quinta-feira, 27 de julho de 2017

Para Marina, maioria dos partidos faz 'negócios' em vez de política

RIO - Ex-ministra, ex-senadora, candidata derrotada em duas eleições presidenciais (2010 e 2014) e provável concorrente ao cargo na sucessão de 2018, Marina Silva (Rede) afirmou que “os partidos não estão mais fazendo política, a maioria deles está fazendo negócios”. Ela foi entrevistada pelo jornalista Roberto D’Ávila, em programa exibido na noite desta quarta-feira, 26, pelo canal por assinatura GloboNews.

Marina Silva
A ex-ministra Marina Silva (Rede) Foto: José Patrício/Estadão
A ex-ministra do Meio Ambiente defendeu candidaturas avulsas para concorrer com os partidos. “Os partidos não estão mais fazendo política, a maioria dele está fazendo negócios. É preciso criar uma concorrência idônea para os partidos. Vários países têm candidaturas independentes. Não é a pessoa, é uma lista endossada por um percentual de cidadãos, uma plataforma que precisa ser registrada na Justiça Eleitoral, e com isso você conseguiria recrutar pessoas da sociedade. Esse monopólio fez muito mal à política, e agora os partidos estão se tornando autarquias, com o megafundo partidário que estão querendo e com toda a concentração de poder.”

Marina afirmou que a política está ampliando os problemas nacionais: “Eu tenho dito que a política há muito deixou de ajudar a resolver os problemas e passou a criar problemas. O Brasil era a oitava economia do mundo e despencou em função de decisões políticas equivocadas. Nós eramos um país de pleno emprego e agora temos 14 milhões de desempregados por decisões políticas equivocadas”. Segundo ela, o Brasil está “vivendo num poço sem fundo, o que é pior do que o fundo do poço”. “Nesse momento não vai ter um partido ou uma figura salvadora da pátria”, disse.
Estadão.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

ProfessorEdgarBomJardim: O pior governo da história.

ProfessorEdgarBomJardim: O pior governo da história.: Coragem Temer, renuncia! Pesquisa Ibope divulgada nesta quinta-feira (27) mostra os seguintes percentuais de avaliação do governo do...

Professor Edgar Bom Jardim - PE

O pior governo da história.

Coragem Temer, renuncia!

Pesquisa Ibope divulgada nesta quinta-feira (27) mostra os seguintes percentuais de avaliação do governo do presidente da República, Michel Temer (PMDB):
  • Ótimo/bom: 5%
  • Regular: 21%
  • Ruim/péssimo: 70%
  • Não sabe/não respondeu: 3%
Segundo o Ibope, a aprovação de 5% é a mais baixa desde o início da série histórica do instituto, que teve início em março de 1986. Antes do resultado de Temer, o pior havia sido o do ex-presidente José Sarney, que em junho/julho de 1989 teve 7% de ótimo/bom.
O levantamento do Ibope, encomendado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), foi realizado entre os dias 13 e 16 de julho e ouviu 2 mil pessoas em 125 municípios. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
O nível de confiança da pesquisa divulgada nesta quarta, segundo a CNI, é de 95%, o que quer dizer que, se levarmos em conta a margem de erro de dois pontos, a probabilidade de o resultado retratar a realidade é de 95%.
Esta é a segunda pesquisa Ibope encomendada pela CNI divulgada neste ano. No último levantamento, de março, Temer aparecia com aprovação de 10% dos entrevistados, enquanto 55% consideravam o governo "ruim/péssimo" e 31%, "regular" – à época, 4% não souberam opinar ou não responderam.
Desde que Temer se tornou presidente efetivo, após o impeachment de Dilma Rousseff ser aprovado pelo Congresso Nacional, esta é a quarta pesquisa Ibope encomendada pela CNI (as anteriores foram divulgadas em março deste ano, em dezembro e em outubro de 2016; houve uma em julho do ano passado, mas Temer ainda era presidente em exercício).

Maneira de governar

A pesquisa também avaliou a opinião dos entrevistados sobre a maneira de governar do presidente da República:
  • aprovam: 11%
  • desaprovam: 83%
  • não souberam ou não responderam: 5%
No levantamento divulgado em março, 20% aprovavam; 73% desaprovavam; e 7% não souberam ou não responderam.

