial no Brasil do que se considera pobreza extrema. O IBGE mensurou o percentual da população nessas condições conforme diversas definições, além da do Banco Mundial. Um dos conceitos analisados foi o das pessoas aptas a serem beneficiárias do programa Bolsa Família. Segundo o IBGE, 17,5 milhões de pessoas são elegíveis para o programa federal de transferência de renda.

Do total da população brasileira, 4,2% (ou 8,6 milhões) vivem com renda de até R$ 85 por mês -a primeira faixa elegível para obter benefícios do programa. Na segunda faixa, de R$ 85 a R$ 170, o contingente chega a 4,3% da população (8,9 milhões).

Um terceiro conceito analisado foi o de pessoas que recebem até um quarto do salário mínimo por mês (R$ 220), que representam 12,15% da população, ou 25 milhões de pessoas. O contingente avança para 36 milhões (ou 17,8% da população) quando avaliada a faixa que recebe de um quarto do salário até meio salário mínimo.

O salário mínimo em 2016 esteve em R$ 880 por mês. Já em 2017, o valor foi para R$ 937. Há discussões no governo para que esse valor seja reduzido no ano que vem.

Regiões
Apesar de ter registrado diversas faixas conceituais de pobreza, o IBGE aprofundou a investigação dos dados na faixa de corte de pobreza menos aguda do Banco Mundial, de pessoas que vivem com até US$ 5,50 por dia (R$ 387 mensais). Os dados por Estados reforçam a desigualdade entre as regiões mais pobres e as mais ricas do país. Enquanto a média nacional para o conceito é de 25,4% da população, em 15 dos 27 Estados o indicador supera a média. Todos estão nas regiões Norte e Nordeste.

Maranhão (52,4%), Amazonas (49,2%), Acre (46,6%), Pará (45,6%) e Ceará (44,5%) formam o ranking dos locais com o maior percentual de pessoas que vivem na pobreza.
O percentual em São Paulo chega a 12,2% e no Rio, 18,3%. Santa Catarina é o Estado com o menor percentual do país, de 9,4%. Crianças de até 14 anos compõe a maior parcela da população que vive na pobreza: 42,2% ou 42 milhões de pessoas nessa situação.

Pessoas de 30 a 59 anos, contudo, formam o maior contingente em números absolutos nessa faixa de renda: 85,2 milhões no país, de uma população total em 2016 de 207 milhões de pessoas. A faixa responde por 21,3% dos adultos pobres nessa faixa etária. Por tipo de arranjo familiar, lares ocupados por mulheres negras sem cônjuges e com filhos são maioria entre os domicílios com pessoas vivendo em situação de pobreza. O percentual pessoas pobres em lares com essa configuração é o mais alto: 64%.

Enquanto 84,9% da população tem acesso a abastecimento de água por rede geral de distribuição, apenas 73,3% das pessoas na faixa da pobreza dispõe do serviço. O esgotamento sanitário por rede coletora está em 63,5% da população em geral do país, mas nas casas dos que estão na pobreza, o percentual atinge 42,2%.

Aluguel
A pesquisa demonstrou ainda que ser pobre nas áreas mais ricas do país é mais difícil do que em locais de renda menor, principalmente em razão do alto custo da moradia. O IBGE investigou o percentual de pessoas que comprometem mais de 30% de sua renda para pagar moradia.

Segundo o IBGE, 4,5% da população no Brasil tem aluguel que supera 30% da sua renda mensal. O entendimento mundial é que a pessoa vive em risco quando quase um terço de sua renda é destinada a moradia.

Em áreas mais ricas, o percentual de pessoas nessa condição aumenta. O Distrito Federal tem 8,5% da população nessa situação -o maior percentual do país-, seguida de São Paulo (6,7%) e Rio (5,9%). Considerando somente a capital paulista, o percentual vai a 8%.

