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domingo, 8 de outubro de 2017

'A perseguição nunca acabou', diz autor de livro sobre caçada nazista a gays


Gays em campo nazista
Image captionNos campos de concentração, gays eram discriminados pelos próprios presos e recebiam as piores tarefas / Foto: Divulgação

A Alemanha está finalmente terminando de fazer as pazes com uma parte sombria de seu passado.
Seu Parlamento aprovou neste ano o perdão a dezenas de milhares de homens homossexuais presos por conta de uma lei que permitiu aos nazistas fazer uma caçada aos gays no país - e que permaneceu em vigor décadas após a queda do Terceiro Reich.
"O nazistas queriam expurgar o país da homossexualidade", diz Ken Setterington, autor de Marcados pelo Triângulo Rosa (Melhoramentos), obra recém-lançada no Brasil que trata da opressão vivida por gays no regime de Hitler.
"Gays eram vistos como um atraso, porque não reproduziam e, se fizessem isso, acreditava-se que podiam gerar bebês gays. Isso não condizia com o ideal ariano."
O título do livro faz referência ao símbolo usado nos uniformes para identificar homossexuais em campos de concentração.
Esse capítulo do Holocausto permaneceu oculto por muitos anos e veio à tona com a publicação dos primeiros relatos de vítimas em meados dos anos 1970. Mas está caindo no esquecimento para as novas gerações, diz Setterington.
Trabalhando em uma biblioteca pública em Toronto, no Canadá, o escritor, que é gay, notou nas conversas que tinha com jovens que quase nenhum deles sabia o significado do triângulo rosa.
Usado nos primeiros protestos LGBT, o símbolo perdeu aos poucos espaço para a bandeira do arco-íris. "A bandeira representa a diversidade e é mais inclusiva. É bom que seja popular, mas precisamos nos lembrar de quem foi assassinado por sua homossexualidade", diz Setterington.
Ele diz ter escrito o livro porque essa é "uma parte da história gay que está se perdendo" e para que o público mais jovem "aprenda com o passado para seguir em frente e impedir que se repita".
"Veja o que acontece hoje... Tenho o privilégio de ser do Canadá, mas há locais onde homossexuais ainda são presos e executados. É assustador. A perseguição nunca acabou."

Parágrafo 175

Na Alemanha, estima-se que 50 mil homens homossexuais alemães tenham sido condenados entre 1949 e 1969, dos quais 5 mil ainda estariam vivos.
O perdão concedido a esse grupo conclui um processo iniciado no início da década passada com outros 42 mil presos que tiveram suas condenações pelo regime fascista anuladas.
O parágrafo 175 fazia parte do Código Penal alemão desde 1871 - e só foi eliminado por completo em 1994. A legislação criminalizava atos homossexuais, mas era raramente aplicada.
Foi após Hitler assumir o comando da Alemanha que seu texto passou a vetar, partir de 1935, qualquer tipo de "ato lascivo" entre pessoas do mesmo sexo, e a pena passou a ser de dez anos de trabalho forçado.

Homenagem a gays do Holocausto
Image captionPerseguição a gays por nazistas só veio à tona em meados dos anos 1970 / Foto: Divulgação

Isso transformou radicalmente Berlim, que era até então uma cidade onde gays e lésbicas podiam levar uma vida relativamente normal. Bares e boates frequentados por esse público foram fechados, e homens homossexuais tornaram-se um alvo.
"As prisões começaram devagar e tiveram seu auge entre 1937 e 1939. Logo ficou claro que eles não seriam libertados, mas mandados para os campos", diz.
"Já os gays dos países invadidos não eram presos. Os nazistas acreditavam que mantendo eles lá estavam ajudando a destruir essas sociedades por dentro."

