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segunda-feira, 17 de julho de 2017

Ter menos filhos é ação mais eficaz contra aquecimento global, diz estudo


Mulheres passeando com carrinho de bebêDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionPesquisadores calcularam que controle populacional tem impacto muito maior para redução de emissões do que alternativas mais conhecidas

Um estudo publicado neste mês na Suécia prega que ter menos filhos é a ação que pode ter mais impacto no combate às mudanças climáticas.
Mas os pesquisadores da Universidade Lund recomendam tal controle da natalidade apenas em países desenvolvidos, usando como argumento o fato de que nações como os EUA, por exemplo, são responsáveis pelas maiores emissões de carbono na atmosfera (16 toneladas por ano de CO2 per capita) e, por isso, teriam que fazer cortes mais drásticos para atingir "níveis seguros de emissões".
De acordo com os termos do Acordo Climático de Paris, assinado em 2015, 195 países se comprometem a limitar a média global de aumento da temperatura em menos de dois graus Celsius.
Para isso, cientistas estimam que, até o ano de 2050, o volume de emissões per capita não possa ultrapassar 2,1 toneladas de carbono (no Brasil, segundo dados do Banco Mundial, a emissão é de 2,5 toneladas).
Seth Wynes e Kimberly Nicholas afirmam que a redução não poderá ser obtida sem que famílias ou indivíduos tenham um filho a menos, apesar desta não ser a única medida recomendada.
"Não estamos sugerindo que isso vire lei ou coisa parecida. Sabemos que a decisão de ter ou não filhos é talvez a maior que alguém pode ter na vida, e que muitas pessoas não têm o clima como fator preponderante. Vejo isso mais como uma questão pessoal do que de política pública", afirmou Nicholas, em entrevista à BBC Brasil.

Casal comprando carrinho de bebêDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionImpacto ambiental não costuma fazer parte de planejamento familiar

"Apenas quisemos mostrar o impacto que decisões pessoais podem ter nos esforços de prevenção de mudanças climáticas. É importante que as pessoas saibam dessas coisas em suas vidas. Especialmente quando mostramos que ações como a reciclagem ou o uso de lâmpadas LED", completa a especialista.
As conclusões são derivadas de análises e cálculos que, segundo os pesquisadores, levam em conta uma gama de ações individuais, das mais complexas como o controle da natalidade às mais simplórias como a reciclagem de lixo.
Wynes e Nicholas concluem, por exemplo, que ter um filho a menos contribuiria para uma redução média de 58,6 toneladas de CO2 na atmosfera por ano, uma quantidade muito maior que as outras três principais alternativas recomendadas: viver sem carro (2,4 toneladas), evitar viagens de avião (1,6) e adotar uma dieta vegetariana (0,8).

Usina despeja fumaça no céuDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionRecomendação de ter menos filhos é direcionada para países desenvolvidos

O impacto da opção por menos filhos teve como base de cálculo o total estimado de emissões dos filhos e demais descendentes divididos pela expectativa de vida dos pais.
A questão do crescimento populacional já faz parte dos debates sobre impacto humano no meio ambiente e, na última semana, um estudo publicado por acadêmicos da Universidade Stanford (EUA) culpou humanos pelo que classificou como "aniquilação biológica" - a extinção em massa de bilhões de espécies por causa da superpopulação e do consumo.
Segundo Nicholas, não há um número "mágico" de filhos a ser tidos ou evitados para obter um melhor resultado ambiental. Para Wynes, que também falou à BBC Brasil, as características de desenvolvimento dos países deve ser levado em conta no cálculo. No caso do Brasil, um país ainda em desenvolvimento, o consumo de carne e a quantidade de emissão per capita é muito inferior ao dos habitantes dos países altamente desenvolvidos. Por isso, as emissões são menores por pessoa e a diminuição no número de filhos não seria tão significativa.
"Nosso estudo se limitou a avaliar as grandes oportunidades de redução individual de emissões em países em que há as maiores taxas per capita desse tipo de poluição. Naturalmente, escolher ter famílias menores tem um impacto menor no Brasil. Nos países mais prósperos, o consumo de carne é mais alto, e isso aumenta o gasto de água, a necessidade de pastagens e também a liberação de gases. Daí que ter um membro a menos na família em países como os Estados Unidos é relevante para o meio ambiente", diz Wynes.
Em conjunto com a redução do número de filhos, a adoção em massa de uma dieta baseada em vegetais é uma medida importante no combate ao aquecimento global, aponta Wynes.
"Queremos chamar a atenção para um fator que terá influência justamente sobre o futuro das próximas gerações, que herdarão o mundo. E não mostramos apenas a questão populacional, mas também o impacto de uma dieta vegetariana e de uma vida sem carro. Elas também têm impacto positivo", conclui Nicholas.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 9 de julho de 2017