No Estado do Maranhão, por exemplo, o indicador é bem mais baixo, em 2,2%, assim como no Piauí (1,2%) e Pará (2%). Dos Estados com menos recursos, o Amazonas é o que tem a maior parcela das pessoas que comprometem até 30% de sua renda com aluguel (4,3%).
Com Informação de Folha de Pernambuco
Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 1 de outubro de 2017

Cidades:Por que os agrupamentos urbanos constituem uma das formas mais eficientes de distribuição de riqueza

Beco do Batman no bairro da Vila Madalena em São Paulo (Foto: Eugenio Hansen)
“As cidades são a melhor invenção da humanidade”, afirma Edward Glaeser, professor de economia em Harvard. Os agrupamentos urbanos constituem uma das formas mais eficientes de distribuição de riqueza, e não é por acaso que concentram hoje a maior parte da população mundial.
A importância das cidades para o desenvolvimento econômico e social não exclui a existência de problemas. Exatamente por concentrarem grandes populações, as cidades enfrentam dificuldades e são palco de conflitos. No Brasil, elas apresentam ainda questões primárias, herdadas do apressado processo de urbanização do século XX, como a falta de saneamento, que convivem com as conquistas do século XXI, o acesso amplo à tecnologia e às redes de informação. 
Ainda que as cidades tenham esses dois lados, o positivo e o negativo, elas nem sempre são percebidas assim. Na imprensa, nas redes sociais, no senso comum, as cidades são associadas a trânsito, violência e poluição, a uma qualidade de vida ruim. De fato, como explica Glaeser, esses três problemas são consequências automáticas da aglomeração humana que caracteriza as cidades e só podem ser superados com bom planejamento, boa gestão e comportamento ético dos indivíduos em relação ao coletivo.
O desafio, então, é melhorar o planejamento e a gestão das cidades. Para isso, não basta uma boa administração pública: o envolvimento das empresas e da sociedade civil é essencial. É necessário um ambiente de colaboração e cidadania para que as cidades sejam espaços que atendam adequadamente às demandas da sociedade brasileira atual – extremamente diversa em suas necessidades e interesses.
A mídia também tem um papel importante: tem o poder de influenciar muito na formação da agenda pública, ou seja, naquilo que é discutido e no que não é, naquilo que é percebido como problema e no que não é. Se um fato é noticiado e outro não, e se o fato é noticiado de forma positiva ou negativa, isso é decisivo no processo de produzir uma percepção da realidade para o cidadão comum. A percepção da realidade substitui a realidade em si. A realidade não é inteligível, ao contrário do mundo interpretado pelos meios de comunicação, que já vem decodificado por ordem de relevância e agrupamento temático – manchete da primeira página, nota do Caderno de Cultura, coluna na seção de Cidades.
Há diversos atores sociais produzindo mudanças positivas – na iniciativa privada, no setor público e na sociedade civil. É preciso valorizar as boas iniciativas, destacá-las. Só se fala dos problemas. Precisamos lembrar os brasileiros de que cidades são solução, uma das formas mais simples de distribuição de riqueza e democratização no acesso a oportunidades. Também é necessário incentivar a participação, o comportamento do cidadão. Com a complexidade que a nossa sociedade alcançou, o modelo de governança para as cidades precisa contar com a participação dos diversos setores sociais.
* Marisa Moreira Salles e Tomas Alvim são fundadores do Arq.Futuro
Professor Edgar Bom Jardim - PE

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Separativismo: Espanha X Catalunha. Adeus, Espanha?