Confiança

Outro ponto questionado pelo Ibope foi sobre a confiança dos entrevistados em relação ao presidente.
De acordo com a pesquisa divulgada nesta sexta, 10% dos entrevistados disseram confiar em Temer, enquanto 87% afirmaram não confiar; 3% não souberam ou não responderam.

Comparação com governo Dilma

A pesquisa Ibope também pediu aos entrevistados que comparassem as gestões de Temer e da antecessora, Dilma Rousseff, na Presidência da República.
Segundo o levantamento, 11% dos entrevistados consideram o governo do peemedebista melhor; 35%, igual; 52%, pior; e 2% não souberam ou não responderam.
Sobre as perspectivas em relação ao "restante do governo", 9% responderam "ótimo/bom"; 22%, "regular"; 65%, "ruim/péssimo"; e 5% não souberam ou não responderam.

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Lima Barreto é bom remédio para nossa enxaqueca republicana e democrática, diz Lilia Schwarcz



Lima BarretoDireito de imagemREPRODUÇÃO/DIVULGAÇÃO
Image captionLima Barreto em foto de sua ficha em hospital psiquiátrico, em 1914

Se estivesse vivo, o escritor Lima Barreto (1881-1922) talvez fizesse piada com o 7 x 1 da Alemanha sobre o Brasil ou destilando sarcasmo ao comentar a crise política nacional. Sua picardia, a qualidade de sua prosa, suas críticas aos estrangeirismos e à qualidade do funcionalismo público e sua literatura de temática racial não poderiam estar mais atuais, defende a historiadora Lilia Moritz Schwarcz.
Autora de uma recém-lançada biografia do autor, Lima Barreto - Triste Visionário, publicada pela Companhia das Letras, ela navega pela história do personagem para desaguar em um tratado sobre uma "certa história do Brasil".
Vítima de um grave alcoolismo, que o levou a duas internações manicomiais, Lima Barreto teve sua obra silenciada por muito tempo, já que conseguiu desagradar a toda elite cultural e econômica nacional no início do século passado.
Revisitado política e literariamente, ele é o tema da Flip (Feira Literária de Paraty) deste ano, que acontece entre esta quarta-feira e o domingo. "Essa é a Flip da crise. Tinha que ser o Lima Barreto para ser uma edição mais marginal, que vai ser menor, não vai ter tenda, tem que ser na Igreja, enfim. Parece que o Lima desestabiliza até na Flip, quando chega a vez dele é diferente", disse Schwarcz à BBC Brasil.
Veja a seguir os principais trechos da conversa com a historiadora.


A historiadora Lilia SchwarczDireito de imagemRENATO PARADA/DIVULGAÇÃO
Image captionSchwarcz vê conexões entre seu livro anterior, 'Brasil: Uma Biografia', e obra sobre Lima Barreto

BBC Brasil - A biografia do Lima Barreto sucede seu livro Brasil: Uma Biografia. As duas obras têm algo em comum?
Lilia Schwarcz - Sim. O Lima Barreto teve uma biografia fundamental, do Francisco de Assis Barbosa, de 1951. Mas eu queria outro Lima - que era vítima sim, mas que tinha protagonismo. E eu queria inquerir o tema racial e a questão de gênero - essas são questões da nossa geração, e não podia cobrar isso do Francisco de Assis. Minha geração é que tem convivido com as questões dos direitos civis, das diferenças.
Eu lia Lima Barreto havia muito tempo, já identificava isso e é uma história do Brasil, é uma certa história do Brasil. Quando eu fiz o Brasil: Uma Biografia, muito influenciada pela minha pesquisa, a gente dizia que um dos pilares da história do Brasil é a questão racial, que ainda é uma grande invisibilidade hoje no Brasil.
Para você ter uma ideia, quando eu lancei Brasil: Uma Biografia, não poucos jornalistas me falavam "poxa vida, nunca tinha pensado na história do Brasil sobre esse ângulo". E foi o último país a abolir a escravidão, recebemos 45% dos africanos que foram forçados a sair do seu território, então é um espanto. Eu quero contar a história do Brasil a partir da janela do Lima Barreto.