Egoístas, egocêntricos, alienados e inconsequentes


Por Isabel Cristina Gonçalves
Acabaram as festas, janeiro começou e em breve o ano letivo ganhará vida. Novos calouros ávidos por uma “nova” vida de descobertas desembarcarão em Adamantina. Nem faz um ano uma garota, em sua primeira semana de aula na faculdade, teve suas pernas queimadas em um dia de acolhimento de calouros. Jovem, em seus 17 anos e feliz por realizar o sonho de ingressar em uma faculdade. Mas em um dia que deveria ser de festa foi interceptada por “colegas” veteranos. Foi pintada com tintas e esmalte até que sentiu que jogaram um líquido em suas pernas. Nada notou até que a água da chuva, por ironia, em lugar de lavar e limpá-la provocou uma reação química que resultou em queimaduras de terceiro grau em suas duas pernas. O mesmo aconteceu com uma colega de turma que teve as pernas queimadas e outro rapaz que correu o risco de perder a visão. O líquido? Uma provável mistura de creolina e ácido!
Casos amplamente noticiados pela imprensa local, regional e nacional. Mas relatos contam mais sobre este dia trágico, como inúmeros casos registrados de coma alcoólico, além de meninas que tiveram suas roubas rasgadas e sofreram toda uma série de constrangimentos.
Fatos como estes contribuem para nos trazer de volta a realidade e, guardadas as devidas proporções, ilustra que vivemos sim em um país onde a “barbárie” ganha força e impera em diversos núcleos de nossa sociedade e se alastra com uma rapidez de rastilho de pólvora. Casos se repetem em diversos estados e cidades, o caso dos calouros da FAI de Adamantina não é e nem será o último, quantas tristes histórias já foram relatadas, como a do o jovem morto atirado em uma piscina da USP, amanhã mais um gay ou um negro, ou mais uma mulher que não se “deu o valor” e andou por aí exibindo seu corpo.
Vivemos em uma sociedade de alienados, sujeitos que não conseguem sequer interpretar um texto, nossas crianças são “condicionados nas escolas” jamais educados. Infelizmente não há cultura neste país da desigualdade. Parece que perdemos a capacidade de raciocinar, de entender o contexto e complexidade de tudo os que nos cerca. Ninguém discute com seriedade o que está levando a nossa sociedade a viver na idade das trevas.
O apresentador Chico Pinheiro do Bom dia Brasil, revoltado com os trotes violentos, afirmou que estes alunos deveriam voltar para o ensino fundamental. Discordo radicalmente dele, estes alunos deveriam voltar para o seio de suas famílias e lá, sim, receber educação básica, educação para a vida.
Os pais estão terceirizando a educação de seus filhos e, em um mundo sem tempo e repleto de culpa delegam a educação de seus filhos a professores que não podem ser responsabilizados e muito menos tem competência e formação para isso. Professores são facilitadores da inteligência coletiva, pais são os educadores na/da/para a vida!
Nos dias de hoje o tempo passa rápido demais. Muito rápido, tão rápido que nem dá tempo de tentar entender e processar o que foi vivido nas poucas horas atrás.
A molecada acorda cedo, vai pra escola. Chega em casa, almoça ao mesmo tempo que assiste TV, atualiza a conversa no WhatsApp, checa sua ‘TimeLine’ no Facebook, curte páginas dos amigos, coloca em dia as curtidas do Instagram e comenta de forma superficial – pois não compreende o contexto e complexidade – as reportagens da TV. Se perguntar quem dividiu a mesa com eles (os pais também estão brincando com o celular) é possível que nem tenham se dado conta, pois estão mais próximos dos amigos “virtuais” do que daqueles que compartilham o mesmo espaço, a mesma mesa e a mesma comida com eles. Mas o mais trágico nisso tudo é que os pais, também, estão sentados à mesa assistindo TV, atualizando a conversa no WhatsApp, checando sua ‘TimeLine’ no Facebook, colocando em dia as curtidas do Instagram e comentando de forma superficial as reportagens da TV.
Depois do almoço os pais irão para o trabalho e os filhos para a aula de computação, inglês, academia…
À noite ficarão no quarto em frente ao note navegando por sites que jamais se lembrarão, conversando pelo skype, jogando on line, até a hora de dormir.
No final de semana estes jovens dormirão a maior parte do tempo para se preparar para a noite, para a balada, onde pegarão todos e todas e beberão até cair.
Estes jovens entram muito cedo em sua vida pretensamente “adulta”. Já “brincam” de papai e mamãe antes mesmo de brincar de casinha. Estes jovens são lançados da infância, cada vez mais curta, direto para a vida “adulta”, passando sem piscar pela adolescência.
Qual estrutura e base estes jovens terão para superar conflitos pessoais? Comportam-se como adultos aos 13, 14, 15 anos e, em muitos casos são tratados como adultos, mas não são adultos, são crianças e adolescentes que não sabem absolutamente nada da vida, mas são cobrados como se soubessem de tudo e pior, acreditam que sabem sobre tudo. Eles querem ser aceitos, infelizmente querem ser aceitos em um mundo irreal de aparências!
Nesse “nosso” mundo do “parecer”, do “fake”, do consumo do corpo perfeito, da mentira perfeita, do dinheiro a qualquer custo, do consumir e exibir, da exposição sem limites, da falsa propaganda que vende vidas “perfeitas” somos “forçados” a fazer parte dessa sociedade de “mentirinha”.
Na sociedade do consumo do corpo perfeito, da vida perfeita, do ser perfeito, não existe espaço pra “ser humano”, não existe lugar “para sermos quem somos”, aqueles que exibem suas imperfeições, pois o imperfeito não cabe na aparência perfeita do mundo da mentira.
