quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Tuiuti é campeão no coração dos brasileiros

O que importa é que a verdade para o povo brasileiro é que a Tuiuti foi a campeão das escolas de samba do Rio de Janeiro em 2018.


Cante:
Meu Deus! Meu Deus!
Se eu chorar não leve a mal
Pela luz do candeeiro
Liberte o cativeiro social (Meu Deus) "

Meu Deus! Meu Deus!
Se eu chorar não leve a mal
Pela luz do candeeiro
Liberte o cativeiro social

Não sou escravo de nenhum senhor
Meu Paraíso é meu bastião
Meu Tuiuti o quilombo da favela
É sentinela da libertação

Não sou escravo de nenhum senhor
Meu Paraíso é meu bastião
Meu Tuiuti o quilombo da favela
É sentinela da libertação

Irmão de olho claro ou da Guiné
Qual será o valor? Pobre artigo de mercado
Senhor eu não tenho a sua fé, e nem tenho a sua cor
Tenho sangue avermelhado
O mesmo que escorre da ferida
Mostra que a vida se lamenta por nós dois
Mas falta em seu peito um coração
Ao me dar escravidão e um prato de feijão com arroz

Eu fui mandinga, cambinda, haussá
Fui um rei egbá preso na corrente
Sofri nos braços de um capataz
Morri nos canaviais onde se planta gente

Ê calunga! Ê ê calunga!
Preto Velho me contou, Preto Velho me contou
Onde mora a senhora liberdade
Não tem ferro, nem feitor

Amparo do rosário ao negro Benedito
Um grito feito pele de tambor
Deu no noticiário, com lágrimas escrito
Um rito, uma luta, um homem de cor

E assim, quando a lei foi assinada
Uma lua atordoada assistiu fogos no céu
Áurea feito o ouro da bandeira
Fui rezar na cachoeira contra bondade cruel

Meu Deus! Meu Deus!
Se eu chorar não leve a mal
Pela luz do candeeiro
Liberte o cativeiro social

Não sou escravo de nenhum senhor
Meu Paraíso é meu bastião
Meu Tuiuti o quilombo da favela
É sentinela da libertação


Compositor: Claudio Russo, Moacyr Luz, Dona Zezé, Jurandir e Aníbal


samba enredo tuiuti 2018
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Família:como e quando falar sobre sexualidade com as crianças


Criança ouve a barriga da mãeDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionEm vez de inventar histórias, é preciso explicar com naturalidade como funciona a reprodução
O filho da empresária Nathália Paschoalli, Enrico, tem apenas cinco anos, mas já faz inúmeras perguntas sobre sexualidade desde muito pequeno.
"Assim que começou a formular frases, o Enrico perguntava porque a mamãe era diferente do papai, por que o 'pipi' dele era menor que o do papai, por que ele não tinha pelos no corpo etc.", conta a empresária.
As perguntas do pequeno começaram a ficar mais complexas desde que ele fez quatro anos. "Enrico agora tem pedido a nós um irmãozinho e pediu se podia ele carregar o irmão na barriga. Aí teve o drama de descobrir que meninos não podem engravidar."
A naturalidade com que Nathália e o marido tentam explicar as questões de sexualidade para o filho vem da criação que a empresária recebeu da família. Filha de enfermeira e professora de enfermagem, Nathália conta que sempre acompanhava a mãe em palestras sobre Aids e doenças sexualmente transmissíveis.
"A educação sexual que recebi dos meus pais foi muito prática, informativa e pouco romantizada", lembra.
Nem toda pessoa, contudo, recebe educação sexual durante a infância. Para muitas famílias, o tema ainda é tabu dentro de casa.
Enrico com os pais, Nathália e Alexandre
Image captionA curiosidade da criança deve ser a medida para saber quando conversar sobre o assunto | Foto: Arquivo Pessoal
Para o médico Jairo Bouer, educador e pesquisador sobre educação sexual, a falta de informação sobre sexualidade entre os jovens no Brasil contribui para que sejam altos os números de transmissão do HIV, o vírus causador da Aids, e gravidez precoce entre eles, mesmo com a pílula do dia seguinte e inúmeros meios contraceptivos disponíveis à população.
"Hoje, crianças e adolescentes podem pesquisar suas dúvidas na internet ao invés de perguntar aos pais. Por isso, de modo geral, vejo que as crianças se deparam mais cedo com o tema da sexualidade. O problema não é buscar a informação, e sim se deparar com informações erradas e inadequadas para cada fase de desenvolvimento da criança", diz Bouer.
O último relatório da Unaids, programa das Nações Unidas contra a Aids, mostrou que o Brasil é responsável por 40% das novas infecções por HIV na América Latina.
Dados de 2017 do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) mostraram que uma em cada cinco crianças no Brasil é filha de mãe adolescente, sendo que 58% dessas adolescentes não estudavam quando engravidaram.
Segundo dados de 2006 a 2015 da UNFPA, órgão da ONU responsável por questões populacionais, o país tem a 7ª maior taxa de gravidez na adolescência na América do Sul.
"A educação sexual deve começar antes dos dez anos", defende Bouer. "Somente com informação correta aos adolescentes, sem tabus e julgamentos, iremos reduzir os altos números de sexo sem segurança e gravidez na adolescência na adolescência."