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O movimento catalão é intrigante. Não tanto pelo fato de grande parte da população de uma região aspirar com veemência a se separar de um país europeu ao qual está unida há mais de 300 anos, mas pela inépcia com que o governo de Madri enfrenta a situação. Mais difícil ainda é entender a disposição do líder do PSOE, Pedro Sánchez, e do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, de aderirem sem ressalvas a um legalismo pouco persuasivo.
Desde 2012, cada uma das celebrações da Dia da Nacional de Catalunya, aniversário do 11 de setembro de 1714 no qual as forças castelhanas dos Bourbon tomaram Barcelona e suprimiram sua soberania, mobiliza centenas de milhares em um espetáculo de dimensões e organização impressionantes.
Na Europa do Pós-Guerra, apenas Roma, em 2002 contra as reformas trabalhistas de Berlusconi e em 2003 contra a invasão anglo-americana do Iraque, teve manifestações políticas maiores. Mas estas não se repetem todo ano nem representam uma região de apenas 7,5 milhões de habitantes com a capital de 1,6 milhão.
O entusiasmo sustentado dessa parcela importante da população não significa o apoio de uma maioria esmagadora dos catalães à independência total. As pesquisas de opinião dão à proposta um apoio ora um pouco acima, ora algo abaixo de 50%.
Meio país
Desde 2012, as manifestações pela soberania da Catalunha são impressionantes. (Foto: Roser Vilallonga)
Mas o simples fato de a ideia criar tamanha mobilização, conquistar a maioria do Parlamento regional e empolgar políticos e partidos de forma nenhuma fanáticos ou extremistas – o maior, Convergência Democrática da Catalunha, é de resto um comezinho partido liberal – deveria bastar para inspirar tanto.
Some-se a isso que a grande maioria da população da Catalunha – mais de 80%, em pesquisas recentes – quer a soberania, entendida como o direito de decidir, mesmo se for para deixar como está. Uma boa parte está aberta a um meio-termo. Talvez a Catalunha como estado de uma Espanha federal e plurinacional, como sugere o partido Podemos.
Pode ser significativo que as manifestações de 2013, 2014 e 2015, quando a independência não estava na ordem do dia, tenham reunido até 1,8 milhão e a deste ano, a três semanas da data marcada para o referendo, tenha ficado em 800 mil.
Carles
Puigdemont seria mais um político liberal se a questão mal resolvida pela Espanha não lhe desse uma estatura épica (Foto: Luis Gene/AFP)
A palavra de ordem desta feita foi Adéu Espanya e muitos daqueles dispostos a reafirmar seus direitos como nacionalidade podem não querer se comprometer irrevogavelmente com a solução mais radical.
Entretanto, em vez de reconhecer a importância política da questão e negociá-la, o governo de Madri e o Judiciário espanhol optaram por tratá-la como mera questão legal. Juízes e procuradores invocam a Constituição para anular leis votadas pelo Parlamento de Barcelona, abrir processo criminal contra o chefe do governo catalão, Carles Puigdemont, ordenam à polícia catalã confiscar cédulas e urnas e ameaçam prender mais de 700 prefeitos que ofereceram instalações municipais para o plebiscito marcado para 1º de outubro.

Funcionaria, talvez, se fosse frivolidade ou onda passageira, mas não é o caso. É inútil esperar que metade da população de uma região e a maioria de suas lideranças esqueçam suas aspirações apenas por estas serem ilegais para um Estado cuja legitimidade deixaram de reconhecer. Prisões não constrangerão as lideranças – pelo contrário, lhes darão uma aura heroica.
É possível recorrer à força, inclusive militar, para impedir o referendo, dissolver o Parlamento e o governo de Barcelona, e impor interventores, mas o resultado provável seria ampliar o apoio à independência e pôr todo o país no caminho do autoritarismo. Pode ser uma forma de adiar o desfecho, mas torná-lo ainda mais desagradável, inclusive para Madri.
Pode-se compreender que Mariano Rajoy e o rei Filipe VI sejam incapazes de enxergar alternativas. Estão amarrados demais ao ranço totalitário do franquismo e às consequências de uma transição democrática que, como a brasileira, deixou de apurar, julgar e punir os crimes da longa ditadura da qual são herdeiros.
Somado às denúncias de corrupção que os acossam, o patriotismo, como diria Samuel Johnson, é o último refúgio, mas, se esta já pode ser uma manobra arriscada quando o foco é um inimigo externo, mais perigosa é quando se volta contra uma região e uma gente que supostamente se quer manter unidas ao país.
A história pode ajudar a entender. Talvez surpreenda a muitos, inclusive àqueles com algum estudo, saber que “a Espanha” só veio a existir em 1716. Na época de ouro de Cristóvão Colombo, Hernán Cortés, Francisco Pizarro, Miguel de Cervantes, Lope de Vega e Calderón de la Barca havia “as Espanhas”, um grandioso conglomerado de Estados governados por um mesmo soberano sem unidade jurídica, caráter nacional ou nome oficial.
O monarca em Madri intitulava-se “rei de Castela, de Leão, de Aragão, das Duas Sicílias...” e seguia uma lista de mais de 30 reinos, principados, ducados e senhorios com um “etc.” ao final para cobrir qualquer esquecimento.
Não era apenas uma questão de terminologia. Cada reino tinha suas próprias leis, costumes e língua ou dialeto. Enquanto nos mais de dez reinos que constituíam a “coroa de Castela” o Legislativo fora esvaziado e o rei governava por decreto, no reino basco de Navarra e nos reinos ibéricos da “coroa de Aragão” – Aragão propriamente dito, Catalunha, Valência e Maiorca – os respectivos parlamentos ou “cortes” mantinham plenos poderes, inclusive sobre guerra e paz.
A coroa de Castela carregou sozinha os frutos e os ônus da conquista das Américas e das Filipinas. A coroa de Aragão nem sempre acompanhou suas aventuras navais e militares e cuidou das próprias batalhas, negócios e domínios na Itália e no Mediterrâneo, assim como Portugal geriu suas colônias e marinha em separado quando lá reinaram os Filipes.
Isso mudou após Carlos II de Habsburgo morrer sem filhos, em 1700, e legar seus domínios decadentes à dinastia Bourbon. O testamento foi contestado pelos Habsburgo austríacos, resultando nos 13 anos da Guerra da Sucessão Espanhola.
Castela aderiu aos Bourbon, mas Aragão preferiu os Habsburgo, em parte por se ressentir de uma invasão francesa em 1697. Foi só após aquele fatídico dia de 1714 que os domínios remanescentes foram unidos no “Reino da Espanha” e a soberania da Catalunha, suprimida.
Não foi apenas um castigo à sua insubmissão, mas consequência lógica da mentalidade centralizadora e absolutista dos Bourbon, forjada na submissão dos senhores feudais da França e que logo se voltaria também contra a autonomia dos Países Bascos e de Navarra, que os tinham apoiado.