Todos nós queremos fazer parte de algo, ser parte de algo. Principalmente quando somos jovens. Nossa turma é nossa razão de ser e estar no mundo. Comportamo-nos como tribos, somos territorialistas e, fazer parte deste “algo” nos confere identidade. E aí para fazer parte desse mundo, o jovem segue a turma, mesmo em muitos casos, sem saber por que está fazendo isso, mesmo sabendo que muitas coisas que fazem são erradas, vale a pena correr o risco para “ser” parte da turma!
E neste mundo, empoeirado, intenta-se forçar o sujeito a aderir sem contestação ao padrão de ser e estar neste “mundo”, reduzindo sublimes e maravilhosas peculiaridades e particularidades, ou seja, nossas magníficas diferenças, em uma uniformidade que se encaixa na perfeita adequação a uma sociedade tamponada, uniforme, opaca, moralista, hipócrita. É a construção de um mundo baseado em mentiras e sem alicerce.
As inquietudes de nossa alma deveriam ser tratadas em nossas relações cotidianas, primeiro no seio carinhoso da família, depois nas escolas, nos relacionando com os professores e com os colegas de aula, com os amigos e também com os inimigos, com os namorados, patrões… Vivendo nossas experiências boas e más, aprendendo a entendê-las. Passamos por frustrações a aprendemos a superá-las.
Este é o ciclo natural das coisas, é preciso viver para compreender a vida, viver todas as emoções, boas e más, sorrir, chorar, vencer, perder, amar, rejeitar, ser rejeitado, ter amigos, inimigos, construir alianças, quebrá-las… Cabe a família dar o suporte, fornecer o alicerce para que este ser, mesmo em épocas de tempestade, não desmorone. E na convivência cotidiana, construirá seu edifício interno, com janelas, portas, divisórias, que poderá balançar em muitos casos, mas jamais desabar se bem estruturado.
Mas como educar se os pais não têm “tempo” para ajudar estes jovens a construir sua estrutura?
Os filhos não têm “tempo” para escutar o que os pais têm pra dizer, talvez uma conferência familiar pelo Whats ou Skype, quem sabe…
Os amigos não têm todas as respostas
E talvez o mais triste para esta geração
O Google não tem todas as respostas.
Nossos jovens produzem eventos para postar, ser curtido e comentado. Situações são criadas para movimentar e dar liquidez ao “mercado” da popularidade, as “ações pessoais na bolsa virtual” crescem conforme o número de “posts, comments e likes”. Uma sociedade baseada no consumismo, que valora cada ser humano por seus bens de consumo e potencial de exibição do produto, passou a consumir avidamente “vidas”. Vidas são colocadas em exposição, para o deleite do consumidor e regozijo daquele que se expõe, pois quanto mais visto, mais é consumido, assim, ganha popularidade, consequentemente “poder”. Uma sociedade sem amor, sem paz e sem alma.
A alma não está sendo vendida para o diabo, mas sim, depositada em sites de relacionamento e eventos que precisam ser constantemente alimentados para nutrir o mercado. Se não existe um evento, tudo bem, faz-se imagem de si mesmo, pois a imagem é tudo neste mundo baseado no TER, SER não importa, o que vale é PARECER e, para parecer e aparecer é preciso exibir.
É imperativo que estes jovens compreendam que eles NÃO têm o valor do que é “consumido” ou do que consomem em imagens, exposição, “likes”, compartilhamentos e “comments”. O seu valor não é “subjetivo e líquido”, pois este “valor” está na forma como ele se constitui enquanto ser humano real. SER REAL não é nada fácil no mundo “líquido”, mas precisamos tentar, não apenas com os jovens, mas também em relação a nossas vidas, pois creio que se hoje estas moças e moços vivem dessa forma, não são nada diferente de quem os criou, pois nossa sociedade vive de ter e exibir, nossa juventude nada mais é do que reflexo de uma sociedade “adoentada”.
Pois nossas crianças já nascem sem tempo, extremamente competitivas, presas em escolas integrais que garantirão seu “futuro”. E dessa forma continuarão a lubrificar as engrenagens de nossa sociedade doente e “medicada” que confunde saúde com remédios, consumo com qualidade de vida, amor com bens de consumo. Estamos formando uma geração de egoístas, alienados e inconsequentes, que se preocupam mais com sua imagem do que em “ser” humano.
Quando somos jovens, acreditamos que sabemos tudo, que estamos prontos para a vida, mas viver nos ensina que a gente não sabe NADA sobre a vida. Compreender e aceitar que não somos e nunca seremos perfeitos, que simplesmente não sabemos de quase nada e nem temos certeza de tudo, nos torna mais abertos, mais humanos, mais doces, mais amorosos e tolerantes, com nós mesmos e com os outros.
Mas para que nossos jovens possam compreender tudo isso, precisamos cria-los para que sejam mais humanos, colaborativos, criativos, transgressores, mas para isso, precisarão ser ensinados que serão alguém, não pela quantidade de bens que possuírem e exibirem, mas sim, por “ser” humano, “ser” como verbo de ação!
Isabel Cristina Gonçalves é Adamantinense, Oceanógrafa, Mestre em Educação e Doutora em Educação Ambiental. Atualmente trabalha como pesquisadora, Pós-Doutoranda, pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) no projeto: “Mudanças climáticas globais e impactos na zona costeira: modelos, indicadores, obras civis e fatores de mitigação/adaptação – REDELITORAL NORTE SP”
Título Original:Estamos formando uma geração de egoístas, egocêntricos, alienados e inconsequentes
resilienciamag
Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 21 de maio de 2017