Anúncio no jornal Direito de imagemACERVO DA FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL
Image captionPágina do jornal 'A Noite', de 1915, anunciando início de publicação de textos de Lima Barreto

BBC Brasil - Além de ser atual pela questão do gênero, de raça, há na obra dele uma decepção com os políticos, presente atualmente também. Como aborda isso?
Schwarcz - Eu começo o livro com uma citação que diz que "O Brasil é uma grande comilança - comem os políticos, os jornalistas, comem os juristas". Você lê aquilo e a sensação que te dá é um dèjá vu. Ela cobre a corrupção da República, cobre o mau uso da res pública a partir de interesses privados. E faz uma crítica feroz aos políticos, chega a dizer "à República do Brasil falta dignidade".
Então ele cobra um Brasil mais inclusivo, mais justo, mais igualitário - problemas que estamos vivendo até hoje. São temas que ele viveu no pós-abolição e que vivemos ainda nessa mesma República falhada que padece com os problemas de corrupção, mas não só disso: de racismo, homofobia. São questões que estão na pauta de Lima Barreto, e que estão na nossa agenda.
BBC Brasil - E ele faz isso com um humor ácido...
Schwarcz - A gente tem esse jeito tão brasileiro de rir da desgraça. Me lembro do 7 x 1 contra a Alemanha, que assim que o jogo terminou comecei a receber mensagens tirando sarro disso, e o Lima tem um pouco disso - muito crítico, muito mordaz, mas ao mesmo tempo muito bem humorado.
As histórias dele sobre o funcionalismo público são de matar de dar risada - ele diz que "você mede a qualidade de um bom funcionário público pela quantidade de vezes que ele abre as gavetas, ou que ele aponta o lápis". E ele tá lá, é funcionário público.
É uma blague que tem a ver com esse modernismo carioca, que durante muito tempo ficou fora da agenda, fora do compasso dos modernismos, e que era um modernismo boêmio e bem humorado.
Era crítico de idealizações do país, era uma literatura crítica, de contestação. E ele faz uma crítica aos estrangeirismos. E teve uma recepção desastrosa na época, como você pode imaginar.


Fotos que constam da 'Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin'Direito de imagemREPRODUÇÃO DE LÚCIA MINDLIN
Image captionJoão Henriques e Amália Augusta, pais de Lima Barreto, em imagens que estão na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindli

BBC Brasil - Desastrosa porque era crítica às elites ou porque já era racialmente engajada?
Schwarcz - Quando eu digo que o Lima Barreto merece mais do que (ser) a vítima, é porque ele tinha um projeto literário, de inserção. E fazer uma literatura negra, afrodescendente, era grave nessa época. Porque era um tema entre muitas aspas, as pessoas achavam desagradável, era melhor não falar disso.
E a gente sabe que naquela época, quem fazia sucesso, virava branco. Tanto nas fotos como na cor. Temos cor social.
No próprio manicômio, ele foi internado como branco e depois, como pardo. Essa é a régua da cor no Brasil. Eu tentei provar no livro que ele trazia esse tema, ele descreve a cor dos personagens de uma forma minuciosa, ele próprio se chamava de azeitona escura.
Para você ter um autor que diz que negro é a cor mais cortante no Brasil - não tem ingenuidade nisso. Ninguém queria falar desse tema.
BBC Brasil - Lima ajudou a impulsionar uma literatura afrodescendente?
Schwarcz - Ele morreu em 1922, aos 41 anos e com a obra muito silenciada. Depois da Nigéria, o Brasil é o maior país de população negra e africana e somente agora começam a aparecer expoentes da literatura negra, afrodescendente.
E eu não chamo de literatura negra quem nasceu negro, não é uma questão de origem, é uma opção - no Lima Barreto é um projeto literário.


Página do jornal 'Cigarra', de 1919Direito de imagemREPRODUÇÃO/DIVULGAÇÃO
Image captionCaricatura de Lima Barreto em página do jornal 'A Cigarra', em 1919