Tratamento cruel

Historiadores não têm pistas de o que levou à escolha do triângulo rosa para identificar homossexuais - principalmente homens, pois lésbicas não sofreram o mesmo grau de perseguição do regime nazista e, quando eram presas, eram normalmente como antissociais, um tipo de detento identificado por um triângulo negro.
Uma vez nos campos, gays recebiam um tratamento cruel. Cabiam a eles os piores trabalhos, diz o escritor canadense. Eram mantidos em barracões separados e discriminados pelos outros prisioneiros.
"A única forma de aliviar essa situação brutal era conseguir a proteção de um kapo, um prisioneiro que recebia dos guardas algum tipo de autoridade sobre os outros. Em troca de favores sexuais, podiam fazer trabalhos mais leves ou conseguir comida extra", relata Setterington.
"Mas isso não significava que eles tinham um relacionamento. O amor era impossível nos campos. Nem servia de garantia alguma. Um triângulo rosa era ser facilmente substituído por outro mais jovem ou mais atraente."
Aos alemães gays, era oferecida uma chance de liberdade: se aceitassem a castração, podiam deixar os campos - diretamente para o front, onde serviam de "bucha de canhão" para o exército alemão.

'A libertação não chegou para eles'


Ken Setterington e capa de seu livro
Image captionEscritor diz que o desconhecimento de jovens sobre esse capítulo do Holocausto o levou a fazer o livro / Foto: Divulgação

Nem o fim da guerra acabou com o sofrimento desses prisioneiros. Sob a lei alemã, eles haviam cometido um crime e, caso sua pena não tivesse acabado, saíam dos campos de concentração para ir parar direto atrás das grades.
"A libertação chegou para os outros, mas não para eles. Eles ainda se mantiveram em silêncio por anos, porque não podiam admitir que eram homossexuais e só fizeram isso quando eram mais velhos e não tinham nada a perder."
Setterington diz que o perdão do Estado alemão, concedido à absoluta maioria deles de forma póstuma, demorou muito tempo e "não apaga a história", mas ainda assim é importante para reafirmar que os nazistas estavam errados.
"Hoje, a tolerância é maior, mas a Alemanha nazista prova que as coisas podem mudar da noite para o dia, como o presidente dos Estados Unidos (Donald Trump) acaba de fazer ao vetar novamente transexuais nas Forças Armadas", afirma o autor.
"O ódio e o medo do diferente persistem. Temos de estar sempre vigilantes."
Professor Edgar Bom Jardim - PE

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Na Inglaterra, exposições com nudez e cenas de sexo não têm restrição de idade


Quadro Banho, de Duncan Grant
Image captionObra de Duncan Grant na mostra sobre arte britânica queer da Tate Britain, em Londres | Foto: Tate Britain

A dona de casa chinesa Tao Wang, de 42 anos, e sua filha de sete anos saem do espaço dedicado a objetos da vida na Grécia e Roma antigas no Museu Britânico, em Londres, e entram na salinha anexa 69 A.
No local estão em exibição pequenos artefatos que dialogam com a questão da sexualidade e da identidade de gênero.
Está lá uma pintura de dois homens deitados, pelados, um de costas para o outro, se beijando na boca, datada do ano 490 a.C. e retirada de uma tumba etrusca. Em outra parede há uma lamparina romana de terracota encontrada na Turquia, do século 1 a.C., que tem esculpida uma cena de sexo oral entre duas mulheres. Outra obra, contemporânea, mostra em um baralho fotografias de pessoas queer(gênero fluido).
Menos de dois minutos depois, Wang sai da exposição "Desejo Amor Identidade: Explorando Histórias LGBTQ", que não contém classificação indicativa nem sinalização sobre o conteúdo em exibição.

A chinesa Tao Wang no Museu Britânico
Image captionA chinesa Tao Wang critica a falta de classificação indicativa na mostra 'Desejo, Amor, Identidade: Explorando Histórias LGBTQ', do Museu Britânico, em Londres | Foto: Lígia Mesquita/BBC Brasil

"Eu achei que fosse uma continuação dessa parte do museu. Deveria ter um aviso de que pode haver imagens inadequadas para crianças. Minha filha ficou me perguntando o que era, se era homem ou mulher (sobre pessoas queer), mas ela ainda é muito nova para eu explicar. Para mim não tem nada chocante, mas para ela ainda tem", diz a turista, moradora da cidade chinesa de Xangai.
Ao seu redor, no museu, estão várias estátuas que exibem nus e até sugerem relações entre pessoas do mesmo sexo. "Mas isso aqui da exposição é um assunto novo. Uma estátua é algo mais neutro, fala da história", diz a mãe.
A psiquiatra infantil americana Sarah Belton, de 34 anos, também passa pela mostra. Diferentemente de Wang, ela não acha necessário haver restrição de idade em museus ou exposições, deixando aos pais a decisão sobre o que fazer.
"Olhe em volta, quanta obra com nudez, por exemplo. Se tivesse que colocar um aviso sobre o conteúdo, teria que botar em todo o museu", diz.