Redes sociais

A pressa comanda muita coisa. Não é estranho que o trabalho se insira no cotidiano determinando ordens e excluindo prazeres. A sociedade exige que as pessoas se movimentem e busquem a sobrevivência. O importante é se localizar, construir narrativas que mostrem interesses em seguir adiante com projetos de sucesso. Estamos fazendo uma afirmação genérica, mas há quem se encante com a correria e não são poucos. O sistema sabe conduzir seus êxitos. Quem se enquadra, sofre crítica e marginalizações. As formas de rebeldia são , muitas vezes, previstas e não amedrontam os vencedores. Eles refinam suas artimanhas e seus poderes de convencimento.
Com o consumismo atingindo os desejos, as mercadorias ganham espaços privilegiados. Portanto, o mandamento da acumulação mantém sua supremacia. Há quem a confunda a felicidade com a renovação dos objetos que possui. O exibicionismo dispara o uso dos cartões de crédito. A cartografia dos sentimentos se enche de desenhos estranhos e descuidados. O discurso da servidão voluntária invade as relações entre dominantes e dominados. O capitalismo cria meios de sedução, não desprezando a tecnologia que antes significava libertação. Portanto, temos uma sociedade modernizada, porém longe dos valores tão cantados pelo iluminismo.
As análises de Freud e dos pensadores da Escola de Frankfurt não se enganaram ao afirmar que vivemos numa sociedade administrada. Quem controla não poupa ciências, pedagogias, fascínios pela grana. O fluir dos sentimentos fica atrelado ao jogo de perde e ganha dos produtos comerciais. As escolas reverenciam concepções de mundo que marcam o individualismo. Reflexões mínimas, caminhos abertos para chegar à fama, estímulo às espertezas mais sutis.  Não há, certamente, um controle absoluto, pois seria a negação da história enquanto construção da possibilidade. O sonho coletivo persiste, apesar de todos os malabarismos egocentristas.
A renovação da tecnologia  é acompanhada por transformações na cultura. A pressa diminui o cuidado, faz o afeto mergulhar em águas turbulentas. No entanto, nem tudo é um labirinto escuro e sem alternativas. Cabem invenções e outras formas de aproximação. Não dá para expulsar os mascarados, nem sacudir fora as diferenças, Surgem as redes sociais, com todas as simulações, sem,contudo, negar que há condições de não recuar diante das pressões dos monopólios. As brechas permitem que as desobediências não se intimidem. Os contrapontos dão ritmos dissonantes e quebram a apatia conformista.
As redes sociais são territórios de amplos diálogos, de exposçião de imagens pessoais, de consagração de triunfos. Outros cotidianos estão se alargando. Os celulares contribuem para a comunicação com códigos especiais. Cada época reformula cartografias, conversa com as tradições e repensa as cores da felicidade. As cartografias fogem em busca de geometrias, talvez, mais audazes. É difícil se avaliar. A luta política não é  a mesma. Há quem proteste, contaminado pela lógica do capital. O conhecer ajuda a desfazer infortúnios. Não podemos esquecer que a modernidade é também um projeto de exploração, não se rendeu às utopias mais profundas. O utilitarismo justifica desigualdades, pois preserva hierarquias e desmonta solidariedades.


Fanzine, neologismo oriundo da expressão em inglês fanatic magazine, se aplica a jornais e panfletos, escritos à mão ou à máquina de escrever, resultado de montagens com revistas e jornais, ou mesmo textos digitados em computador. Fanzine entre outras coisas é cultura, é arte, é contracultura e subversão.
Um jovem escreve fragmentos de texto. Recorta, cola, mescla com fotos, marca com caneta, complementa. São diferentes cores, e temáticas mais diversas ainda: pedaços de revistas em quadrinhos – seja de heróis das HQs norte-americanas, seja de japoneses com olhos enormes e cabelos coloridos, fotos de artistas de cinema e TV, fragmentos de notícias sobre assuntos diversos. Cultura, arte, protesto, contracultura. Fazem-se cópias em mimeógrafo ou fotocopiadoras, e está pronto. Ou não?
Antes de qualquer coisa, cabe responder a quem pergunta: afinal, o que são fanzines? O termo, um neologismo oriundo da expressão em inglês fanatic magazine, se aplica a jornais e panfletos, escritos à mão ou à máquina de escrever, resultado de montagens com revistas e jornais, ou mesmo textos digitados em computador, com conteúdo mais elaborado. As múltiplas temáticas que se apresentam nessa literatura denotam a criatividade de seus produtores, e as possibilidades de leitura e utilização prática dos mesmos.
Literatura ordinária, porém elaborada
Os fanzines chegam ao Brasil em 1965, com ‘O Cobra’, resultado da 1ª Convenção Brasileira de Ficção Científica, acontecida em São Paulo. Marcados, originalmente, por serem feitos de ‘qualquer jeito’ ou por um conteúdo ‘sem pé nem cabeça’, os fanzines ganham, com o passar do tempo, um caráter de maior elaboração e significado. A presença de computadores, programas de edição de textos e imagens, cria a possibilidade de brincadeiras com marcas, textos clássicos, letras de música, fotografias de celebridades ou de desenhos animados. Dos fanzines escritos à mão e rodados em estêncil, chega-se, nos dias atuais, aos e-zines, produzidos e divulgados em meio virtual. No caminho que leva a essa “evolução” nos meios de se fazer e difundir tal arte houve, na relação entre “zineiros” do Brasil e do mundo, a presença marcantes das caixas-postais, através das quais seus jornais e revistas eram socializados.
Na diversidade de textos componentes dos fanzines, é possível encontrar dos temáticos aos doutrinários. Muitos, marcados por fazer coro à legião de fãs de determinado artista de TV, cinema ou música; ou mesmo a personagens de novelas, seriados, desenhos animados, livros e HQs. Outros, no entanto, cuja principal característica é o conteúdo político-ideológico, e a difusão de uma contracultura, marcada pela negação do sistema. Como afirma o pesquisador Edwar de Alencar Castelo Branco, “o diferencial desses fanzines temáticos, em relação àqueles doutrinários, está principalmente no fato de submeter a noção de autor a um delírio: a partir de um tema, como a insônia, por exemplo, o zineiro força diferentes expressões artístico-literárias a expressarem seu estado de espírito”.
Fanzines na sala de aula? Como?
Resultados, em grande parte, da rebeldia adolescente, os fanzines podem se tornar um importante veículo de comunicação com diferentes segmentos da juventude. Uma das chaves para isso, segundo a pesquisadora Ioneide Santos do Nascimento, é tentar não pedagogizá-los, ou seja, não tentar torná-los veículos de controle, impondo aos seus construtores uma noção de ‘certo’ e ‘errado’, ‘bom’ ou ‘mau’, ‘bonito’ ou ‘feio’.
Através da união entre palavras e imagens, possibilitada pelos fanzines, é possível ao professor estabelecer um diálogo entre as linguagens visual e falada, levando o aluno a compreender, através de um veículo familiar a ele, a relação com as diferentes formas de comunicação. Uma estratégia possível de aplicação desse instrumento como recurso pedagógico seria a produção de fanzines em sala de aula. Práticas como estas, ainda concordando com Ioneide Nacimento, possibilitam ao educando conhecer a diversidade de opiniões entre seus próprios colegas. Permite, também, que os estudantes “assumam seu papel de sujeitos nesse processo e se envolvam com mais entusiasmo em um projeto que cada dia se torna mais autônomo”.
Dessa maneira, pode-se perceber que a utilização na escola de um instrumento de comunicação juvenil, tido como “marginal”, pode, para além de certos preconceitos existentes em seu entorno, tornar o jovem mais afeito das atividades escolares, trazendo para o campo de discussão, suas ideias, opiniões e pensares, por vezes negligenciados no trabalho docente.
Edwar de Alencar Castelo Brancohistoriador pós-moderno, autor do livro Todos os Dias de Paupéria, professor de Pós-Graduação em História do Brasil e vice-reitor da Universidade Federal do Piauí (UFPI), Teresina, PI.
Fábio Leonardo Castelo Branco Britomestrando em História do Brasil pela Universidade Federal do Piauí, Teresina, PI.
Fagno da Silva Soareshistoriador, professor de história do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA) e SEEDUC, Açailândia, MA.
www.professoredgar.com