E agora sim, para esse tipo de literatura, o Lima Barreto é sempre lembrado e vai continuar a ser lembrado. E ele nunca esteve tão atual.
BBC Brasil - E pode ser inspirador para esse momento de apatia?
Schwarcz - Lima Barreto é um bom autor para a gente pensar as nossas falácias da democracia e da República. Ele vivia acusando as nossas instituições - a gente anda dizendo que as nossas instituições estão fortes, eu não vejo como. É só um ritual vazio que anda forte, e não as instituições.
E ele falava mal do presidente, do deputado, ele é crítico dos discursos vazios. Ele é um bom remédio para nos curar da nossa enxaqueca republicana e democrática. É um autor que provoca, que não estabiliza.
Exatamente, depois das manifestações, dos panelaços, a gente entrou em um período de apatia. E o período pede de nós - como diria o poeta - vigilância. E não apatia. E o Lima Barreto era muito vigilante, e incômodo na sua vigilância. Ele é bom para nós neste momento.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

quarta-feira, 26 de julho de 2017

Comprador de votos, afirma em artigo Erika Kokay

Temer
Temer utiliza o Palácio do Planalto como trincheira para se proteger e se manter no cargo



O troca-troca imoral de parlamentares na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara não foi o único instrumento utilizado por Michel Temer para se livrar da denúncia de corrupção passiva apresentada pela Procuradoria-Geral da República. Como denunciado diversas vezes pela oposição democrática no parlamento, Temer tem utilizado dinheiro público para se salvar.
De acordo com dados do SIGA Brasil, sistema de informações sobre o orçamento público federal, da consultoria de Orçamento do Senado Federal, houve um crescimento vertiginoso da liberação de emendas parlamentares nos últimos meses.
O levantamento mostra que houve um esquema de distribuição de emendas que beneficiou fartamente partidos e parlamentares da base do governo. Somente entre os meses de abril e junho de 2017 foram distribuídos cerca de R$ 755 milhões aos 19 partidos aliados do governo. Entre os que mais receberam recursos estão o PMDB (1º), PSDB (2º), PP (3º), PSD (4º), PR (5º), DEM (6º), PSB (7º), PTB (8º), PRB (9º), SD (10º).
Chama atenção o fato do PSC, partido de Jair Bolsonaro, ter sido o que mais recebeu recursos quando a análise leva em consideração o montante recebido por cada parlamentar (cerca de R$ 3 milhões) no comparativo com outros parlamentares da base que receberam uma média de R$ 2,2 milhões (PMDB), R$ 2 milhões (PSDB) e R$ 2 milhões (PP). Nenhum dos parlamentares dos dez partidos que mais receberam foram agraciados com montantes inferiores a R$ 1,4 milhão.
Representantes do governo têm dito que os recursos estão sendo distribuídos de forma republicana entre os parlamentares da base e da oposição, o que não se sustenta quando são analisados os números.
Bem diferente dos montantes destinados aos partidos aliados, os recursos da oposição somam volumes muito menores. No mesmo período de abril a junho de 2017, os principais partidos da oposição PT, PDT, PCdoB, PSOL e Rede, tiveram acesso a um valor em emendas ao Orçamento cerca de 12 vezes menor ao que foi distribuído aos partidos aliados de Temer.
Contra fatos não há argumentos. Temer além de utilizar o Palácio do Planalto como trincheira para se proteger e se manter no cargo, não tem tido escrúpulo algum em lançar mão do dinheiro do povo brasileiro para promover a obstrução da justiça a partir do impedimento da admissibilidade das investigações na Câmara Federal.
Ao mesmo tempo em que Temer abre os cofres públicos para impedir qualquer tipo de investigação, o governo promove o aumento das alíquotas de PIS/Cofins para oscombustíveis, principal medida para atingir a meta fiscal de 2017, que tem rombo de R$ 139 bilhões. Ora, justo um governo que surgiu de um golpe fundamentado na tese de um crime de responsabilidade (que nunca existiu) por não cumprimento da meta fiscal?
Temer foi alçado ao Palácio do Planalto apoiado pela FIESP e empresários com o compromisso de não aumentar impostos. Ao optar pelo aumento dos combustíveis, Temer tenta tapar o rombo das contas públicas aumentando o custo de vida e penalizando os mais pobres. Ao mesmo tempo em que não mexe em nada no injusto modelo tributário brasileiro (fortemente regressivo), tal medida também gera um impacto negativo numa economia estagnada e em crise, pois promoverá um efeito cascata no custo de diversos produtos e serviços.
Não é demais lembrar que o aumento de impostos não tem reflexo algum na melhoria das políticas públicas, uma vez que a Emenda Constitucional 95 congelou os gastos públicos com saúde e educação por inaceitáveis 20 anos, mas não mexeu em uma vírgula dos gastos com juros e amortizações da dívida pública, que já consomem mais de 50% do orçamento público brasileiro.
Nesse contexto de crise política, econômica e ética, o que mais preocupa é que o balcão de negócios não parece ter fim. Parlamentares estão em gôndolas e precificados, ao mesmo tempo em que o governo fraco e débil de Temer tem que pagar cada vez mais caro pelo apoio dos fisiologistas.
A estratégia de usurpar recursos públicos para impedir o andamento de investigações certamente custará muito caro ao erário público e ao povo brasileiro. Temer, além da denúncia de corrupção passiva, em análise na Câmara, ainda poderá sofrer ao menos duas outras denúncias por parte da Procuradoria-Geral da República (PGR) por lavagem de dinheiro e obstrução da justiça. Ou seja, as negociações que estão sendo feitas hoje não valerão daqui a alguns dias, quando as novas denúncias forem apresentadas.
A tal “governabilidade” tão propalada por Temer como um trunfo para o mercado foi definitivamente para o espaço. Temer terá de renegociar com a “base” a cada nova denúncia. Não há governabilidade real, mas a compra explícita de apoio transitório e fictício.
Resta saber se restará dinheiro nos cofres públicos para alimentar as inúmeras transações tenebrosas que Temer terá de fazer para se manter cambaleante no cargo.
*Erika Kokay é deputada federal pelo PT-DF
Carta Capital.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Noruega, o país onde todo mundo sabe o salário de todo mundo