Sem regra

Na Inglaterra, fica a critério dos museus e galerias indicar uma idade apropriada para visitação ou colocar avisos de conteúdo inadequado para menores. Não existe obrigatoriedade de classificação indicativa, como Sérgio de Sá Leitão, ministro da Cultura, sugeriu que o Brasil pudesse adotar, via criação de uma lei, após as recentes polêmicas com a mostra Queermuseu em Porto Alegre e com uma performance com nudez no Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo.
Após a divulgação da imagem de uma criança interagindo com um artista nu nesta última, o Ministério Público de São Paulo abriu investigação para apurar se houve crime ou violações ao Estatuto da Criança e do Adolescente.

Baralho com foto de drag queen de Otsuka Takashi
Image captionObra de temática queer de Otsuka Takashi no Museu Britânico retrata drag queens do Japão | Foto: Lígia Mesquita/BBC Brasil

No caso da mostra do Museu Britânico, a instituição afirma ter sido desnecessário indicar um limite de idade ou exibir sinalização específica para as obras. "Mesmo assim, julgamos cada situação caso a caso."
O museu, que não tem regra definida sobre classificação indicativa em exposições, diz consultar a comunidade local e conselheiros externos para definir como será a exibição de certos tipos de objetos.

50 anos da descriminalização da homossexualidade

No último dia 1º, um dos principais museus britânicos, a Tate Britain, encerrou outra exibição de temática LGBTQ - o "Q" na sigla é de queer -, por causa da celebração de 50 anos da descriminalização da homossexualidade na Inglaterra.

Homens se beijam em pintura de tumba no Museu Britânico
Image captionPintura de tumba etrusca do século 1 a.C. exibida na mostra LGBTQ do Museu Britânico | Foto: Lígia Mesquita/BBC Brasil

A mostra "Queer na Arte Britânica: 1861 - 1967" também não continha classificação etária. O conjunto de galerias da Tate, que inclui também a Modern, em Londres, não restringe exposições por idade.
A regra é que haja sinalização em trabalhos que possam ser entendidos como de cunho sexual ou com conteúdo chocante. Para performances com nudez, essa informação é dada antes que os visitantes comprem seus ingressos.
Isso não impede, no entanto, que o museu tenha problemas com o conteúdo exibido.
Em 2010, por exemplo, uma fotografia da atriz Brooke Shields aos dez anos, toda maquiada, feita por Richard Prince, foi retirada de uma exposição da Tate Modern após a Scotland Yard avisar que ela poderia estar infringindo as leis de obscenidade no país.

Pelados em Paris

Nesta semana, o Museu D'Orsay, de Paris, lançou uma campanha convocando pais a levarem seus filhos "para ver gente nua". Em um dos cartazes está a imagem do quadro "Mulher Nua Deitada", de Auguste Renoir, de 1907.

Obra de Auguste Renoir no cartaz do Museu D'Orsay
Image captionCartaz da nova campanha do Museu D'Orsay, de Paris, que pede para os pais levarem os filhos para ver gente nua | Foto: Reprodução

A diretora de comunicação do D'Orsay, Amélie Hardivillier, disse à Radio France que o objetivo da campanha era se colocar no lugar das crianças quando elas vão aos museus.
Segundo ela, o maior desafio para sua equipe é como atrair mais pessoas aos museus, principalmente crianças e adolescentes.
Hardivillier conta que não censura em nenhuma obra da instituição, nem na famosa tela "A Origem do Mundo", de Gustave Courbet, uma pintura em "close" da genitália feminina.
"Há a relação com a nudez que leva ao debate, sobretudo com essa obra, que é tão sensível. Mas essa também é a função da arte: incomodar, questionar."
Professor Edgar Bom Jardim - PE

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Cinco razões pelas quais as leis sobre armas não mudam nos EUA


Mulher com cartaz dizendo 'nem um a mais'Direito de imagemSPENCER PLATT/GETTY IMAGES
Image captionApós massacre em Las Vegas, defensores do controle de armas renovam coro em prol da regulamentação de armas