A História das Coisas (capitalismo, produção, consumo, política e meio ambiente)

Assista ao vídeo em LEIA MAIS.
Existe uma relação entre esse filme e a corrupção que existe no Brasil?  Existe uma relação entre esse vídeo e a destruição da vida do planeta  e das pessoas? Existe uma relação entre o que se mostra nesse filme e a exploração capitalista sobre os países? Existe uma relação entre o que se mostra nesse filme e a miséria, pobreza, fome, violência e doenças que afetam as pessoas?  há uma relação entre esse filme e a corrupção que estamos vivenciando no Brasil na relação entre empresas, governos, políticos, e o sofrimento do povo.


Da extração e produção até a venda, consumo e descarte, todos os produtos em nossa vida afetam comunidades em diversos países, a maior parte delas longe de nossos olhos.
Enviado em 8 de mai de 2011. Enviado por Michel Cunha.
youtube.com/watch?v=7qFiGMSnNjw
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Desmanches: a sociedade se reparte e adoece


Não há como evitar a existência do poder. Organizar a sociedade é fundamental. O importante é pensar que há muitas formas de escolher caminhos. Lembrem-se dos romanos desconsiderando os povos bárbaros, das fundações da democracia grega e moderna, das utopias do século XIX, da sede de conquista de Hitler. São sugestões de projetos diferentes. Há extravagâncias autoritárias, fraquezas na socialização, sonhos ditos impossíveis. Nunca faltaram vazios, nem insatisfações. Tudo tem um toque de instabilidade. Observe como foi o movimento de 1930 no Brasil, a ditadura de Stalin na União Soviética, a loucura de Nero na antiguidade, a opressão de Portugal no escravismo.
Cenário aberto para polêmicas que propagam. Há quem deseje a volta doa militares, outros torcem pela afirmação das práticas nazistas. A confusão é imensa. A democracia aparece como preciosa. Teríamos equilíbrio, liberdade de opinião, o coletivo agindo sem censura. Mas há questões inesquecíveis. Na sociedade moderna, as composições são efetivamente democráticas? As sociabilidades se modificam, as críticas se renovam. No entanto, as explorações se foram da história? As rivalidades morreram e a corrupção desapareceu? O silêncio é impossível diante de tantas perguntas.
A Revolução Industrial moveu a produção, introduziu o trabalho assalariado, criou mercados internacionais. Esperava-se o crescimento de lugares sem desigualdade. O Estado cuidaria de romper com o passado opressivo. E as mobilizações revolucionárias? O que houve com a Comuna de Paris? Por que colonizar a Ásia e a África? O que significou a China na época de Mao? A democracia virou pó, escondeu-se ou ainda se espera alguma coisa? O mundo se encontra numa tensão constante. A violência existe nos Estados Unidos, na Síria, na França, em todo canto. Não é excepcional, nem um fenômeno que abala apenas os tempos atuais. O que fazer? Não há como sentir sossego?
Mudam as astúcias, mas as disputas não dispensam massacres. Há uma corrida para se aperfeiçoar as armas. Portanto, nada de diálogo que fertilize a reflexão e combata os desacertos contínuos. O Brasil tem uma história marcada pelo autoritarismo. Getúlio Vargas instalou o Estado Novo, Médici persegui seus adversários usando a repressão, Dilma sofreu com as articulações que a derrubaram. Questiona-se a possibilidade de se compartilhar a vida, sem celebrar o individualismo e expandir as ambições. O pecado nos mete medo e nos condena a navegar no pântano? Deixemos as lendas de fora e  encaremos as incompletudes. O paraíso é um perfume da imaginação.
A aflição aperta corações e mentes. Não há como trazer magias insuperáveis. Tudo lembra desafio. Freud definiu a força do inconsciente. Não é só o corpo que adoece com frequência. E as psicopatias, a negação do outro, as bombas mortais, a ciência aliada à tecnologia da destruição? Construir a ideia de progresso é uma falácia. Há recomeços, desistências, fracassos. A memória traça desenhos de profundos desastres e genocídios assombrosos. Por isso que os cansaços aparecem, os salvadores inventam mitos, a sociedade se reparte em grupos hostis. Não é sem razão que os sentimentos podem enlouquecer e os sentidos se transformarem em esqueletos horrendos.
De;Astucia de Ulisses/ Paulo Rezende
Professor Edgar Bom Jardim - PE