NoruegaDireito de imagemGETTY IMAGES

Na última semana, os jornais britânicos revelaram o salário das estrelas da BBC - o que gerou polêmica no país pelos altos valores pagos a alguns e também pela diferença ainda notória nos pagamentos entre apresentadores e apresentadoras.
Na Noruega, por sua vez, esses "segredos" simplesmente não existem. Desde 1814, qualquer pessoa pode descobrir quanto a outra ganha - e isso raramente causa algum problema.
No passado, o salário dos noruegueses era publicado em um livro - uma lista do que todo mundo ganhava, o que cada um tinha e quanto de impostos pagava poderia ser encontrada em uma prateleira da biblioteca pública. Hoje, a informação está online, a apenas alguns cliques de distância.
A mudança aconteceu em 2001, e teve um impacto instantâneo. "Isso se tornou puro entretenimento para muita gente", disse Tom Staavi, que foi editor de economia no VG, um jornal local.
"Em algum momento você automaticamente ficaria sabendo quanto seus amigos do Facebook ganhavam - simplesmente fazendo login no próprio Facebook. Foi ficando ridículo."
A transparência é importante, segundo Staavi, em parte porque noruegueses pagam impostos de renda bastante altos - uma média de 40,2% do que ganham no ano, comparado com a média dos 27,5% do Brasil. A média europeia é 30,1%.
"Quando você paga tudo isso de imposto, você precisa saber que o resto do país está fazendo o mesmo e você tem de saber que o dinheiro está sendo bem utilizado", disse.
"Nós precisamos ter confiança nos dois, tanto no sistema de impostos quanto no sistema de seguridade social", afirmou.


Renda, bens e impostos pagos pela primeira-ministra norueguesa, Erna Solberg
Image captionEm 2015, a premiê, Erna Solberg, recebeu 1.573.544 coroas (R$ 625 mil) de remuneração; sSeus bens foram avaliados em 2.054.896 coroas (R$ 815 mil) e ela pagou 677.459 coroas (R$ 270 mil) em impostos

Pouca diferença salarial

As vantagens da medida são consideradas muito superiores a qualquer problema que possa ser causado pela inveja.
Mas a verdade é que na maioria dos locais de trabalho noruegueses as pessoas têm uma boa ideia de quanto seus colegas estão ganhando, sem ter que ficar procurando por isso.
Salários em muitos setores são estipulados por meio de acordos coletivos, e as diferenças são relativamente baixas.
A disparidade por gênero também é pequena em comparação com padrões internacionais. O Fórum Econômico Mundial coloca a Noruega em terceiro lugar no ranking de 144 países em termos de igualdade salarial entre homens e mulheres pelo desempenho da mesma função.
Logo os números que aparecem no Facebook podem não ter pego muita gente de surpresa. Mas em determinado momento, Tom Staavi e outros negociaram com o governo para criar medidas que motivariam as pessoas a pensar duas vezes antes de bisbilhotar os detalhes salariais de um amigo ou colega.
Agora é preciso logar com seu número de identidade nacional para acessar o arquivo no site dos impostos do governo, e pelos últimos três anos tem sido impossível fazer essa busca de maneira anônima.
"Desde 2014, tem dado para saber quem está fazendo essas buscas sobre suas informações", explicou Hans Christian Holte, chefe das autoridades fiscais da Noruega.
"Nós vimos uma queda significativa, agora temos cerca de um décimo da quantidade de buscas que tínhamos antes. Acho que isso tem diminuído essa mentalidade bisbilhoteira das pessoas."