Desenvolvendo a identidade sexual

O primeiro contato que temos com a sexualidade, de acordo com Cláudia Bonfim, doutora em Educação e coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação e Sexualidade do Ministério da Educação e autora do livro Educação Sexual e Formação de Professores: da Educação Sexual que Temos à que Queremos, é durante a amamentação.
"A sexualidade nos é apresentada de maneira não verbal: pelo toque dos pais, pelo modo como a mãe amamenta, como o bebê é embalado no colo, como o olham, se o amam etc.", explica a educadora. "Ou seja, a educação sexual nessa fase se dá especialmente por meio dos comportamentos e experiências afetivas-sexuais que o bebê vivencia através da sexualidade dos pais e do meio em que ele vive."
Menina pequena se olha no espelhoDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionAs crianças começam a sentir curiosidade pelo próprio corpo desde cedo
A descoberta do próprio corpo se dá após os 18 meses de idade, quando a criança vivencia a fase anal, que vai até os três anos e meio.
"A fase anal trata de um momento em que a criança começa a obter controle dos esfíncteres anais e da bexiga, controlando a micção e a evacuação. Aprender a ter o controle das suas necessidades fisiológicas significa uma nova forma de prazer e gratificação, inclusive pela atenção que lhes é dedicada e dos elogios que recebe quando passam a ir sozinhas no banheiro", explica Bonfim.
É nesse momento que a criança descobre que tem um órgão sexual, pois é quando começa a manipular estes órgãos, principalmente quando vai ao banheiro. Por isso, a fase anal pode marcar muito a sexualidade da criança, principalmente nos meninos, por terem o órgão sexual externo.
"É importante que os pais a ajudem a criança a reconhecer o corpo nesta fase com naturalidade, sem reprimir suas atitudes, pois o caráter da criança nessa etapa é de reconhecimento corporal, e não erótico", orienta e educadora.
Bouer explica que também é nessa fase que surgem as dúvidas dos pais sobre como agir diante de comportamentos dos filhos com o próprio corpo.
"Atendo mães que costumam reclamar que o filho fica com a mão no pênis o dia todo. A maior aflição delas é não saber como agir: deveriam conversar com o filho ou fingir que não estão vendo? Eu defendo que deve haver uma conversa com a criança de maneira natural e nunca ignorar o comportamento", defende o médico.
Nathália vivenciou essa fase com Enrico - sua primeira reação foi pedir orientação ao médico do menino.
"Estávamos na sala e o Enrico passou por cima de um brinquedo enquanto engatinhava. Ele tinha pouco mais de um ano. Sentiu alguma coisa ali e voltou, num movimento repetitivo. Relatamos ao pediatra e fomos orientados a não tratarmos aquilo como tabu, nem dar a ele a impressão de que masturbação era errado ou proibido", conta a mãe.
A solução encontrada pela empresária e pelo marido foi tentar distrair Enrico da ação, propondo uma atividade que desviasse a atenção do órgão sexual.
"Depois, com ele maior, explicamos que tocar no próprio pênis é gostoso, não tem problema, mas que não é legal fazer na frente das pessoas por ser um momento privado dele com o corpo dele", relata ela.

Quando conversar

"Em um primeiro momento, cabe aos pais ajudar a criança a construir sua sexualidade de maneira positiva", afirma Bonfim.
Mas o que e quando conversar? Para o doutor Bouer, a curiosidade de cada criança deve ser o termômetro dos pais para saber sobre o que e quando falar.
"As curiosidades sobre o corpo são naturais desde muito cedo, e os pais devem sempre responder as perguntas, mas não acho que nessa fase seja necessário dar uma aula para abordar o tema", explica o médico. "Os pais devem ficar atentos às curiosidades que forem surgindo e sempre explicar dentro da capacidade da criança de entender aquela conversa", completa.
Os pais também devem considerar que cada criança tem uma personalidade e entender o tempo de cada uma de descobrir o mundo a sua volta.
Nathália, Enrico e Alexandre
Image captionEnrico começou a demonstrar curiosidade desde muito cedo | Foto: Arquivo Pessoal
"Tem crianças mais curiosas, que perguntam sobre tudo; tem as mais tímidas, que provavelmente terão medo de tocar no assunto. De maneira geral, a criança que convive com outras mais velhas que ela começará a perceber seu corpo e o corpo do outro mais cedo que crianças que convivem somente com adultos", explica o doutor.
Independente de cada caso, para Bouer, o ideal é que conversas sobre sexualidade comecem antes dos dez anos, tanto em casa como na escola. Assim, quando chegarem na adolescência, questões mais complexas, como virgindade, sexo seguro, gravidez etc., serão tratadas com atenção e naturalidade pelo adolescente.
"Se as conversas sobre sexualidade não ocorreram até os dez anos, os pais não deverão escolher estratégias muito invasivas para introduzir conversas sobre sexualidade quando os filhos se tornarem adolescentes, uma vez que eles não foram naturalizados com esse tema na infância", afirma o médico.