sexta-feira, 5 de maio de 2017

PL do trabalho rural “revoga a Lei Áurea”, diz procurador

canavial
Projeto ignora reais condições do trabalho no campo e pretende estender a jornada para 12 horas


Caso avance na Câmara dos Deputados, o PL 6442/2016 – que altera a regulamentação do trabalho rural – pode significar o maior retrocesso da história do País quando se fala em trabalhadores, uma perda de direitos ainda mais severa do que aquela pretendida pela reforma trabalhista. “Esse projeto revoga a Lei Áurea”, resume o procurador-geral do Trabalho, Ronaldo Fleury.
O projeto, de autoria do presidente da bancada ruralista na Câmara, deputado Nilson Leitão (PSDB-MT), foi protocolado em novembro na Casa e constituído para não “sobrecarregar” o texto da já polêmica reforma trabalhista. É uma espécie de filhote do PL mãe.
O principal ponto é a possibilidade do trabalhador rural receber "remuneração de qualquer espécie", o que significa que o empregador rural poderá pagar seus empregados com habitação ou comida, e não com salário. A remuneração também poderá ser feita com parte da produção e concessão de terras.
Esse projeto de lei significa uma volta ao passado, significa levar o trabalhador de volta ao século XIX, quando se trabalhava em troca de comida”, compara Antônio Lucas, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores Assalariados e Assalariadas Rurais (Contar).
Assim como a reforma trabalhista, este projeto de lei reforça pontos como a prevalência do negociado sobre o legislado, a jornada intermitente e a exclusão das horas usadas no itinerário da jornada de trabalho.
Casa e comida?
Ronaldo Fleury, que atua há cerca de 20 anos no combate ao trabalho escravo, explica que o projeto de lei tenta legalizar requisitos que hoje são considerados justamente para determinar se um trabalhador está em condição análoga à de escravo. “Fazer pagamento com comida e moradia é uma das condições que a gente coloca como escravidão moderna, a escravidão por dívida”, compara.
“Evidentemente, fazer um pagamento só com casa e comida não faz sentido”, concorda Otávio Pinto e Silva, sócio do setor trabalhista do escritório de advogados Siqueira Castro e professor de Direito Trabalhista na Universidade de São Paulo. Ele lembra que a Constituição Federal trata dos direitos dos trabalhadores urbanos e rurais e, em seu artigo sétimo, enumera uma série de direitos, incluindo o salário mínimo. “O salário mínimo não é definido pela lei do trabalho rural e o que esse PL muda é exclusivamente a lei do trabalho rural”, reforça. 