Hans Christian Holte, chefe das autoridades fiscais da Noruega
Image captionHans Christian Holte, chefe das autoridades fiscais da Noruega, encoraja os noruegueses a reportar suspeitas de evasão fiscal

Adeus bisbilhotagem

Há cerca de três milhões de pessoas pagando impostos na Noruega - a população do país é de 5,2 milhões. As autoridades fiscais contabilizaram 16,5 milhões de buscas no ano anterior ao da adoção das restrições.
Hoje, existem apenas dois milhões de buscas por ano.
Em uma pesquisa recente, 92% das pessoas disseram que não procuravam informações sobre amigos, familiares ou conhecidos.
"Antes eu fazia essas buscas, mas agora fica visível se você fizer isso, então não faço mais", Nelly Bjorge, disse uma mulher que conheci nas ruas de Oslo.
"Eu ficava curiosa sobre alguns vizinhos, sobre algumas celebridades… seria legal saber se pessoas muito ricas estavam burlando o sistema, mas você não consegue saber sempre. Porque há muitas formas de conseguir reduzir sua renda (nos dados do governo)."
As listas de impostos apenas indicam o rendimento líquido das pessoas, os ativos líquidos e os impostos pagos. Alguém com uma grande quantidade de propriedades, por exemplo, provavelmente valeria muito mais do que o número encontrado nessas listas, porque o valor da propriedade tributável geralmente é muito inferior ao valor de mercado que ela tem atualmente.


Desde 1814 os noruegueses conseguem saber quanto cada um de seus compatriotas ganha e quanto paga em impostos
Image captionDesde 1814 os noruegueses conseguem saber quanto cada um de seus compatriotas ganha e quanto paga em impostos

Bullying

Hege Glad, uma professora de Fredrikstad, no sul de Oslo, lembra que, quando era mais nova, adultos costumavam filtrar para examinar os "enormes e grossos" livros de renda e dados tributários, publicados uma vez por ano.
"Sei que meu pai era um desses que ficava procurando. Quando voltava para casa, estava sempre de mau humor porque nossos vizinhos bem de vida estavam listados lá com pouca renda, sem nenhum ativo, e a maioria deles tinha muito pouco imposto para pagar", contou.
Embora seja a favor da transparência nessa área, Glad admite que isso pode ter seus efeitos negativos. Foi o que ela pode constatar na escola.
"Lembro que uma vez eu estava entrando na escola e um grupo de garotos estava pronto para me dizer os rios de dinheiro que o pai de um dos meninos da sala ganhava", disse.
"Depois percebi que alguns dos garotos que geralmente andavam com esse grupo haviam saído de perto calados. O clima entre eles não era dos melhores."
Também havia histórias de crianças de famílias de classe mais baixa que acabaram sofrendo bullying na escola por colegas que bisbilhotavam a situação financeira de seus pais.


Coroa norueguesaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionPara inibir os bisbilhoteiros, desde 2014 as buscas por informações não são mais anônimas

Mais segurança

Hans Christian Holte acredita que o governo hoje chegou ao equilíbrio. O fato de pesquisas anônimas não serem mais permitidas também inibe criminosos de pesquisarem pessoas ricas para colocar no alvo.
Mas as restrições não impediram que as pessoas continuassem denunciando quando vissem situações suspeitas.
"Nós gostamos quando as pessoas fazem buscas que nos ajudam a investigar a evasão fiscal, e a quantidade de denúncias que continuamos recebendo não caiu", disse ele.
"Talvez o prazer dos bisbilhoteiros tenha de uma certa forma acabado, mas você ainda tem motivos legítimos para fazer buscas no sistema. Conseguimos sentir os bons efeitos dessa transparência."
BBC.
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