Aposentar a cegonha

Muitos pais se questionam se podem ficar nus na frente dos filhos pequenos e se podem tomar banho juntos.
Para Bonfim, a dica é entender que a maneira como os pais lidam com o corpo refletirá no modo como a criança e o adolescente lidarão com o próprio corpo e o do outro.
"Se os pais sempre tomam banho junto com a criança, geralmente esta fase é bem mais tranquila, pois essas diferenças corporais foram sendo internalizadas com naturalidade, sem a curiosidade de tirar a roupa do outro para ver como é, por exemplo", explica a educadora sexual.
Nathália conta que ela e o marido sempre tomaram banho com Enrico, e que a primeira pergunta dele sobre sexualidade foi durante um deles.
"Primeiro ele percebeu que eu era diferente dele e não tinha pênis. Depois, me perguntou: 'Cadê seu pipi, mamãe?'", lembra a empresária.
E como responder tal pergunta a uma criança?
Segundo doutor Bouer, muitos pais e até professores recorrem a metáforas para explicar temas sobre sexualidade, mas nem sempre essa é uma boa estratégia.
"Se a metáfora ajudar a criança a entender o que está sendo falado, sem gerar mais dúvidas na cabeça dela, é válido. Porém, não vale usar uma metáfora para inventar uma situação que não existe no mundo real, como a história da cegonha que trouxe o bebê", adverte o médico". "Precisamos enterrar a história da cegonha."
A mãe de Enrico conta que tenta simplificar as palavras para explicar de um modo que o filho entenda, dentro do contexto da idade e da experiência de mundo que o menino tem.
"O que nunca fizemos foi contar estórias de cegonha, repolho, ou coisas do tipo. Também somos objetivos: explicamos pontualmente o que satisfaz a curiosidade dele e não avançamos", conta a mãe.
"Já aconteceu de uma mãe grávida de uma amiguinha de classe do Enrico tentar explicar para eles que o bebê na barriga dela era uma 'pérola' que o papai plantou com um beijo e o Enrico dizer: 'Não é não, tia. O papai planta a sementinha com o 'pipi'."
Mãe mostra uma camisinha para o filho adolescente, que revira os olhosDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionÉ mais difícil conversar com adolescentes sobre sexo se o assunto não foi tratado com naturalidade na infância
Não diferenciar objetos, cores e comportamentos "permitidos" para meninos e meninas, como forçar as meninas a cruzar as pernas quando sentam ou estimular os meninos a serem agressivos nas brincadeiras, por exemplo, também faz parte de uma educação sexual saudável física e emocionalmente.
"Não ter preconceitos e tabus sexuais começa dentro de casa e na infância. Os pais não devem fazer distinção quanto à utilização de cores e brinquedos entre meninos e meninas. É provado que estes objetos e cores não determinam nossa sexualidade, mas podem interferir na maneira como vemos e respeitamos o sexo oposto e o diferente de nós", afirma Bonfim.
"O maior problema da ideia da fragilidade feminina e da mulher como um ser mais sensível e do homem como um ser que deve reprimir seus sentimentos e ser forte é que geramos mulheres fragilizadas e submissas e homens insensíveis, brutos e com dificuldades de demonstrar seu afeto", completa a educadora.
O mais importante de uma educação sexual consciente para crianças é ensinar o que é amar, se relacionar, o que é afeto e privacidade, assim como identificar o que é abuso. Ou seja, a reconhecer, respeitar e defender o próprio corpo e o corpo do outro.
"Por meio da educação sexual, é possível ensinar a criança a não deixar que nenhuma outra pessoa tire sua roupa, toque em seu corpo e em suas partes íntimas. Também deve-se orientar desde pequeno que, caso essas situações ocorram, ela nunca deve ter vergonha e escondê-las, devem comunicar imediatamente os pais", alerta Bonfim.
"Isso é fundamental para que a criança possa prevenir um abuso ou violência sexual, pois ela saberá diferenciar carinho, afeto, privacidade, de abuso e violência."
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Sepultamento Senhor Antônio Braz ( Coelho ) será nesta quarta às 16 horas

Faleceu na tarde desta terça-feira, 13 de fevereiro, 2018, o Senhor Antônio Braz de Oliveira, Conhecido por "Coelho". o Senhor Antônio era casado com Dona Hilda. Pai de Neide Braz, Nanu, Ná, Dinha e  Roberto. Seu corpo está sendo velado em sua residência,  na Travessa do Derby. A família enlutada agradece o comparecimento e a solidariedade de todos. O sepultamento será às 16 horas, desta quarta (14), na cidade de  Bom Jardim.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

O homem do tempo no V Encontro de Burrinhas,Caboclinhos,Catiniras e Maracatus de Pernambuco

Manoel Kiô, "o homem do chapéu branco, o homem do tempo"
Foto: Enio Andrade
Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Emoção na homenagem do Vai Quem Quer