Se a história soa familiar é porque uma dinâmica parecida tem se repetido nos últimos anos toda vez que um novo incidente envolvendo violência armada ganha as manchetes nos EUA.
Após o massacre em Las Vegas, em que 59 pessoas foram mortas e mais de 500 feridas por um único atirador, ativistas novos e antigos foram a público pedir leis que restrinjam a aquisição e o porte de armas.
Em âmbito federal, pelo menos, os clamores por uma nova legislação não levaram a quase nenhuma ação em décadas, apesar de inúmeras pesquisas mostrando apoio público generalizado a medidas como reforço na checagem de antecedentes e proibição de armas de alto poder letal, como fuzis de assalto.
Com um índice tão alto de vítimas fatais desta vez, no ataque em Las Vegas, talvez a pressão por mudança seja maior. Mas aqui estão cinco grandes obstáculos que existem nesse caminho.

1. A Associação Nacional do Rifle

A Associação Nacional do Rifle (NRA, na sigla em inglês) é um dos grupos de interesse mais influentes da política americana - não apenas por causa do dinheiro gasto com lobby, mas também por causa do engajamento de seus cinco milhões de membros.
A entidade se opõe à maioria das propostas para fortalecer a regulamentação de armas de fogo e está por trás de esforços em âmbitos federal e estadual para reverter várias restrições a propriedade de armas.
Em 2016, a NRA gastou US$ 4 milhões em lobby e contribuições diretas a políticos, assim como mais de US$ 50 milhões em campanhas políticas, incluindo cerca de US$ 30 milhões para eleger o presidente Donald Trump.
O orçamento anual global da associação gira em torno de US$ 250 milhões, distribuídos entre programas educacionais, centros ligados ao uso de armas, eventos para associados, patrocínios, assessoria legal e esforços afins.
Mas para além dos números, a NRA tem construído reputação em Washington como uma força política capaz de fazer ou derrubar até mesmo os políticos mais fortes.
A associação classifica os políticos de acordo com seus votos e aloca seus recursos e os de seus membros - tanto financeiros quanto organizacionais - para apoiar seus defensores mais ferozes e derrotar adversários.
Como um ex-congressista republicano disse ao jornal The New York Times em 2013: "Esse foi o único grupo em que eu disse: 'Enquanto estiver no cargo, não vou me opor à NRA'".

Membros da Câmara sentam-se no chão Direito de imagemGETTY IMAGES
Image captionAlcançar uma maioria pró-controle de armas nas áreas urbanas seria pouco para mudar a realidade política na Câmara

Será que isso pode mudar?
Os grupos pró-controle de armas, apoiados por ricos benfeitores como o ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg, se tornaram mais organizados nos últimos anos, tentando igualar o poder político da NRA. Mas enquanto os defensores das armas continuarem a acumular vitórias legislativas e eleitorais, eles serão dominantes.

2. Demografia do Congresso

As tentativas mais recentes de aprovar novas leis federais que regulassem as armas de fogo fracassaram antes mesmo de começar, bloqueadas na Câmara dos Deputados dos EUA - que está nas mãos dos republicanos desde 2011.
Em junho de 2016, um grupo de políticos democratas organizou um ato na Casa para protestar contra a decisão da liderança republicana de não colocar em votação dois projetos de lei sobre o tema.
A Câmara tende aos direitos pró-armas pela mesma razão que levou o Partido Republicano a dominá-la recentemente - por causa da forma como os distritos são distribuídos por cada Estado (através de legislações estaduais), o partido tem conseguido mais "assentos seguros" e uma proporção de cadeiras bem maior do que a indicada pelos votos absolutos recebidos.
Os representantes desses distritos costumam responder diretamente à vontade de seus eleitores fiéis - aqueles que votam em eleições primárias do partido - e que não querem ser contrariados, principalmente em questões controversas como o direito de portar armas.
A demografia também desempenha um papel no sentimento pró-armas na Casa, já que existem mais distritos rurais com níveis mais altos de posse de armamentos que urbanos. Ou seja: alcançar uma maioria pró-controle nas áreas urbanas é pouco para mudar essa realidade política na Câmara.
A não ser que ocorra uma migração em massa de liberais urbanos sonhando com uma vida no campo, os dados demográficos continuarão como estão.
No entanto, têm havido esforços para dar uma representação mais justa na distribuição e apontamento de distritos. Barack Obama fez disso um de seus objetivos pós-presidência, e a Suprema Corte atualmente está analisando um questionamento legal aos distritos legislativos de Wisconsin, que dão uma nítida vantagem aos republicanos. Mas não será fácil conseguir alguma mudança expressiva.