Escócia perdera a soberania para o Reino Unido poucos anos antes, mas de forma não violenta. Uma aventura colonial fracassada falira seu Estado e sua própria elite abriu mão da soberania em troca do perdão da dívida com a Inglaterra. Alemanha e Itália se unificaram bem mais tarde, mas com amplo apoio popular em todas as suas regiões.
A unificação espanhola foi mal resolvida também porque, ao contrário dessas nações, o Estado resultante nunca enfrentou uma grande guerra que o unisse contra um inimigo externo. Pelo contrário, sua história foi marcada por conflitos internos, nos quais se enfrentaram espanhóis de diferentes regiões e ideologias com diferentes aliados internacionais, como na Guerra Civil Espanhola de 1936-1939.
A República Espanhola proclamada em 1931 concedera à Catalunha e ao País Basco uma autonomia que as condições da guerra transformaram em quase independência, incluindo o controle de alfândegas, portos, ferrovias e milícias, mas, com a vitória de Francisco Franco e seus 36 anos de ditadura, o centralismo impôs-se de forma ainda mais intransigente que na monarquia, inclusive com a proibição da publicação de livros em catalão e do uso da língua em público.
Na Catalunha, como no País Basco, a defesa da identidade cultural confundiu-se com a resistência democrática, liberal ou de esquerda. E mais ainda entre os catalães e bascos de raiz incomodados com a migração de espanhóis de outras regiões, alguns dos quais se arrogavam superiores por só falarem castelhano.
Apesar de a redemocratização conceder autonomia limitada a todas as regiões, a óbvia identificação do Partido Popular com a herança franquista e a pouca atenção dos socialistas para suas questões específicas fizeram os grandes partidos nacionais criarem poucas raízes na Catalunha e no País Basco fora dos migrantes e descendentes, fortaleceram os partidos locais e possibilitaram a suas lideranças acentuarem o particularismo para ampliar seu controle da região e evitar a diluição de sua influência no contexto espanhol, apesar da oposição de grandes empresas catalãs com negócios em toda a Espanha.
O fato de não ter havido na Catalunha luta armada comparável à da ETA no País Basco aparentemente só facilitou à classe média se assumir separatista sem o receio de ser considerada “terrorista”.
O conflito ficou mais ou menos restrito a questões culturais e educacionais durante os anos de razoável prosperidade da redemocratização e da formação da União Europeia, mas tornou-se muito mais sério após a crise de 2008, cujos efeitos na Espanha foram particularmente devastadores.
A Catalunha e o País Basco são regiões mais prósperas que a média e à questão da nacionalidade somou-se a crença de que se sairiam melhor se independentes. Os escândalos no resgate de grandes bancos (não catalães), no Partido Popular e nos negócios da família real também não favoreceram a causa da unidade.
Se décadas de negação franquista não fizeram desaparecer o problema, não bastará voltar a proclamar sua inexistência por lei.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 20 de junho de 2017