Segundo o advogado, o salário mínimo, por sua vez, é definido pela CLT e tem que ser composto por uma série de benefícios que estão atrelados a esse valor, entre eles, alimentação e moradia. Mas esses são alguns dos componentes. A CLT, quando fala no pagamento em bens e produtos, afirma que pelo menos 30% da remuneração tem que ser em dinheiro. “Por uma combinação do que está na CLT e do que está no texto da Constituição, eu entendo que não é possível estabelecer uma remuneração só com casa e comida”, reforça o advogado trabalhista.
O PL, porém, contempla esses limites, pois afirma que só poderão ser descontados do empregado rural o limite de 20% pela moradia e 25% pela alimentação. Isso torna, então, o projeto constitucional?
Fleury, procurador-geral do Trabalho, diz que não. “O que a CLT fala é que a remuneração pode se dar, além do pagamento em espécie, com produtos e outras formas de benefício. Agora, quando o fornecimento da moradia e da comida são condições essenciais para a realização do trabalho, não pode ser uma forma de remuneração”, explica.
Um exemplo é o executivo que tem como parte de sua remuneração um carro. “Ele ganhou o carro para fazer o trabalho ou por ser diretor? Não é condição essencial”, compara o procurador-geral. “A realidade do meio rural é o latifúndio. Há fazendas em que a cidade mais próxima fica a 300 quilômetros, não tem como o trabalhador ir para casa. Então a moradia é condição para que a pessoa trabalhe lá”, conclui.
A parte mais interessada nessa história, a dos trabalhadores rurais, ouviu do autor do projeto uma explicação inusitada e que pouco tem a ver com o que diz a Constituição ou a CLT. “O deputado Nilson Leitão disse que entendemos errado, que o que ele quer é presentear o trabalhador no fim da safra com parte da produção”, conta Antônio Lucas, presidente da Contar.
Para Lucas, um presente real seria a retirada do projeto de lei. Um segundo presente, uma ação para reduzir a informalidade, que passa dos 60% entre os trabalhadores do campo. “Queremos nossos direitos como estão na lei, o salário combinado. Do jeito que está esse projeto não temos nem como sugerir emendas”, afirma. 
Jornada estendida
A perda de direitos não para por aí. O texto prevê jornadas de até 12 horas e o fim do descanso semanal, uma vez que passa a ser permitido o trabalho contínuo por até 18 dias. Fica permitida, ainda, a venda integral das férias para os trabalhadores que residirem no local de trabalho e o trabalho em domingos e feriados sem a apresentação de laudos de necessidade.
Hoje, a jornada rural segue a mesma regra da urbana, limitada a 44 horas semanais. No campo, para essa conta fechar, são turnos de oito horas de segunda a sexta e de quatro horas aos sábados. Mas quando se fala em trabalho rural – uma atividade braçal e muitas vezes ao ar livre – oito horas já são extenuantes. Por isso, como explica Antônio Lucas, são comuns acordos de jornadas de 36 horas semanais, especialmente no plantio e na colheita. “Daí ir para 12 horas é um completo absurdo”.
Para Otávio Pinto e Silva, alterar jornada e descanso semanal desconsidera segurança e medicina do trabalho. “Fazer uma prestação de serviços contínua, sem a previsão do descanso e em longas jornadas é algo que, caso uma lei dessas venha a ser aprovada, certamente poderia ser contestada no Supremo Tribunal Federal por inconstitucionalidade”.
Isso porque, segundo o advogado, o mesmo artigo sétimo da Constituição, que trata dos direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, determina a limitação da jornada, intervalo e descanso semanal remunerado.
cortador de cana
PL coloca interesse econômico na frente do interesse da manutenção da vida, diz procurador
Mercado sobre a vida
Na opinião de Pinto e Silva, a existência de um projeto de lei como o 6442/2016 mostra a articulação da bancada ruralista para reduzir o custo do trabalho no setor rural. “Evidentemente, isso é um recado: existe a possibilidade desse Congresso, com a composição hoje existente, estabelecer mecanismos de contratação que se mostrem mais adequados para atender as necessidades do empregador.”

Uma lei dessas, ainda segundo o advogado, eliminaria a chances de um trabalhador buscar seus direitos na Justiça. Mesmo mantendo seus empregados na informalidade, o empregador teria defesa em caso de reclamação trabalhista, já que a jornada e o descanso, por exemplo, estariam de acordo com a lei.
“É um processo de desconstrução do direito social. É tratar a sociedade como uma máquina, apenas sob o ponto de vista econômico”, defende Ronaldo Fleury. Para ele, sob essa ótica, os direitos sociais se tornam empecilho para que a máquina funcione.
“Então tira-se aposentadoria, direitos trabalhistas e criam-se formas de contratação que desnaturam totalmente o direito do trabalho. Com isso, se desmonta o direito social até o ponto de alguém ter coragem de apresentar um projeto nesse patamar”, afirma se referindo ao PL do deputado Nilson Leitão. “Primeiro assegura-se a colheita e depois vamos ver se sobrou algum trabalhador vivo. Isso é botar o interesse econômico na frente do interesse da manutenção da vida”, conclui o procurador-geral. 
Carta Capital
Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 18 de abril de 2017

Por que há uma explosão de obesidade no Brasil?


ObesidadeDireito de imagemISTOCK

A cada cinco brasileiros, um está obeso. Mais da metade da população está acima do peso. O país que até pouco tempo lutava para combater a fome e a desnutrição, agora precisa conter a obesidade. Por que a balança virou?
Indicadores apresentados na segunda-feira pelo Ministério da Saúde mostram que, nos últimos 10 anos, a prevalência da obesidade no Brasil aumentou em 60%, passando de 11,8% em 2006 para 18,9% em 2016. O excesso de peso também subiu de 42,6% para 53,8% no período.
Os dados são da Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), com base em entrevistas realizadas de fevereiro a dezembro de 2016 com 53.210 pessoas maiores de 18 anos de todas as capitais brasileiras.
Especialistas ouvidos pela BBC Brasil atribuem o aumento de peso dos brasileiros a fatores econômicos e culturais, mas também genéticos e hormonais.

Novos padrões alimentares


RefrigeranteDireito de imagemTHINKSTOCK
Image captionO consumo de refrigerante caiu no Brasil, de acordo com o ministério da Saúde

Para o diretor do Centro de Obesidade e Síndrome Metabólica do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Cláudio Mottin, a tendência de aumento da obesidade já vinha sendo verificada antes da pesquisa Vigitel, realizada anualmente desde 2006.
"Talvez um dos fatores mais preponderantes seja a mudança dos hábitos alimentares que se observa desde os anos 1970. Com pouco tempo para comer, as pessoas deixaram de fazer as refeições em casa e passaram a optar por comidas mais rápidas e mais calóricas".
Essa mudança de hábito também aparece na pesquisa Vigitel: o consumo regular de feijão, considerado um alimento básico na dieta do brasileiro, diminuiu de 67,5% em 2012 para 61,3% em 2016. E apenas um entre três adultos consomem frutas e hortaliças em cinco dias da semana.