3. Tática de obstrução

Se um projeto de lei de controle de armas conseguisse sair da Câmara dos Deputados, ainda enfrentaria um desafio no Senado, onde também pesa a divisão rural-urbana. Os Estados dominados pelos eleitores das grandes cidades, como Nova York, Massachusetts ou Califórnia, são superados em número por Estados rurais e do sul com sentimentos pró-armas.
As regras do Senado também permitem que sejam frustrados esforços no sentido de promulgar uma regulamentação de armas de fogo mais rigorosa graças a uma tática de obstrução conhecida como filibuster - que, em linhas gerais, acaba fazendo com que um projeto que precisava de maioria simples de 51 votos para ser aprovado acabe precisando de 60 votos.
Em 2013, após o tiroteio em uma escola de Newtown, Connecticut, parecia que medidas para fortalecer as verificações de antecedentes de compra de armas contavam com um significativo apoio bipartidário no Senado. Após um esforço combinado de lobby da NRA, no entanto, o projeto recebeu apenas 56 votos a favor, quatro menos que o necessário para quebrar a obstrução.
Nenhuma medida de controle de armas chegou perto de avançar desde então.

Manifestantes em frente a Suprema Corte, em 2008Direito de imagemGETTY IMAGES
Image captionNos últimos anos, o Supremo Tribunal de Justiça decidiu duas vezes que o direito de possuir armas pessoais está na Constituição

Será que isso pode mudar?
Donald Trump tem defendido o fim dessa obstrução, que vê como obstáculo para a promulgação de sua agenda legislativa. A maioria dos senadores está, no entanto, publicamente contra a mudança das regras.

4. Os tribunais

Com o Congresso mais interessado em reverter as regulamentações existentes sobre armas de fogo do que em implantar novas regras, os Estados com tendência mais à esquerda nos Estados Unidos assumiram um papel maior na implementação de medidas de controle de armas.
Após o tiroteio na escola em Newtown, 21 Estados aprovaram novas leis de armas, incluindo a imposição de proibições de armas de combate em Connecticut, Maryland e Nova York.
No entanto, algumas dessas leis enfrentaram outra barreira - o sistema judicial dos EUA. Nos últimos anos, a Suprema Corte do país decidiu duas vezes que o direito de possuir armas pessoais, como pistolas ou revólveres, está na Constituição.
A Segunda Emenda diz que "sendo necessária à segurança de um estado livre a existência de uma milícia bem organizada, o direito das pessoas a manter e portar armas não deve ser violado".
Os ativistas por controle de armas argumentam que o enfoque da cláusula estaria no princípio de criar uma milícia "bem regulamentada". Em 2008, no entanto, a corte - altamente dividida - considerou que a Segunda Emenda estabelece um amplo direito à titularidade de armas de fogo que proíbe exigências rigorosas de registro de armas pessoais.
Desde então, instâncias inferiores tem desafiado proibições de armas de combate impostas por Estados, requisitos de registro e proibições de porte de arma em público. Até agora, no entanto, a Suprema Corte declinou de ouvir novos casos ligados ao assunto.
Será que isso pode mudar?
O juiz Neil Gorsuch, nomeado por Trump, deixou claro que vê os direitos da Segunda Emenda de forma ampla. O presidente está preenchendo tribunais inferiores com juízes pró-direitos a armas. Pelo menos nessa questão, o Judiciário parece estar se movendo para a direita.