Carnaval de Bom Jardim 2018



Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 11 de fevereiro de 2018

The Come e Dorme inicia o domingo de carnaval em Bom Jardim

Todos os domingos pela manhã é assim: The Come e Dorme. Quer dizer que a turma tem levantar cedinho, ficar bonit@ e ir para concentração às 7 da manhã, marcar presença na Avenida Zé Moreira de Andrade, centro.   Dançar, renovar energias, colocar os papos, fotos, paqueras, assuntos em dia e lógico beber. Tem muita bebida. É o lado fraco, o pecado que a turma gosta. Tomar uma geladinha... (Lembre-se que bebida e direção não combina). Depois a turma vem com muita disposição dançando, pulando, se divertindo ao modo The Come e Dorme, ano V. tá crescendo. Neste ano venderam 1500 abadás. Recorde na história do bloco e talvez de todos... É assim o carnaval aqui em Bom Jardim. Aqui nasceu Levino Ferreira, cabe mais frevo. O esforço da equipe do bloco é grande e merece respeito.

O Carnaval de Bom Jardim é um diferencial na região. Nos últimos cinco anos vem explodindo, tem potencial. O poder público, o empresariado local, artistas, famílias, autoridades  precisam entender que isso pode trazer mudanças boas se bem trabalhado ou ? 
Leia também:
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http://professoredgarbomjardim-pe.blogspot.com.br/2018/02/desmantelados-arrasta-multidao-no.html

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http://professoredgarbomjardim-pe.blogspot.com.br/2018/02/programacaoatracoes-do-carnaval-de-bom.html

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Bloco Vai Quem Quer faz a festa no domingo de carnaval em Bom Jardim

É uma tradição do carnaval de Bom Jardim, o Bloco Vai Quem Quer inicia sua concentração na Rua Manoel Augusto, servindo uma saborosa feijoada, batida e refrigerante para  participantes e convidados. 
Ivan Luiz, o fundador, também realiza uma homenagem para uma pessoa da cidade, bem no estilo surpresa. Quem será? Este ano o bloco via pra rua puxado por um trio elétrico e o paredão radinho de pilha. Concentração: 10 horas. 
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Desmantelados arrasta multidão no Carnaval de Bom Jardim




O Bloco Desmantelados mais uma vez levou muita gente para brincar nas ruas de Bom Jardim no final de tarde e início da noite do sábado de carnaval. O público jovem canta, dança, bebe muito, paquera, namora se confraterniza ao som de um potente trio elétrico puxado por uma longa carreta. O repertório musical é variado, eclético e lógico cabe mais mais frevo. Notadamente, os jovens de todas as classes sociais faz um esforço para comprar a blusa, vendida por um preço acessível. A equipe organizadora faz um grande esforço para tudo acontecer dentro do planejado: agradar o público jovem, fazer uma grande festa, colocar nas ruas o trio mais potente, desafiar no bom sentido os outros blocos com características que os identificam e os diferenciam. 
Na manhã deste domingo (11), teremos o Bloco The Come e Dorme, ano V. Concentração na Avenida José Moreira de Andrade, Centro. Desfile:9 horas.




Fotos: Enio Andrade.
Por
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Querem privatizar, escravizar a polícia federal. Barroso intima diretor da PF após declaração sobre inquérito que investiga Temer


O ministro do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, determinou a intimação do diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segóvia, após a publicação de uma entrevista em que ele teria antecipado o resultado de um inquérito policial que investiga o presidente Michel Temer. Em despacho deste sábado (10), Barroso, que é relator do caso no STF, afirma que quer ouvir Segóvia para que ele “confirme as declarações” publicadas e “se abstenha de novas manifestações a respeito”.

Em entrevista concedida nesta sexta-feira (9) à Agência Reuters e divulgada no portal da empresa, Segovia afirma que os “indícios são muito frágeis” e sugere que o inquérito "pode até concluir que não houve crime”. De acordo com Barroso, como a investigação não foi concluída e ainda há “diversas diligências pendentes”, o assunto não deveria ser “objeto de comentários públicos”.

Temer é investigado por corrupção ativa, passiva e lavagem de dinheiro por ter, supostamente, recebido vantagens indevidas de uma empresa para editar o chamado Decreto dos Portos. Além dele, são investigados o ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures, que foi assessor especial de Temer, e mais dois empresários. Na entrevista, o diretor-geral da PF diz que o decreto editado “em tese não ajudou a empresa”. “Em tese, se houve corrupção ou ato de corrupção, não se tem notícia do benefício. O benefício não existiu”, afirmou o diretor, conforme reprodução da Agência Reuters.

“No final, a gente pode até concluir que não houve crime. Porque ali, em tese, o que a gente tem visto, nos depoimentos, as pessoas têm reiteradamente confirmado que não houve nenhum tipo de corrupção, não há indícios de, realmente, de qualquer tipo de recurso ou dinheiro envolvidos. Há muitas conversas e poucas afirmações que levem realmente a que haja um crime”, disse, ainda segundo a Reuters.