Aumento do trabalho e da renda


Arroz e feijãoDireito de imagemMARIAMARMAR/GETTY
Image captionUma dieta diversificada é importante para combater a obesidade, assim como o consumo de produtos não industrializados

O aumento da obesidade coincide com um período de crescimento do poder de compra dos brasileiros, incentivado por políticas econômicas e programas de distribuição de renda.
Segundo uma pesquisa do instituto Data Popular, a renda da classe média, que representa 56% da população, cresceu 71% entre 2005 e 2015, sendo que a renda dos 25% mais pobres foi a que mais aumentou. Assim, a chamada classe C passou a ter acesso a produtos antes restritos à elite. Além disso, ao se inserir no mercado de trabalho, o brasileiro acaba incorporando hábitos menos saudáveis, como os já citados por Mottin.
"Não surpreende o alto índice de obesidade na faixa etária entre os 25 e os 44 anos, porque isso corresponde justamente a essas mudanças no estilo de vida, quando os jovens deixam de depender de seus pais e passam a ter uma rotina mais voltada à carreira profissional", pondera a endocrinologista Marcela Ferrão, pós-graduada em nutrologia e membro da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso).
A Vigitel mostrou que o excesso de peso aumenta significativamente da faixa etária dos 18 aos 24 anos (30,3%) para a dos 25 aos 44 anos (50, 3%). Há uma alta prevalência de obesidade nessa faixa etária: 17%. Considera-se obesidade Índice de Massa Corporal (IMC) igual ou maior que 30 kg/m2 e excesso de peso IMC igual ou maior que 25 kg/m2.

Genética 'gorda'

A questão genética também cumpre um papel relevante para o aumento da população obesa, segundo o médico Cláudio Mottin. Segundo ele, o organismo de nossos antepassados não estava adaptado para a fartura e passaram para nós a genética de retenção de calorias.
"Quando os tempos eram de escassez de alimentos, quem tinha mais condições de defesa corporal eram as pessoas mais gordinhas, porque tinham mais condições de armazenamento de energia. No momento em que temos alimentos à disposição sem esforço, a genética joga contra", explica o especialista.
Além disso, colabora para a proliferação dessa "genética gorda" também um aspecto cultural, que associava gordura a saúde até recentemente, como aquele discurso da vovó que diz que o neto "está doente se está magrinho".

Noites mal dormidas


SonoDireito de imagemTHINKSTOCK
Image captionA vida conectada e acelerada prejudica o sono, que pode afetar o peso

A endocrinologista Marcela Ferrão também atribui a baixa qualidade do sono como um dos fatores para o aumento da obesidade. Segundo ela, a sociedade acelerada e conectada faz com que as pessoas não tenham horário para dormir.
"À noite, a serotonina, que é o hormônio do humor, se converte em melatonina, responsável pelo sono reparador. Nesse estágio do sono, as células conseguem mobilizar gorduras de forma adequada", explica.
Mas não tem sido fácil chegar a esse estágio do sono quando a tensão e o estresse estão cada vez mais intensos, a pessoa não consegue desligar o celular e acorda várias vezes durante a noite.
Isso gera um desequilíbrio hormonal que reduz a capacidade do corpo de produzir glicose, a pessoa acorda ainda mais cansada e sente a necessidade de consumir alimentos mais energéticos", conclui Ferrão.

Dieta variada

Um último ponto destacado pelos especialistas para o aumento da obesidade no Brasil é a falta de acesso a uma dieta diversificada, o que depende menos de poder aquisitivo do que de educação alimentar.
Nesse sentido, o Guia Alimentar para a População Brasileira se destaca entre as políticas do Ministério da Saúde para enfrentar a obesidade. A publicação oferece recomendações sobre alimentação saudável e consumo de alimentos in natura ou minimamente processados, mas vai além: coloca a hora da refeição no centro de uma discussão sobre convivência familiar e gestão do tempo.
"Os alimentos ultraprocessados são muito consumidos pela população jovem porque são práticos. Outro problema é o comportamento alimentar. É muito comum as pessoas comerem rápido, sozinhas e com celular na mão. Estudos mostram que comendo com família ou amigos, a pessoa presta mais atenção no que está comendo", diz a coordenadora-geral de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde, Michele Lessa de Oliveira.
A Vigitel apresenta um dado positivo sobre o consumo regular de refrigerante ou suco artificial, que caiu de 30,9% em 2007 para 16,5% em 2016. Mas o Ministério da Saúde quer mais. "Nossa meta é reduzir em 30% o consumo de refrigerante pela população adulta até 2019 e aumentar em 17,8% o consumo de frutas e hortaliças", adianta Michele.

Riscos à saúde


Balança
Image captionO aumento da obesidade no Brasil foi de 60% nos últimos dez anos

O crescimento da obesidade é um dos fatores que podem ter colaborado para o aumento da prevalência de diabetes e hipertensão, doenças crônicas não transmissíveis que pioram a condição de vida do brasileiro e podem até levar à morte.
O diagnóstico médico de diabetes passou de 5,5% em 2006 para 8,9% em 2016 e o de hipertensão de 22,5% em 2006 para 25,7% em 2016, conforme a Vigitel. Em ambos os casos, o diagnóstico é mais prevalente em mulheres.
"A obesidade é a mãe das doenças metabólicas. Além da diabetes, que apresenta mais de 20 fatores de comorbidade (doenças ou condições associadas), obesos infartam mais e até câncer é mais prevalente em pessoas acima do peso", destaca o diretor do Centro de Obesidade da PUCRS, Cláudio Mottin.
O Ministério da Saúde pretende reduzir as taxas de mortalidade prematuras em 2% ao ano até 2022. Doenças cardiovasculares, respiratórias crônicas, diabetes e câncer respondem por 74% dos óbitos anuais no Brasil.
Professor Edgar Bom Jardim - PE