Período de 1 milhão de anos de intensa atividade vulcânica levou à era dos dinossauros, diz estudo


VulcanoDireito de imagemISTOCK / GETTY IMAGES PLUS
Image captionCientistas dizem que intensas erupções ocorridas há 200 milhões de anos levaram à extinção de várias espécies de animais

Um período de um milhão de anos de uma intensa atividade vulcânica provavelmente abriu caminho para o início da era dos dinossauros, sugere um novo estudo publicado no periódico científico PNAS.
Cientistas encontraram rochas antigas com traços de emissões de massivas erupções vulcânicas ocorridas há cerca de 200 milhões de anos.
Essas erupções teriam levado a uma das maiores extinções em massa de que se tem notícia - a Extinção do Triássico -, permitindo que os dinossauros passassem a dominar o planeta.
Entre as espécies extintas, segundo o estudo, estavam criaturas semelhantes a crocodilos, mamíferos parecidos com répteis e os primeiros anfíbios.
"Os dinossauros puderam explorar os nichos ecológicos que ficaram livres pela extinção", explicou o autor principal do estudo, Lawrence Percival, do departamento de ciências da Terra da Universidade de Oxford.

VulcanoDireito de imagemSCIENCE PHOTO LIBRARY
Image captionCenário nesse período de alta atividade de vulcões era de 'fissuras, rachaduras se abrindo na crosta terrestre com fogo e lava jorrando para fora'

Qualquer ser vivo nas proximidades das erupções teria sido afetado, diz a pesquisa. Mas mesmo criaturas vivendo mais à distância também teriam problemas: as repetidas erupções teriam devastado um habitat extenso, bloqueando o sol e levando ao aumento dos níveis de dióxido de carbono.
Mesmo assim, os primeiros dinossauros desse período conseguiram sobreviver a essas difíceis condições de vida - e os pesquisadores não sabem como.
Assim que os vulcões se acalmaram, restavam poucos de seus competidores, permitindo o surgimento da era dos dinossauros.

Aumento de mercúrio

Os pesquisadores analisaram rochas vulcânicas de quatro continentes que datam deste período turbulento.
Um estudo anterior avaliou como os níveis de carbono variava nas rochas, o que está relacionado com o aumento de dióxido de carbono de erupções vulcânicas.
Mas essa nova pesquisa olhou para outras impressões digitais da atividade vulcânica: o mercúrio.
Quando vulcões entram em erupção, eles emitem mercúrio nas nuvens de gás que sobem rumo ao céu. Ele então se espalha pela atmosfera antes de se depositar entre os sedimentos do solo, onde permanece por milhões de anos.
"Se você vê um grande aumento de mercúrio nestes sedimentos, você pode inferir que houve atividade vulcânica nesse exato momento", explicou Percival. "E isto é o que vemos no momento desta extinção".

Sediments in MoroccoDireito de imagemJESSICA WHITESIDE
Image captionRochas vulcânicas têm traços de mercúrio de erupções antigas

Os pesquisadores descobriram evidências de uma massiva atividade vulcânica que teria se estendido por cerca de 1 milhão de anos.
A professora Tamsin Mather, da Universidade de Oxford, descreveu o possível cenário: "Você tem estas fissuras, estas rachaduras se abrindo na crosta terrestre, com fogo e lava jorrando para fora".

T RexDireito de imagemMILLARD H. SHARP/SCIENCE PHOTO LIBRARY
Image captionEntre as espécies que surgiram após a extinção do Triássico - e dominaram a Terra - estavam os tiranossauros

"Você provavelmente tem diferentes áreas ativas em diferentes períodos durante milhões de anos. E você provavelmente tem períodos de erupções ocorrendo por volta de uma década com grandes volumes de magma e gases surgindo da superfície também".
Os pesquisadores agora querem usar o mercúrio para investigar outros períodos da atividade vulcânica antiga.
"Esta é uma nova e poderosa ferramenta que realmente vai nos permitir entender mais sobre a evolução do nosso planeta e como ele se tornou o que é hoje".
Professor Edgar Bom Jardim - PE