No despacho, Luís Roberto Barroso lembra que não recebeu o relatório final do delegado encarregado pelas investigações e pede que o Ministério Público tome as providências que entender cabíveis sobre o caso. O relator do processo questiona ainda a fala em que Segóvia teria ameaçado o delegado responsável, que “deve ter autonomia para desenvolver o seu trabalho com isenção e livre de pressões”.

“Tendo em vista que tal conduta, se confirmada, é manifestamente imprópria e pode, em tese, caracterizar infração administrativa e até mesmo penal, determino a intimação do senhor diretor da Polícia Federal, delegado Fernando Segóvia, para que confirme as declarações que foram publicadas, preste os esclarecimentos que lhe pareçam próprios e se abstenha de novas manifestações a respeito”, determinou Luís Roberto Barroso.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

sábado, 10 de fevereiro de 2018

A melhor do mundo:'Grito muito, mas quero eco', diz Elza Soares sobre combate ao racismo

Elza SoaresDireito de imagemELZA SOARES
Image caption"Eu olho para a frente. Eu olho o hoje"
Parece que o fim do mundo está chegando pela janela do apartamento de Elza Soares, empoleirado sobre a Avenida Atlântica, de tão densa a névoa que cobre a Praia de Copacabana. Nem parece haver mar nem horizonte numa tarde abafada do verão carioca. Fim? Nem pensar. A protagonista de "A Mulher do Fim do Mundo", álbum de 2015, continua criando, e se reinventando, aos 80 anos. Elza entra em estúdio na próxima segunda feira para começar a gravar o próximo álbum, que agora proclama no título: "Deus É Mulher".
Elza tem recebido homenagens pelos 80 anos que completou em junho do ano passado, mas já teria 87 anos de acordo com um segundo registro de nascimento. Ela se recusa a falar qual está certo. "Esse negócio de idade... Não tem idade, cara. Sou atemporal."
O mote do novo disco segue a onda de protestos do trabalho recente da cantora, que levanta bandeiras contra o racismo, violência doméstica, homofobia, e agora foca no "empoderamento todo que as mulheres estão tendo, graças a Deus".
'Onde estão os negros?': Elza Soares fala de racismo e violência contra mulher
"Eu vim protestando com "A Mulher do Fim do Mundo" e volto com o mesmo protesto, mas dando mais força às mulheres. Pondo mais a mulher na frente. Nós mulheres sabemos que podemos ficar à frente", diz. "Mulheres podem liderar e pode haver Deus dentro de cada uma de nós. Por que não? Por que Deus não pode ser mulher? Deus é mulher."
Elza diz que o "grito" das mulheres já vem de muitos anos, mas está sendo mais ouvido agora.
"O momento é propício para o grito. Esse grito não pode ser silenciando. Tem que continuar gritando, e muito", afirma.
Elza recebe a BBC Brasil sentada com uma almofada firme nas costas, e permanece na mesma posição até irmos embora, reflexo dos problemas na coluna que a obrigam a fazer fisioterapia três vezes por semana e apresentar todos os shows também sentada. A cantora é avó e bisavó, com sete netos e quatro bisnetos.
Elza SoaresDireito de imagemPATRICIA LINO
Image captionSobre como superou as dificuldades no começo da vida, Elza diz: 'Garra. Vontade. Entendeu? Acreditar.'
Com um medalhão dourado de São Jorge no peito, Elza fala sobre as lutas às quais empresta sua voz rouca e potente, reforçadas pela imagem "guerreira" de quem superou a pobreza, o preconceito, a morte de três filhos e a violência do ex-parceiro, o jogador Mané Garrincha.
Quando eram casados, Elza viveu desde os tempos áureos, com os títulos das Copas de 1958 e 1962, à derrocada do jogador para o alcoolismo no fim da carreira, quando começou a bater nela e chegou a quebrar seus dentes em um ataque.
Uma das músicas do último álbum virou um hino denunciando a violência contra mulheres. "Maria da Vila Matilde" conclama mulheres a ligar para o 180 e denunciar seus parceiros em casos de agressão, com as palavras de ordem: "cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim".
Elza se separou após 17 anos de casamento - e diz gostar de pensar apenas nos bons momentos com Garrincha, sem querer remoer o sofrimento.
Batizada Elza da Conceição, a cantora nasceu em um sítio em Padre Miguel e cresceu em Água Santa em meio à pobreza. Casou-se aos 12 anos. Aos 13 anos, já mãe, perdeu um dos dois filhos para uma pneumonia. Aos 21 tornou-se viúva do primeiro marido, de quem herdou o sobrenome Soares.