5. A diferença de entusiasmo

Talvez o segundo maior obstáculo para novas leis de controle de armas em âmbito nacional seja que os oponentes tendem a manter e defender fortemente suas crenças, enquanto o apoio à nova regulamentação tende a retroceder e fluir em torno de cada novo caso de violência.
A estratégia da NRA e dos políticos pró-armas é aguardar a tempestade passar - e reter esforços legislativos até que a atenção se mova para outra direção e protestos desapareçam.
Os políticos pró-armas oferecem seus pensamentos e orações, observam momentos de silêncio e pedem que bandeiras sejam hasteadas a meio mastro. Então, durante a calmaria, os esforços legislativos são protelados e, em última instância, retirados do caminho.
Na segunda-feira, a secretária de imprensa da Casa Branca, Sarah Huckabee Sanders, disse a jornalistas que "há tempo e lugar para um debate político, mas agora é hora de se unir como país".
Trump, em comentários ao sair da Casa Branca para viagem a Porto Rico, disse que "falaremos sobre leis de armas com o passar do tempo".
Será que isso pode mudar?
De acordo com uma pesquisa realizada durante a campanha presidencial de 2016, armas foram uma questão importante tanto para democratas quanto para republicanos. Isso pode ter sido um reflexo do tiroteio em massa recorde daquele ano em uma discoteca de Orlando - mas também uma primeira indicação de uma nova tendência.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 3 de outubro de 2017

Catalunha vai declarar independência

Carles PuigdemontDireito de imagemAFP/GETTY IMAGES
Image captionCarles Puigdemont, líder catalão, afirmou que seu governo "vai agir no final desta semana ou começo da próxima".
A Catalunha vai declarar sua independência da Espanha em "questão de dias", disse à BBC nesta terça-feira o líder da região autônoma, Carles Puigdemont.
Em sua primeira entrevista desde o referendo de domingo, o presidente regional disse que seu governo "vai agir no final desta semana ou começo da próxima".
"Provavelmente faremos isso quando tenhamos (computado) os votos do exterior - no final desta semana ou algo assim -, então agiremos no fim desta semana ou início da próxima", afirmou.
Questionado sobre o que fará se o governo central espanhol, em Madri, intervir e tomar o controle da administração regional, Puigdemont afirmou que isso seria "um erro que mudaria tudo".
"Cada semana, após cada erro (do governo central), ganhamos mais apoio da sociedade, uma maioria da Catalunha que não aceita esta situação. Portanto, um erro maior, como tomar controle de nossas finanças ou prender membros de nosso governo, inclusive eu, seria um erro que mudaria tudo."
Segundo Puigdemont, não há no momento nenhum diálogo em curso entre Madri - que considera ilegal o referendo de domingo - e seu governo.
O líder regional disse ainda discordar do comunicado emitido na segunda-feira pela Comissão Europeia, que afirmava que os desdobramentos na Catalunha são uma questão interna da Espanha.
A entrevista de Puigdemont ocorreu pouco depois de um pronunciamento televisionado do rei espanhol, Felipe 6º, que declarou que as lideranças catalãs que organizaram o referendo demonstraram "desrespeito pelos poderes do Estado".
"Eles romperam os princípios democráticos do Estado de direito", afirmou o monarca, pedindo união e agregando que a ruptura poderia colocar em risco conquistas econômicas catalãs e espanholas.

Críticas e repressão

Mulher carregada pela guarda municipalDireito de imagemDAVID RAMOS/GETTY IMAGES
Image captionForça local foi criticada por ser passiva pelo governo central, que acionou Guarda Civil e Polícia Nacional para impedir a votação
O referendo de domingo, que questionava a população catalã quanto a se separar ou não do restante da Espanha, foi duramente criticado pelo governo central espanhol e reprimido pela polícia do país.
Episódios de violência policial deixaram quase 900 feridos e despertaram mais protestos nessa região do nordeste espanhol.
Durante a votação, também 33 policiais ficaram feridos, segundo a imprensa local.
O referendo contou com o voto de cerca de 2,2 milhões de pessoas. Segundo o governo catalão, cerca de 90% votaram a favor da independência, mas os resultados oficiais ainda não foram divulgados.
Além disso, o comparecimento às urnas foi de apenas cerca de 42% dos votantes - índice baixo que potencialmente enfraquece Puigdemont.
O líder catalão chegou a afirmar que buscaria um novo entendimento com o governo de Madri, mas este reagiu ameaçando suspender a autonomia catalã.
O premiê espanhol, Mariano Rajoy, afirmou que a votação de domingo "zombou" da democracia.
Com informação da BBC
Professor Edgar Bom Jardim - PE