A jovem Elza carregou caixa d'água na cabeça e foi doméstica, faxineira, empacotadora - tudo menos cantora. Apesar da inclinação que sentia desde criança, aquele caminho não era uma opção para a família. Quando os dois filhos pegaram uma pneumonia grave e não havia dinheiro para antibióticos, o desespero a levou a se inscrever escondida da família no programa de calouros de Ary Barroso na Rádio Tupi. Vestiu uma roupa larga demais da mãe e enfiou alfinetes onde sobrava pano. O visual ficou tão peculiar que Ary Barroso, ao vê-la, perguntou de que planeta ela vinha.
Elza SoaresDireito de imagemPATRICIA LINO
Image captionCantora cresceu em Água Santa em meio à pobreza
A resposta de Elza, que pesava "30 e poucos quilos", cortou os risos debochados do auditório. "Do planeta fome", rebateu. Ela saiu do programa com um prêmio em dinheiro, correu para a farmácia e medicou os filhos. Um deles reagiu, mas o outro morreu poucos dias depois.
Neste ano, sua história de vida vai virar uma biografia escrita pelo jornalista Zeca Camargo (Editora Leya) e um musical para o teatro. Um filme também está em fase de planejamento, com a atriz Taís Araújo vivendo a protagonista.
Elza se mostra avessa a perguntas que tematizem o passado e a velhice. Medo da morte? "Nunca conversei com ela não. Deixo ela distante."
Uma mesa na sala reúne alguns dos muitos prêmios acumulados pela cantora, que ganhou o Grammy Latino na categoria de melhor disco de música popular brasileira por "A Mulher do Fim do Mundo", em 2016.
Elza Soares e GarrinchaDireito de imagemAGÊNCIA O GLOBO
Image captionElza Soares foi casada durante 17 anos com Garrincha
"Eu não olho para trás. Eu olho para a frente. Eu olho o hoje. É o que eu digo sempre, my name is now", afirma, repetindo o bordão ("meu nome é agora") que deu nome a um documentário sobre sua trajetória, lançado em 2015.
"Deus É Mulher" será lançado ainda neste ano, e a cantora continua em turnê com o show "A Voz e a Máquina" - uma boa metáfora desse corpo que, esteja com 80 anos ou 87, segue enfileirando um projeto atrás do outro. "Meu futuro está aí. Deixa o futuro vir. O passado já foi."
Leia abaixo os principais trechos da entrevista.
BBC Brasil - Elza, existe um conflito sobre a sua data de nascimento. Qual é a verdadeira?
Elza Soares - Não comento. Não se pergunta sobre idade a mulher. Esse negócio de idade... não tem idade, cara. Sou atemporal.
BBC Brasil - Você teve um ressurgimento surpreendente depois do lançamento de 'A Mulher do Fim do Mundo'. Como é se tornar um ícone pop na sua idade?
Elza Soares - Gente, eu não sei sobre esse negócio de idade, o que que tem idade, idade... Você tem o tempo, a matéria, o espírito, entendeu? Acho que quando você resiste, você está bem, aguentando tudo, é maravilhoso. Eu vejo meninos aí não aguentando nada, meninas não aguentando nada.
BBC Brasil - Então como você se sente na fase de vida em que está hoje?
Elza Soares - Completamente bem, fantástica, maravilhosa, trabalhando, viajando muito. Sucesso absoluto. Feliz.
BBC Brasil - O que inspirou a escolha do nome "Deus É Mulher" para o novo disco? Em que sentido você quer dizer que Deus é mulher?
Elza Soares - Com "A Mulher do Fim do Mundo a gente veio denunciar tudo que não presta. Como os problemas não tiveram fim, aliás, é muito difícil acabarem, a gente volta agora com "Deus É Mulher". Acho que as mulheres, com o empoderamento todo que têm agora, graças a Deus, elas podem muito bem liderar e pode haver Deus dentro de cada uma de nós. Por que não? Por que Deus não pode ser mulher? Deus é mulher.
Eu vim protestando com "A Mulher do Fim do Mundo" e volto com o mesmo protesto, mas dando mais força às mulheres. Pondo mais a mulher na frente. Nós mulheres sabemos que podemos ficar à frente. Acho que é por aí.
BBC Brasil - Você já passou por muitas dificuldades na vida. Como a sua trajetória influenciou a sua carreira e o seu jeito de cantar?
Elza Soares - Garra. Vontade. Entendeu? Acreditar. Tudo isso você tem que ter contigo. Eu acredito. Eu tenho garra. Eu tenho persistência. Eu acho que isso faz acontecer.
BBC Brasil - Em seu último disco você toca em temas sensíveis, e um deles é violência doméstica, com a música "Maria da Vila Matilde", que virou uma espécie de hino pela causa. Você sofreu esse problema no passado - o que fez com que, em 2015, você quisesse falar no assunto?
Elza Soares - Eu já vinha falando sobre isso há muito tempo. Eu falo de política desde que comecei a cantar. De ser mulher, de ser negra. De ser mulher negra.
A violência doméstica, por mais que você fale e tente combater, ainda é muito presente. É triste que você ainda tenha a necessidade de fazer músicas falando da violência contra a mulher, que é uma coisa horrível. Isso você vai ter que falar a vida toda? É um câncer, né?
A gente fala da negritude, tem que falar da cor de pele, que é uma coisa absurda, né, tem que estar toda hora gritando, "olha!", "olha!", como um pregão, sempre.
BBC Brasil - Como você vê o movimento atual do feminismo, com tantas mulheres quebrando o silêncio sobre violência sexual e gerando um efeito-dominó de denúncias de assédio?
Elza Soares - Acho que valeu o passado. Acho que para esse presente de agora, valeu o passado. Porque tudo se copia, né? Eu acho que essa cópia aí é maravilhosa, porque as mulheres estão podendo falar mais, estão podendo gritar mais.
Mas isso já vem de um passado em que as mulheres vinham gritando, queimaram sutiãs, foram queimadas. Então você vê que a mulher já vem com um grito de muitos anos. Talvez sejamos ouvidas agora. Agora. Mas esse grito já vem de longe. Acho que o eco está sendo agora, mas o grito vem de longe.
Elza SoaresDireito de imagemPATRICIA LINO
Image caption"A violência doméstica, por mais que você fale e tente combater, ainda é muito presente"
BBC Brasil - O que é diferente no momento atual? Acha que é um momento propício para o grito?
Elza Soares - O momento é propício para o grito, lógico. Esse grito não pode ser silenciado, tem que continuar gritando, e muito. Gritar mesmo, sem interrupção.
BBC Brasil - Você costuma dizer em seus shows que o Brasil é negro. O que você acha que falta para a sociedade encarar de frente a desigualdade racial?
Elza Soares - Deixa eu te contar. Eu recebi uma homenagem no Memorial (da América Latina) em São Paulo com uma orquestra sinfônica maravilhosa (a Jazz Sinfônica), grande maestro, grandes músicos, uma homenagem belíssima. No momento que eu vi a Sinfônica, senti uma coisa meio estranha. Não vi um negro nessa Sinfônica. Então eu pergunto, onde estão meus negros? O que eles estão fazendo? Por favor, lutem, busquem, porque vocês têm o direito também. Aliás, temos o direito.
Quando eu cantei "a carne mais barata no mercado é a carne negra" - não é a carne negra. Foi a carne negra, entendeu? Cantei (a música "A Carne") e fui muito aplaudida quando falei que sentia falta de um negro naquela Sinfônica.
BBC Brasil - Sua história com o Garrincha teve momentos muito difíceis. É deles que você se lembra mais quando pensa nele?
Elza Soares - Eu penso nos momentos de amor. Procuro esquecer os momentos de ódio, porque a coisa pior do mundo é o ódio, né? Então penso no momento de amor, que foi lindo.
BBC Brasil - Você já disse que o futebol brasileiro morreu com ele. Foi isso que causou o 7x1 na Copa de 2014?
Elza Soares - Eu acho que morreu mesmo. É falta de Garrincha, né? Garrincha nunca ganhou dólar, nunca ganhou euro, era canela, pé, aquelas pernas tortas maravilhosas. E aquele menino brincando de jogar futebol, né? Brincando sério.
Elza SoaresDireito de imagemPATRICIA LINO
Image caption"Eu tenho muito medo da palavra ditadura. O Brasil não merece essa palavra"
BBC Brasil - Você viveu a ditadura e chegou a ir para o exílio com o Garrincha. Como você vê o momento político atual do país à luz do que viveu naquela época?
Elza Soares - Eu tenho muito medo da palavra ditadura. O Brasil não merece essa palavra. A gente tem que pensar muito antes de falar sobre política, porque está tudo tão conturbado. O momento pede consciência. Saber o que está acontecendo.
Dizem que a voz do povo é a voz de Deus. Quando o povo quer, a coisa acontece. Tem que ter consciência do momento que estamos atravessando. Por favor, a eleição vem aí, povo, por favor. Olha esse Brasil como é que está. Esse país que, lá fora, às vezes vira brincadeira, vira chacota. Você não quer ver teu país sendo falado dessa maneira tão triste.
Eu sou muito otimista. Eu acredito que isso é um momento que nós estamos atravessando, e vai passar. Acredito. Acredito nesse povo brasileiro sofrido, que isso vai passar. É um momento trágico, um momento ruim, mas acho que vai vir um momento bom para gente também. Assim como veio para a Elza Soares, há de vir para o Brasil.
BBC Brasil - É um momento difícil para o Rio também, com a crise e a onda de violência que o Estado está enfrentando.
Elza Soares: Ah, eu vejo esse Rio chorando. O Rio que é um Rio de alegria. A gente tem uma cidade tão maravilhosa. E passar por esses momentos cruéis assim. Eu vejo o Rio pedindo socorro, pedindo misericórdia, "help me". Assim eu vejo o Rio de Janeiro, pedindo socorro.
BBC Brasil - Quais são as coisas em que você se agarra para ter fé?
Elza Soares - Deus, lógico, primeiramente Deus. Acredito muito em Deus e me agarro nos meus santinhos maravilhosos. Nossa Senhora de Aparecida, São Jorge, sempre pedindo misericórdia. Não peço só para mim, não. Peço misericórdia para a nação.
BBC Brasil - Com toda essa rotina de shows, como é seu dia a dia, sua de cuidar da saúde?
Elza Soares - Eu sou muito tranquila. Cuido muito bem do meu corpo. Três vezes por semana tenho fisioterapia. Cuido da minha saúde, da minha alimentação, eu sei que preciso me cuidar. Por isso que eu digo, cuidem do Brasil porque o Brasil precisa se cuidar.
Elza SoaresDireito de imagemERICK AMARANTE
Image caption"Adoro um espelho. E para adorar um espalho adoro cirurgia plástica, adoro tudo"
BBC Brasil - As pessoas às vezes te associam a cirurgias plásticas, às intervenções que você fez. Como você vê a vaidade feminina e a imagem que você tem?
Elza Soares - Adoro um espelho. E para adorar um espalho adoro cirurgia plástica, adoro tudo. Acho que a mulher merece tudo, tem que ser linda, vaidosa. Mulher. Bons vestidos de seda, boas camisolas lindas, maravilhosas. Olhar no espelho e dizer, sou feliz comigo mesma. É muito bom.
BBC Brasil - Mas a mulher sofre uma objetificação muito forte, a ideia do corpo sarado, das capas de revista com mulheres perfeitas. Você acha que isso tem que ser questionado nesse novo movimento de feminismo?
Elza Soares - Não sei. Eu sei que eu gosto de mim, gosto de malhar, gosto de estar bem. Gosto de fazer uma cirurgia plástica se precisar. Eu não vou fazer mais.
Mas faria cirurgia plástica maravilhosamente bem, não sei se precisa; se precisar, também faço. Eu acho que é por aí. Se o espelho me questionar, vou. Eu falo até para o espelho, pode esperar que eu volto amanhã para você.
BBC Brasil - Você casou com 12 anos. Como foi para você casar tão cedo, e como a sua sexualidade se desenvolveu ao longo da sua vida?
Elza Soares - Eu soltava pipa, jogava bola de gude, com filho no colo. Pegava balão, corria muito, brincava com eles. Foi assim que foi a minha vida. Era criança e mãe. Tanto que meus filhos me chamam de Conceição até hoje. Era como se fôssemos amigos.
BBC Brasil - Com tudo o que você sofreu, o que você diria se pudesse falar com a Elza do passado, ainda menina em Água Santa?
Elza Soares - Não sei. É muito gozado, eu não olho para trás. Eu olho para a frente. Eu olho o hoje. Eu digo sempre, my name is now ("meu nome é hoje"). Eu não gosto muito do passado. O passado já foi, já sei. O futuro não sei o que virá. Então, eu vivo hoje.
BBC Brasil - Como era a sua casa da infância em Água Santa?
Elza Soares - Era bem pobrezinha, mas tinha muita riqueza lá dentro. Tinha toda a minha família. Éramos seis irmãos.
BBC Brasil - Quando você se descobriu cantora? Seus pais eram contra?
Elza Soares - Eu sempre soube. Por incrível que pareça. Sempre gostei de cantar, desde pequenininha. Ser cantora na época era uma coisa pejorativa. Meu pai queria que eu estudasse muito, que não falasse em ser cantora, nada disso. Mas ele tocava violão e pedia para eu cantar com ele... Mas ele queria que eu fosse professora. Olha onde ele queria me jogar, professora. Eu não ia conseguir ser uma boa professora porque não iam me pagar, e eu ia brigar muito. Ia ficar essa coisa horrível de sempre ter uma greve.
Elza SoaresDireito de imagemELZA SOARES
Image caption"É uma mulher que tem coragem de dizer, de lutar, de buscar. Uma mulher que luta, sozinha. Mulher."
BBC Brasil - Quando você era criança adolescente, que música chegava aos seus ouvidos?
Elza Soares - Era só rádio, né? Eu me lembro de Orlando Silva, que chegava para a gente, e de Glenn Miller. O Brasil era todo americano. O Brasil não era Brasil, era Brasil americano.
O Brasil não gosta muito do Brasil. Eu não sei o que acontece. Você liga o rádio ainda hoje e escuta muito pouca música brasileira.
BBC Brasil - O que você acha que você representa como um símbolo musical?
Elza Soares - Cara, é porque eu grito muito, entendeu? Talvez seja pela minha luta, pelas minhas guerras, minhas buscas. Mas eu queria eco dos meus gritos. Pela raça, buscando, falando, brigando por eles. Brigando por nós, né?
BBC Brasil - Você tem medo da morte, Elza?
Elza Soares - Nunca conversei com ela não, entendeu? Deixo ela distante. Não tenho muita confiança com ela não. Deixa ela pra lá.
BBC Brasil - Você não para de fazer planos para o futuro.
Elza Soares - Não, lógico, meu futuro está aí. My name is now. E deixa o futuro vir. Como deveria ser. O passado já foi.
BBC Brasil - O que você diria que é a mulher do fim do mundo?
Elza Soares - É uma mulher que tem coragem de dizer, de lutar, de buscar. Uma mulher que luta, sozinha. Mulher.
Júlia Dias Carneiro/ BBC.
Professor Edgar Bom Jardim - PE